REVISÃO
Influência
da hidroginástica/hidroterapia no equilíbrio postural em idosos
The influence of water aerobics/hydrotherapy on postural balance in
elderly
Daniella Oliveira
Sousa*, Ana Lúcia Rodrigues de Souza*, Alexandra Carolina Canonica**, Angelica
Castilho Alonso***
*Pós-graduadas
pelo curso Fisiologia e Biomecânica do Aparelho Locomotor: Reabilitação e
Treinamento do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo HCFMUSP, **Pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
HCFMUSP, ***Pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento do Hospital das
Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo HCFMUSP, Docente
do Programa de Pós-graduação em Ciências do Envelhecimento da USJT, São Paulo/SP
Recebido em 13 de
março de 2017; aceito em 12 de abril de 2017.
Endereço
para correspondência:
Angelica Castilho Alonso, Rua Ovídeo Pires de Campos, 333 Cerqueira Cesar
05403-010 São Paulo SP, E-mail: angelicacastilho@msn.com; Daniella Oliveira
Sousa: dany_toko@hotmail.com; Ana Lúcia Rodrigues de Souza:
aninha9ana@hotmail.com; Alexandra Carolina Canonica: accanonica@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: A hidroginástica
apresenta característica da ginástica e trabalha o sistema cardiorrespiratório,
enquanto que a hidroterapia com propriedades terapêuticas atua principalmente
na reabilitação de doenças reumáticas, ortopédicas e neurológicas. Os dois tipos
de atividade trazem turbulência a água e consequentemente necessidades de
ajustes posturais para manter-se em pé. Objetivo:
Realizar uma revisão na literatura sobre a influência da
hidroginástica/hidroterapia no equilíbrio postural de idosos. Métodos: Foi realizado um levantamento
de estudos a partir das bases de dados Lilacs, Scielo e Pubmed com os
descritores: idosos, reabilitação, fisioterapia, equilíbrio postural e
hidroterapia, hidroginástica, no período de 2007 a 2014. Após uma criteriosa
seleção por título, resumos e leitura na íntegra dos trabalhos foram
selecionados 16 artigos científicos. Resultados:
Os resultados deste estudo nos permitiu observar que a prática da
hidroginástica/hidroterapia influencia na manutenção e melhora do equilíbrio
estático e dinâmico de idosos, porém não houve diferenças significativas,
quando comparado com práticas realizadas em solo, no que se refere manutenção
do equilíbrio e diminuição do risco de quedas. Conclusão: Os estudos apresentados indicaram que há um efeito positivo
da prática de atividades físicas sobre o equilíbrio postural de idosos tanto em
água quanto em solo.
Palavras-chave: idoso,
reabilitação, Fisioterapia, equilíbrio postural, hidroterapia.
Abstract
Introduction: Water aerobics is similar to land aerobics, but focus also in cardiac
training. While hydrotherapy is the use of water with therapeutic effects and
primarily operates in the rehabilitation of rheumatic, orthopedic and
neurological disorders. The two types of activity bring turbulence water and
consequently proper posture is needed to remain standing. Objective: To carry out a literature review on the influence of
water aerobics/hydrotherapy on postural balance in the elderly. Methods: We conducted a survey study
from Lilacs, Scielo and Pubmed
databases with the key words: elderly, rehabilitation, physiotherapy, postural
balance and hydrotherapy, water aerobics, during 2007-2014. After careful
selection by title, abstracts and full reading of the works, sixteen scientific
studies were selected. Results: The
results of this study allowed us to observe that the practice of water
aerobics/hydrotherapy influence in the maintenance and improvement of static
and dynamic balance of the elderly. However, there was no significant
difference, when compared to land aerobics, related to balance maintenance and
reduction of falling risk. Conclusion:
The studies indicated that there is a positive effect of physical activity on
postural balance in elderly both in water and in land.
Key-words: aged,
rehabilitation, physiotherapy, postural balance, hydrotherapy.
Como acontece com
outros países em desenvolvimento, o Brasil enfrenta um rápido envelhecimento de
sua população, com cerca de 20,6 milhões acima de 60 anos de idade e
aproximadamente três milhões acima de 80 anos. Estima-se que em 2025 a
população idosa deverá chegar a 32 milhões. A expectativa de vida ao nascer é
de 67,3 anos para os homens e 75,2 para as mulheres [1].
Desta maneira há uma
crescente preocupação com a qualidade de vida e funcionalidade destes idosos,
isto porque o envelhecimento humano caracteriza-se por período de
vulnerabilidade e perdas funcionais, comprometendo os diferentes órgãos e
sistemas [2].
A
manutenção da
postura é um desafio constante para o corpo humano, pois demanda
um sistema
capaz de responder com rapidez e eficiência a
perturbações, mesmo em situações
instáveis, evitando quedas e mantendo o equilíbrio. A
posição do corpo em
relação ao espaço é determinada pela
integração das funções visual, vestibular
e sensório-motor [3]. Durante o movimento, é
necessário um controle do centro
de gravidade do corpo enquanto este se desloca sobre sua base de apoio,
e de
níveis adequados de força dos membros inferiores para
manutenção do equilíbrio
estático e dinâmico [4].
Teixeira et al. [5] citam que áreas do sistema
nervoso central (SNC) são submetidas a processos degenerativos com o
envelhecimento e as habilidades responsáveis pelos ajustes posturais são
afetadas. Esses mecanismos estão diretamente ligados à manutenção do equilíbrio
e quando comprometidos a uma tendência a déficit sensório-motor, deterioração
do sistema vestibular, da acuidade visual, além da sarcopenia, diminuição da
massa óssea levando a algumas doenças como, por exemplo, osteopenia/osteoporose.
Devido a estas
alterações o idoso está mais sujeito a quedas que o resto da população. Elas
não são consequências inevitáveis do envelhecimento, mas quando ocorrem
sinalizam o início de fragilidade ou anunciam uma doença aguda. Constituem-se
em um dos principais problemas clínicos e de saúde pública, devido à sua alta
incidência, com as consequentes complicações para a saúde e com os altos custos
assistenciais, além de causarem incapacidades e até mesmo a morte [6-8].
Com o envelhecimento
populacional tem se buscado, por meio de diferentes tipos de exercícios e/ou
práticas corporais os mais indicados para melhorar o equilíbrio, prevenindo
assim as quedas e suas consequências [9]. Há necessidade de investimentos e
pesquisas com exercícios físicos e/ou práticas corporais que possam auxiliar
uma velhice saudável, dentre estas atividades estão a
hidroginástica e a hidroterapia.
A água é mais uma
opção para a prática de exercício físico e é certamente um meio diferenciado e
bastante apropriado para pessoas idosas, permitindo o atendimento em grupos e a
facilitação da recreação, socialização e treino de domínio da água com
movimentos básicos de técnicas aquáticas, que, associadas à funcionalidade,
melhoram a autoestima e a autoconfiança do idoso [9].
As propriedades
físicas da água auxiliam ainda mais os idosos na movimentação das articulações,
na flexibilidade, na diminuição da tensão articular (baixo impacto), na força,
na resistência, nos sistema cardiovascular e respiratório, no relaxamento, na
eliminação das tensões mentais, possuem componentes como: a flutuação, pressão
hidrostática e a resistência da água, que de maneira integrada favorece a
melhora do retorno venoso, trás menor impacto nas articulações e maior amplitude
de movimento nos exercícios [9,10].
A hidroginástica com
característica da ginástica trabalha o sistema cardiorrespiratório, melhorando
o condicionamento aeróbio do indivíduo. Enquanto que a hidroterapia com
propriedades terapêuticas atua principalmente na reabilitação de doenças reumáticas,
ortopédicas e neurológicas. No entanto, é preconizado que nos dois tipos de
atividade traz turbulência a água e consequentemente necessidades de ajustes
posturais para manter-se em pé.
Assim o objetivo do
estudo é realizar uma revisão na literatura sobre a influência da
hidroginástica/hidroterapia no equilíbrio postural de idosos.
Trata-se de um estudo
de revisão de literatura realizado com artigos científicos sobre
hidroginástica/hidroterapia no equilíbrio postural a partir das bases de dados
Lilacs, Scielo e Pubmed.
Para levantamento dos
dados no presente estudo, foram utilizados os descritores: idosos,
reabilitação, fisioterapia, equilíbrio postural e hidroterapia, hidroginástica
no período de 2007 ao atual limitado ao idioma português e inglês. Foram
incluídos estudos realizados no Brasil e no exterior com idosos, contendo
textos completos e tema compatível ao pesquisado.
A partir desses
critérios, foram identificadas 75 publicações pelo título. A primeira seleção
foi retirar a duplicidade nas bases de dados, das quais sobraram 73 artigos.
Destes, após a leitura do resumo foram excluídos 48 artigos, pois não abordavam
o tema. Sobraram 25 artigos, que foram lidos na integra e excluídos aqueles que
não atendiam ao objetivo. Ao final do levantamento, totalizaram-se 16 artigos
científicos (figura 1).
Figura
1 - Organograma da seleção dos estudos.
Após criteriosa
análise foram selecionados 15 artigos sobre os programas de hidroterapia/hidroginástica
na influência de equilíbrio postural de idosos realizados no Brasil e em outros
países.
Quadro
1 – Artigos selecionados. (ver PDF em anexo).
Este estudo teve como
objetivo analisar a influência da hidroterapia/hidroginástica no equilíbrio
postural em idosos. Foram avaliados 15 artigos, em 13 artigos houve melhora no
equilíbrio dinâmico e estático ou em outras capacidades que auxiliam na
manutenção do mesmo. Somente em dois estudos de Texeira et al. [5] e Antes et al.
[19] não houve nenhum resultado significante em praticantes de hidroginástica,
pois como não houve outro grupo para comparar não foi possível ter uma análise
real desses resultados.
Quatro estudos
compararam grupos de hidroterapia com grupos controle [7,12,13,17]
e concluíram que os grupos de hidroterapia melhoraram o equilíbrio quando
comparados com os controles, no entanto estes resultados parecem óbvio, pois os
grupos controles não realizaram nenhuma atividade. Trata-se de um desenho
experimental equivocado e atualmente se discute que incluir um grupo controle e
não oferecer nenhum tratamento é adequado em relação aos aspectos éticos.
No estudo transversal
de Martins et al. [17], os participantes do grupo
controle estavam inativos no mínimo a seis meses, e os indivíduos praticantes
de hidroginástica e karatê, já praticavam a modalidade pelo menos há dois anos.
Entre os indivíduos praticantes de atividade física regular, não houve nenhuma
diferença significativa nos aspectos que influenciam no equilíbrio dos idosos,
estes grupos obtiveram pontuações elevadas na escala de Berg, quando comparados
aos inativos, podendo constatar um maior risco de quedas em idosos sedentários.
Esta diferença entre
praticantes de atividade física e sedentários pode ser observada no estudo de
Cunha et al. [13] no qual foram avaliados idosos
que não praticavam nenhuma atividade física e que receberam intervenção de
hidroginástica e atividades em solo por oito semanas e foram avaliados pré e
pós-intervenção. O resultado do estudo mostrou que o medo do risco de quedas, o
tempo de execução do teste de equilíbrio dinâmico TUG e a escala de qualidade
de vida melhoraram significativamente.
Em contrapartida, o
trabalho de Teixeira et al. [5] um único grupo foi analisado, sendo
este composto por indivíduos que já praticavam atividade física e que
utilizaram a hidroginástica como prática de intervenção. Nesse estudo não houve
nenhuma diferença significativa pré e pós-intervenção.
Este resultado vai de
encontro a outros cincos estudos que compararam grupos que realizaram
hidroterapia com aqueles que realizaram exercícios no solo Almeida et al. [4], Avelar et al. [14], Berganin et al. [16], Berger et al. [10] e Mann et al.
[7].
Segundo os resultados, ambos os grupos aumentaram o equilíbrio sem diferenças
significativas entre eles. No estudo de Martins et al. [17] pode-se observar que tanto o grupo de praticantes de
karatê como o grupo de praticantes de hidroginástica obtiveram escores bastante
satisfatórios próximos da pontuação máxima que é de 56 na escala de Berg. O
mesmo não ocorreu com o grupo de inativos que apresentou escores inferiores aos
ativos e foram classificados como propensão considerável a quedas, por meio do
escore total abaixo de 45 pontos. Isso pode ser explicado pelo fato de que
idosos sedentários apresentam uma musculatura mais fragilizada decorrente das
degenerações causadas pelo fator da idade. Outros mecanismos responsáveis pelo
equilíbrio postural, como os sistemas vestibulares, visuais e proprioceptivos,
também se alteram com o envelhecimento, diminuindo a capacidade de modificações
dos reflexos adaptativos. Os resultados desses estudos comprovaram a
importância da atividade física na manutenção do equilíbrio postural,
independente da modalidade.
Bruni et al. [12] em seu estudo diz que o
envelhecimento está associado à perda gradual de massa muscular, força,
potência e flexibilidade. Esse fato contribui para uma diminuição da
mobilidade, agilidade e funcionalidade, o que está diretamente relacionado com
a perda de equilíbrio. No resultado foi observada uma melhora significativa na
força muscular e potência da maioria dos músculos avaliados nos idosos que
praticaram hidroterapia, tendo como um fator importante a
resistência que a água promove durante a realização dos movimentos. Bergamin et al. [16] em seu estudo teve como
objetivo avaliar a eficácia de um protocolo de exercício de 24 semanas
realizado em água de nascente geotérmica e solo, para melhorar a função física
em geral e massa muscular em um grupo de indivíduos idosos saudáveis e
encontrou em seus resultados a manutenção da força de membros inferiores,
igualmente como o grupo que realizou atividades em solo, não sendo a
hidroterapia significativamente melhor como proposto por Bruni.
No estudo de Almeida et al. [4] dois grupos foram avaliados,
indivíduos que fizeram ginástica em solo e outro que fez hidroginástica, os
resultados não mostraram diferença significativa entre eles, porém, a
capacidade de flexibilidade apresentou melhores resultados no grupo que fez
ginástica em solo. A flexibilidade tende a se deteriorar, dentre outros motivos
pelo encurtamento muscular causado pela menor quantidade de exercícios
realizados e pela rigidez aumentada dos tecidos conjuntivos. Neste estudo os indivíduos
que fizeram hidroginástica executaram ao final das sessões exercícios de
relaxamento, já o grupo solo realizou exercícios de alongamento, fator que pode
ter contribuído para este resultado.
Segundo Resende et al. [11], a multiplicidade de sintomas
como dor, fraqueza muscular, falta de equilíbrio, obesidade, doenças
articulares, desordens na marcha, dentre outras, dificultam a realização dos
exercícios em solo por idosos, e concorda com Almeida et al. [4] que afirma
que, no meio aquático, há diminuição da sobrecarga articular, menor risco de
quedas e de lesões. Além disso, a flutuação possibilita ao indivíduo realizar
exercícios e movimentos que não podem ser realizados no solo.
O estudo de Katsura et al. [15] e Resende et al. [11] enfatizam que exercícios resistidos em idosos fora da
água induz a lesão muscular, devido ao maior impacto que sofrem as
articulações. Diante disso o propósito do estudo foi avaliar idosos
utilizando equipamentos criados de resistência aquática comparando com grupo
que trabalhou na água sem o equipamento. O estudo conclui que exercícios com
equipamento melhoram as funções relacionadas ao equilíbrio, força, caminhada em
velocidade, com obstáculos sendo assim, pode auxiliar na prevenção do risco a
quedas.
Diante dessas
informações, pode-se verificar a importância da prática de atividades físicas
para os idosos, no que se refere à manutenção do equilíbrio postural tanto nas
atividades terrestres ou em água. No entanto, pode-se observar que a maioria
dos trabalhos não apresentam programas padronizados. Falta clareza na descrição
do exercício realizado, frequência, intensidade e duração dos mesmos.
O resultado deste estudo
nos permitiu observar que a prática da hidroginástica/hidroterapia influencia
na manutenção e melhora o equilíbrio estático e dinâmico de idosos, assim como
a prática de outras atividades fora da água pode ser benéfico para esta
capacidade física. Os estudos apresentados indicaram que há um efeito positivo
da prática de atividades físicas sobre o equilíbrio postural de idosos tanto em
água quanto em solo.