RELATO
DE CASO
A
influência da plataforma vibratória na melhora do equilíbrio e prevenção de
quedas de uma mulher pós-menopáusica com osteopenia
The influence of the vibration platform in improving balance and preventing
falls in a postmenopausal woman with osteopenia
Alexandre de Souza e
Silva, D.Sc.*, Ferdinando Tadeu Gomes Moreira**, Anna Gabriela Silva Vilela
Ribeiro**, Fábio Vieira Lacerda, M.Sc.*, Ronaldo Júlio Baganha, M.Sc.*, Luís
Henrique Sales Oliveira, D.Sc.*
*Professor
do Centro Universitário de Itajubá (FEPI), **Graduados em Educação Física
Centro Universitário de Itajubá (FEPI)
Recebido em 26 de
dezembro de 2015; aceito em 30 de dezembro de 2015.
Endereço
de correspondência:
Alexandre de Souza e Silva, Av. Dr. Antônio Braga Filho, 687 Bairro Varginha
37501-002 Itajubá MG, E-mail: alexprofms@yahoo.com.br, ferdicampos@gmail.com;
Ferdinando Tadeu Gomes Moreira: nellfit.academia@bol.com.br; Anna Gabriela
Silva Vilela Ribeiro: annagsvr@hotmail.com; Fábio Vieira Lacerda:
doc_fabio2004@yahoo.com.br; Ronaldo Júlio Baganha: ronaldobaganha@yahoo.com.br;
Luís Henrique Sales Oliveira: lhfisio@yahoo.com.br
Resumo
Osteporose e
osteopenia são doenças que reduzem a densidade dos ossos, deixando-os mais
propensos a fraturas. A aplicação de exercícios de equilíbrio estático pode
melhorar a capacidade funcional e o equilíbrio em idosos. Além disso, os
exercícios melhoram a qualidade de vida e previnem quedas. O objetivo deste
estudo foi analisar a influência da plataforma vibratória na melhora do
equilíbrio e na prevenção de quedas em uma mulher pós-menopáusica com
osteopenia. Foi recrutada para a pesquisa uma mulher com 84 anos de idade.
Foram realizados testes de equilíbrio funcional através da Berg Balance Scale (BBS).
O protocolo consistia em uma rotina de treino de 6 semanas, variando a
intensidade de frequência na plataforma. O resultado observado foi a melhora de
equilíbrio após a intervenção. Conclui-se que a plataforma vibratória pode
colaborar na prevenção de quedas em mulheres pós-menopáusicas com osteopenia.
Palavras-chave: educação física e
treinamento, doenças ósseas metabólicas, equilíbrio postural.
Abstract
Osteporose and osteopenia are diseases that reduce the density of bones,
making them more prone to fractures. The application of static balance
exercises can improve functional capacity and balance in the elderly. In
addition, exercise improves quality of life and prevents falls. The aim of this
study was to analyze the influence of the vibration platform in improving
balance and preventing falls in a postmenopausal woman with osteopenia. An
84-year old woman was recruited to this research. Tests of functional balance
using the Berg Balance Scale (BBS) were carried out. The protocol consisted of
a 6-week training routine by varying degrees of frequency intensity in the
platform. We observed improvement in balance after intervention. We concluded
that the vibrating platform can help to prevent falls in post-menopausal women
with osteopenia.
Key-words: physical
education and training, bone diseases, metabolic, postural balance.
A população idosa vem
aumentando a cada ano. Esse fenômeno é comum em todo o mundo, inclusive no
Brasil. Ao envelhecer, o indivíduo está exposto a quedas e, consequentemente, à
perda da funcionalidade. Em função disso, é importante reduzir a perda da massa
óssea, diminuindo, assim, os riscos inerentes à idade [1,2].
Osteoporose e
osteopenia são diagnosticadas pela perda da massa óssea. São doenças crônicas
que muitas vezes não possuem sintomas, que podem levar a fraturas, prejudicando
o dia-a-dia do idoso [3]. As mulheres na pós-menopausa são acometidas com mais
frequência [4-5], pois o sistema reprodutor feminino desempenha um papel
importante na formação e reformulação do esqueleto [6]. Com a chegada da
menopausa, a secreção principalmente do estrógeno diminui e, como consequência,
temos uma rápida perda óssea em decorrência também da falta de vitamina D [7].
Porém, aspectos genéticos, intrínsecos e ambientais também influenciam no
metabolismo ósseo, e um dos fatores não farmacológicos que mais contribuem para
a manutenção e desenvolvimento ósseo são os exercícios físicos [8].
A prática constante
de exercício físico de força e/ou de equilíbrio traz benefícios efetivos para a
qualidade de vida de mulheres pós-menopausa com osteoporose, podendo ser um
meio para prevenção de quedas [9].
O exercício na
plataforma oscilante e vibratória vem sendo utilizado para a prevenção de
fraturas e osteoporose [10]. O programa de treinamento, por meio das
plataformas vibratórias podem impedir o aparecimento de sarcopenia e
osteoporose, podem estimular a produção dos hormônios anabólicos, que promovem
o aumento da força e da massa muscular, além de melhorar a coordenação
neuromuscular [11].
O efeito do exercício
na plataforma vibratória pode estimular a formação óssea, pelo fato da mesma
oferecer uma tensão mecânica ao indivíduo que fica sobre a superfície
oscilante, assim há evidências que esse método contribua para o aumento da
densidade óssea, força muscular e o equilíbrio em idosos, e poderia ser uma
alternativa para aqueles indivíduos que não apresentam condições físicas para
suportar exercícios vigorosos e de resistência [12], sendo a plataforma
vibratória menos exaustiva e estressante quando comparamos com outros programas
de treinamento [13].
O equilíbrio é um
agravante ao risco de quedas em idosos, principalmente aqueles com osteoporose
devido à regulação e a adaptação do centro de gravidade [14,15]. O ganho de
massa muscular e o aumento da força reduz a perda óssea e contribuem para a
diminuição dos índices de queda [16,17]. Evidências demonstram os efeitos dos
programas de treinamento de força na melhora da capacidade funcional [5,18,19].
Um programa de treinamento com a plataforma vibratória pode melhorar a força e
o equilíbrio, o que reduz os fatores de riscos, no entanto temos poucos estudos
que analisam os efeitos da plataforma vibratória no equilíbrio e na diminuição
do risco de quedas. O objetivo do estudo foi analisar a influência da
plataforma vibratória na melhora do equilíbrio e na prevenção de quedas em uma
mulher pós-menopáusica com osteopenia.
Seleção
da amostra
Foi recrutada para o estudo,
uma pessoa do gênero feminino, pós-menopausa com osteopenia na coluna lombar e
no fêmur direito. As características estão descritas na tabela I. Para iniciar
o programa, o indivíduo não poderia apresentar trombose aguda, doenças
sistêmicas, úlceras, prótese articular ou de membro inferior, fino ou parafuso,
hérnia, discopatia ou espondilose grave, epilepsia, e neoplasia. Deveria estar
sedentária no mínimo há 6 meses e apta a participar de um programa de
treinamento. O programa de 6 semanas foi realizado numa cidade do Sul de Minas
Gerais. O indivíduo assinou o termo de consentimento que foi lido, esclarecendo
todos os riscos e benefícios a que estaria exposto durante a pesquisa. O
projeto nº151 foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário
de Itajubá - FEPI e está de acordo com a Resolução nº 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde.
Tabela
I - Características gerais do indivíduo da
pesquisa antes e após o programa de treinamento na plataforma vibratória.
Instrumentos
Utilizou-se uma
plataforma vibratória da marca Nova Plate® (Brasil), medindo 75 x 75 cm [20]. A
massa corporal e a estatura foram medidas por uma balança e um estadiômetro da
marca Filizola® (Brasil), modelo W 300 com classe de exatidão III. O percentual
de gordura corporal foi analisado por meio das dobras cutâneas, coletadas
utilizando um compasso científico da marca Cescorf® (Brasil) com pressão
constante de 10G/mm² e precisão de leitura de 0,1 mm [21,22]. Para avaliação
antropométrica, foi utilizada uma fita métrica metálica da marca Cescorf®
(Brasil) [21].
O teste de
densitometria óssea foi realizado na Clínica Sul Mineira Tomosul. O estudo
densitométrico foi realizado em um densitômetro modelo Dexa-Lunar Expert®
(USA). A tecnologia DEXA faz uma varredura do sítio em análise e registra, por
meio de um sensor de estado sólido, a potência do feixe de raios-x com
componentes de duas quilovoltagens, captando a radiação e transmitindo o valor
digital para o computador. Um sistema algébrico linear soluciona as duas densidades,
tecidos moles e constituintes minerais ósseos e determina a área em cada ponto
da matriz. A densitometria mineral óssea resulta da integração do constituinte
mineral ósseo, seguida da divisão do valor integrado pela área total [23,24].
Procedimentos
A paciente
selecionada para a pesquisa passou por uma avaliação de equilíbrio funcional no
início e no término da pesquisa por um profissional de Educação Física. O
método aplicado foi o Berg Balance Scale (BBS), usado para avaliar as
habilidades de equilíbrio. Esse método consiste em realizar tarefas, posições e
movimentos similares ao da vida cotidiana. Cada tarefa possui uma escala
ordinal de cinco alternativas que variam entre 0 a 4 pontos e a pontuação
máxima que pode ser alcançada é de 5 pontos. A escala é usada para analisar o
progresso clínico e a eficácia da intervenção, sendo um teste de fácil e rápida
aplicação [25].
A composição corporal
foi avaliada pelo teste IMC [26], e para verificar a RCQ utilizou-se a
circunferência da cintura, que foi medida colocando uma trena abaixo das
últimas costelas e acima da cicatriz umbilical. Para a medida do quadril,
posicionou-se a trena na área de maior protuberância glútea e dividiu-se a
circunferência da cintura pela circunferência do quadril [27].
Foi realizada uma
avaliação antropométrica e o protocolo utilizado para verificar o percentual de
gordura foi o de Pollock e Jackson, com três dobras cutâneas (tricipital,
supra-íliaca e coxa) [21,22,28].
O protocolo de
treinamento consistiu em uma rotina de atividades na plataforma vibratória. Nas
duas primeiras semanas, durante 5 minutos, a plataforma vibratória foi colocada
na intensidade de frequência 10 Hz (medida em Hz, a taxa de repetição das
oscilações). A partir do 5° min, aumentou-se a frequência para 20 Hz, até
completar 10 minutos. Da terceira até a quarta semana iniciou-se a atividade de
plataforma vibratória na frequência de 15 Hz, por 5 minutos. A partir do 5°
minuto, aumentou-se a frequência para 20 Hz até completar 10 minutos e depois
mais 5 minutos na frequência 25 Hz. Da quinta até a sexta semana, iniciou-se a
atividade de plataforma vibratória na frequência 20 Hz, por 5 minutos. A partir
do 5° minuto, aumentou-se a frequência para 25 Hz até completar 10 minutos. Em
seguida, ficou mais 5 minutos na frequência 30 Hz, conforme figura 1 [20].
Figura
1 - Descrição do protocolo de treinamento.
Análise
dos dados
O delineamento da
pesquisa pretende determinar a influência da plataforma vibratória na melhora do
equilíbrio e na prevenção de quedas em uma mulher pós-menopáusica com
osteopenia.
Os dados da pesquisa
foram analisados quantitativamente, e os resultados das características
antropométricas da voluntária foram calculados com a massa corporal, altura, perimetria
corporal, IMC, RCQ, idade e o teste de equilíbrio. As diferenças nos dados
antropométricos e no risco de queda foram analisadas por percentual.
Resultados
Após o treinamento de
6 semanas na plataforma vibratória, a paciente diminuiu o risco de quedas de
32% para 4%, conforme figura 2. Os valores identificados pela escala de
equilíbrio de Berg e o percentual de diferença são apresentados na tabela II. O
risco de queda apresentou uma melhora de 87,5%. A paciente aumentou a massa
magra em 5,30% e diminuiu a gordura corporal em 4,60%. Os resultados das
diferenças de percentual das características antropométricas estão demonstrados
na tabela III.
Figura
2 - Redução do risco de quedas após 6 semanas de
programa de treinamento na plataforma vibratória.
Tabela
II -
Diferença em percentual dos resultados
antes e após programa de treinamento na plataforma vibratória.
Tabela
III
- Características antropométricas antes e
após programa de treinamento na plataforma vibratória.
O estudo analisou a
influência da plataforma vibratória na melhora do equilíbrio e na prevenção de
quedas em uma mulher pós-menopáusica com osteopenia. Observou-se uma diminuição
no risco de quedas após 6 semanas de treinamento. Os resultados são semelhantes
ao estudo de Teixeira et al. [5], que
apresentou, após 18 semanas de treinamento com exercícios funcionais
(propriocepção e equilíbrio) e fortalecimento do quadríceps, melhora do
equilíbrio estático e dinâmico e ganho de força no músculo do quadríceps. Essa
melhora contribuiu para diminuir o risco de quedas em mulheres com osteoporose
pós-menopausa. O estudo de Madureira et
al. [29] com 66 mulheres com osteoporose pós-menopausa submetidas a um
treinamento de equilíbrio de 12 meses, uma vez por semana, apresentou efeitos
que evidenciaram melhoras significativas no equilíbrio e mobilidade, levando a
uma redução de quedas e melhorando a qualidade de vida. Os resultados
demonstram os benefícios que os exercícios de equilíbrio e força proporcionam
no risco de queda.
O estudo de Gusi,
Raimundo e Leal [10] demonstrou que o método de plataforma vibratória, que
contemplou 3 sessões por semana durante 8 meses, com 6 séries de 1 minuto, com
frequência de 12,6Hz e 3 cm de amplitude com 60° de flexão de joelho, com 1
minuto de intervalo foi mais efetivo para melhorar a densidade mineral óssea
(DMO) do quadril e equilíbrio quando comparado com 55 minutos de caminhada e 5
minutos de alongamento pelo mesmo período de treinamento. O estudo de Lai et al. [30] encontrou, em um período de
6 meses, realizando exercícios na plataforma vibratória, com alta frequência e
magnitude, efeitos significativamente positivos para a densidade mineral óssea
da coluna lombar em mulheres pós-menopausa.
No estudo de Bogaerts
et al. [13], observou-se uma melhora
não só da força muscular mas também da capacidade cardiorrespiratória em idosos
que passaram por um período de um ano submetidos ao treinamento pela plataforma
vibratória.
Weber-Rajek et al. [11], no seu estudo de revisão da
literatura sobre os efeitos dos exercícios na plataforma vibratória em
indivíduos com osteoporose pós-menopausa, constataram que a maioria dos artigos
selecionados para análise obtiveram resultados positivos quanto a esse método,
no entanto, quando esse tipo de treinamento é comparado com algum tipo de
exercício físico, a plataforma vibratória é contestada, já que não apresenta
marcadores diferenciais de renovação óssea do que o encontrado em um exercício
físico.
Porém sugere-se que
treinamentos por esse meio seja encorajado, já que tem uma característica não
exaustiva e que não gera tanto estresse para o organismo em relação aos demais
treinamentos de condição física tradicionais, mesmo com essa sugestão são
necessários maiores esclarecimentos, para se comprovar que o ganho encontrado é
suficiente para melhora constante da qualidade de vida [13].
Após o treinamento, a
paciente também apresentou ganho de massa muscular e reduziu a gordura
corporal, que alteraram as medidas antropométricas, aumentando a circunferência
dos membros inferiores e superiores. Batista et al. [20] analisaram os efeitos
do treinamento com plataformas vibratórias e observaram a relação da diminuição
da gordura corporal, que se dá pelo gasto calórico gerado pelas contrações
musculares involuntárias do treinamento com vibração, estimulando a
musculatura, podendo aumentar a massa magra, mudando assim as características
antropométricas.
Conclui-se que o
treinamento na plataforma vibratória durante 6 semanas pode melhorar o
equilíbrio e aumentar a força, o que leva à diminuição dos riscos de quedas em
mulheres pós-menopáusicas. O programa pode diminuir a gordura corporal e
aumentar a massa muscular. Sugerem-se estudos com uma amostra maior e um
período de treinamento ampliado em relação ao estudo em questão.