REVISÃO
Como
treinar força com segurança na terceira idade
How to use strength training with security in elderly people
Marcus Vinicius
Grecco, Ft.*, Rodrigo Juliano Dini, Ft.*
*Especialista
em neuromusculoesquelética pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo
Recebido em 24 de
agosto de 2015; aceito em 10 de dezembro de 2015.
Endereço
para correspondência:
Marcus Vinicius Grecco, Rua Coriolano, 846/44, Vila Romana, 05047-000 São Paulo
SP, E-mail: mvgrecco@ig.com.br
Resumo
Um programa de
treinamento de força bem elaborado pode resultar em melhoria da performance tanto nas atividades da vida diária quanto nas
atividades que exijam força muscular. Esta revisão da literatura tem como
objetivo verificar se o treinamento de força melhora os aspectos funcionais de
pessoas da terceira idade. Nos estudos analisados, observaram-se vários
benefícios gerais de um treinamento de força, entre eles: aumento da força
muscular, aumento das fibras musculares tanto do tipo I como do tipo II,
pequeno aumento da área de secção transversal, diminuição dos níveis de dor,
diminuição de gordura intra-abdominal, melhoria da motilidade gastrointestinal,
melhoria dos fatores neurais, aumento da densidade óssea, diminuição da
porcentagem de gordura, diminuição dos riscos de doenças cardiovasculares,
diminuição dos riscos de desenvolvimento de diabetes mellitus, diminuição de
lesões causadas por quedas, aumento da capacidade funcional, melhoria da
postura geral, aumento da motivação e melhoria da autoimagem, aumento da
agilidade, aumento da flexibilidade e aumento da resistência. A relação tende a
continuar à medida que outros estudos vão encontrando outros benefícios
importantes para a melhoria da qualidade de vida do idoso. Concluiu-se que o
treinamento de força é de fundamental importância no que diz respeito aos
aspectos funcionais das pessoas da terceira idade, sendo a força a principal
capacidade física que interfere na qualidade de vida.
Palavras-chave: reabilitação,
idoso, força.
Abstract
A successfull program of strength training may
improve daily routine performance of activities that require muscular strength.
This literature review aims at verifying if strength training improves functional
status of elderly people. The analyzed studies showed the general benefits of a
strength training program: increased muscular strength, a slightly increase in
muscular potential, in muscular fiber type I and II, indrease
of section transversal area, pain relief, lower abdominal fat, increase of
gastrointestinal motility, improvement in bone density, lower body fat
percentage, lower cardiovascular disease risks and diabetes mellitus, lower
risk of lesions caused by falls, increased functional capacity, improve
posture, high self-motivation and self-image, increased agility, flexibility
and resistance. The list of benefits will increase as other studies will
continue finding other important benefits to improve life quality of the
elderly. We concluded that a strength training program is fundamental for
improving functional status of elderly people, as physical capacity interferes
in quality of life.
Key-words:
rehabilitation, old, strength.
Segundo a
gerontologia, a senescência (processo natural do envelhecimento) é um fenômeno
fisiológico decorrente de alterações da atividade celular, e que acarreta ao
organismo a deteriorização de uma capacidade de manter o equilíbrio
homeostático. A senilidade está relacionada com as inúmeras afecções que podem
acometer os idosos devido ao processo de envelhecimento [1].
A Organização Mundial
da Saúde tem a seguinte classificação e nomenclatura relacionada ao
envelhecimento (terceira idade): Meia-idade,
indivíduos entre 45 e 59 anos; Idosos,
indivíduos entre 60 e 64 anos; Velhos,
indivíduos entre 65 e 90 anos e Muito
Velhos, indivíduos acima de 90 anos [2,3].
Os idosos constituem
um grupo caracterizado pela grande variação nas capacidades fisiológicas,
mentais e funcionais [4].
O uso do treinamento
de força para idosos é uma forma de diminuir o declínio das capacidades físicas
e da massa muscular relacionadas com a idade, que resulta em melhoria da
qualidade de vida [5,6].
Há centenas de
publicações de pesquisa sobre os benefícios de treinamento resistido para
pessoas acima dos 60 anos de idade, e vários destes estudos demonstraram que,
inclusive pessoas acima de 90 anos, podem obter ganhos de força muscular com
melhoria da saúde e da capacidade funcional, tornando-se mais entusiasmadas e
independentes [7].
Na
aplicação do
treinamento de força para este tipo de população
é necessário um profundo
conhecimento das alterações fisiológicas
associadas à idade e dos riscos deste
tipo de atividade em faixas etárias mais avançadas [8].
Uma investigação
através de minuciosa anamnese e avaliação
física, além de prévia aprovação
médica são fundamentais para a maior segurança e
certeza dos benefícios desta
atividade [9].
A falta de
condicionamento, inatividade física ou doença crônica resultam em uma
diminuição da força, potência, resistência e flexibilidade, promovendo um
decréscimo da capacidade funcional e das habilidades de executar atividades da
vida diária [5,6].
Capacidade funcional
é o nível de condicionamento necessário para uma pessoa cuidar sozinha das
necessidades domésticas, sociais e da vida diária. A melhoria dos componentes
da capacidade funcional (força, potência, resistência e flexibilidade) é de
extrema importância para manter o desempenho de atividades como subir escadas
ou levantar uma cadeira. Por exemplo: a força dos músculos extensores do
quadril é necessária para levantar, a partir da posição sentada; se esses
músculos perderem sua elasticidade, o gesto de caminhar será limitado, a
postura ficará errada, qualquer atividade terá maior gasto energético e
consequentemente fadiga precoce e desequilíbrio [2,5,6,10,11].
Hoje se sabe que o
treinamento de força tem um profundo efeito sobre a independência funcional e a
qualidade de vida de idosos acima dos cem anos [2].
Estímulo
à saúde
Estudos
epidemiológicos evidenciaram que as populações fisicamente ativas têm menor
incidência de muitas doenças e situações patogênicas, entre elas a hipertensão
arterial, a obesidade, o diabetes mellitus, a dislipidemia, a osteoporose, a
sarcopenia e também a ansiedade e depressão. Consequentemente, diminui a
ocorrência de aterosclerose e suas consequências: doença coronariana, doença
cerebrovascular e doença vascular periférica. Também diminui o confinamento no
leito devido a fraturas ósseas e incapacidade física grave, reduzindo-se a
mortalidade por infecções pulmonares e tromboembolismo.
Um aspecto importante
é que os estudos epidemiológicos não evidenciaram superioridade de nenhuma
forma de atividade física sobre outras, no que diz respeito à promoção de
saúde. Em publicação conjunta com o Centers
for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos da América, o American College of Sports Medicine reconheceu
em 1995 que as suas próprias recomendações para promoção de saúde, anteriores a
essa data, estavam incorretas. A entidade divulgava até então que os exercícios
aeróbios que aumentam o volume de oxigênio máximo eram preferenciais para
promoção de saúde. Atualmente consensos internacionais reconhecem que o
estímulo à saúde ocorre também com atividades anaeróbias e interrompidas, que
não aumentam o volume de oxigênio máximo.
Talvez os estudos não
tivessem a sensibilidade necessária para esclarecer esta questão, mas o fato
concreto é que atualmente não é possível afirmar que alguma atividade física
seja mais saudável do que outras. Por esta razão, as campanhas de saúde não
enfatizam a necessidade de uma forma particular de atividade física, mas a
importância de um estilo de vida não sedentário. Entende-se por atividade
física a contração muscular de qualquer tipo, que pode ou não levar ao
movimento, independente da finalidade: postura, trabalho, locomoção, esporte e
lazer. Desde que o gasto calórico seja superior à média diária de 200 kcal,
haverá redução na incidência de doenças. Exercício é conceituado como forma
especial de atividade física, planejada, sistematizada, progressiva e adaptada
ao indivíduo, sempre com o objetivo de estimular uma ou mais adaptações
morfológicas ou funcionais.
Outro aspecto
relevante é que os efeitos deletérios à saúde produzidos pelo sedentarismo são
lentamente progressivos. Pessoas jovens sedentárias não se apercebem dos
problemas, que são bastante evidentes no idoso. Esse fato justifica a atitude
médica de estimular a atividade física em todas as faixas etárias. Também é
importante notar que a motivação para a atividade física pode mudar com a faixa
etária, mas isto não afeta o efeito promotor de saúde [5,6,12,13].
Efeitos
metabólicos e qualidade de vida
Parâmetros de aptidão
como a potência aeróbia, medida pelo volume de oxigênio máximo, e a capacidade
aeróbia, medida pelo limiar anaeróbio, são mais eficientemente estimuladas
pelos exercícios aeróbios. Durante muito tempo, o volume de oxigênio máximo foi
considerado parâmetro de saúde, pela sua associação com menores incidências de
doenças crônicas, mas hoje se admite que essa relação seja apenas associativa e
não de causa e efeito. Pessoas melhoram a saúde quando fazem exercícios, e se
os exercícios forem de um tipo que aumenta o volume de oxigênio máximo podem
ocorrer conclusões indevidas. Os exercícios com carga têm pouco efeito no
volume de oxigênio máximo, mas estimulam bastante o limiar anaeróbio. Isto
ocorre porque o fortalecimento dos músculos permite que as tarefas sejam realizadas
com menor número de fibras. Assim sendo, o nível de produção energética que se
atinge com trinta por cento das fibras aumenta após o treinamento. Na vida
diária da maioria das pessoas o volume de oxigênio máximo não é utilizado no
seu limite máximo. Ao contrário, o limiar anaeróbio tem nítida relação com
qualidade de vida, pois as pessoas com baixo limiar fazem a maioria das tarefas
laborativas anaerobicamente, portanto com fadiga e desconforto [5,10,14,15].
Do ponto de vista
biomecânico, a qualidade de vida depende basicamente de força e flexibilidade.
Os exercícios com carga estimulam ambas as qualidades, os de alongamento apenas
a flexibilidade, e os aeróbios nenhuma delas em grau significativo. Graus
máximos de flexibilidade são necessários apenas para alguns atletas, e as
lesões articulares incidem mais nas pessoas mais flexíveis [16].
A homeostase
hemodinâmica nos esforços da vida diária e do trabalho físico, com pequenas
elevações da frequência cardíaca e da pressão arterial, depende basicamente da
força muscular. Pessoas fortes fazem as tarefas com menor número de fibras;
isto significa menor intensidade de esforço; consequentemente, menores
repercussões hemodinâmicas por mecanismos reflexos [5,11,17-20].
Considerações
sobre faixa etária
Pessoas idosas
costumam apresentar graus variados de processos degenerativos articulares e
vasculares, exigindo maiores cuidados na prática esportiva e nos programas de
exercícios terapêuticos ou de condicionamento físico. Muitos idosos são
sedentários há muitos anos, exigindo atividades iniciais muito suaves com lenta
progressão. Particularmente as perdas de massa óssea e muscular costumam ser
importantes nos idosos. Uma pessoa sedentária perde cerca de 10% de massa
muscular entre os 25 e 50 anos de idade, e cerca de 30% entre os 50 e 80 anos
de idade. A força, a resistência e a flexibilidade diminuem proporcionalmente à
massa muscular. Estudos mostram ganhos significativos na força isométrica e
isocinética depois de um programa de treino de força para idosos. A força na
terceira idade se origina mais de uma adaptação neuromuscular que do aumento da
fibra muscular, se comparada ao ganho de força em pessoas jovens, devido ao
decréscimo de secreção hormonal (testosterona) na terceira idade. Mulheres
idosas conseguem aumentar até 10% a massa muscular e até 200% a força, com
apenas alguns meses de treinamento com carga. Estes exercícios têm se mostrado
os mais eficientes para as necessidades dos idosos e também os mais seguros [6,7,11,13,17,21].
Sabe-se que a perda
de massa muscular ocorre tanto na musculatura lisa quanto na estriada.
Portanto, o sistema gastrointestinal, que é composto por musculatura lisa, é
favorecido pelo treinamento de força, tendo diminuição do tempo da passagem de
alimentos por este sistema, assim, evitando-se a incidência de câncer de colo.
É importante ressaltar que quando o indivíduo envelhece ocorre um excesso de
ingestão calórica com consecutivo aumento do depósito de gordura corporal. O
equilíbrio energético positivo e a falta de atividade física são os maiores
contribuintes para o aumento da porcentagem de gordura armazenada e para
diminuição da massa corporal magra no envelhecimento [6,7,11,13,17,21].
Outro ponto
importante para observarmos o motivo da atrofia muscular é o acúmulo de doenças
crônicas, tais como: osteoporose, diabetes, hipertensão, ateroesclerose,
depressão, incontinência urinária, uso de vários medicamentos e uma alteração
na secreção hormonal, e, por isso, os níveis de testosterona e hormônio do
crescimento estão muito baixos [6,7,11,13,17,21].
Teste
da força muscular
As três
características mais importantes que afetam o condicionamento muscular são o
sexo, a idade e o estilo de vida. O que realmente importa é a melhoria física
pessoal que permite que melhore a forma como o indivíduo se sente, o
funcionamento do corpo e até a sua aparência [4].
Teste
do agachamento
Essa avaliação visa
os músculos da coxa que são muito usados com regularidade e que nos fornece o
estado geral de nível de força em pessoas adultas. É um método prático que se
pode realizar em qualquer lugar, sem equipamento de peso. Como se emprega o
próprio peso corporal como carga, os resultados são personalizados e não
requerem cálculos matemáticos [4].
Procedimentos
de teste
Ficar de pé por cerca de 15 a 30 cm diante de uma cadeira. Os pés devem
estar afastados quase na largura dos ombros e os calcanhares devem permanecer
sobre o chão. Cruze os braços sobre o peito e agache devagar até o glúteo
encostar-se à cadeira sempre mantendo as costas eretas. Agache e levante,
sempre bem devagar e controlando o movimento para não se desequilibrar, quantas
vezes puderem e depois correlacione com a tabela de classificação de força [4].
Avaliação da força muscular
Depois de realizar a
maior quantidade possível de agachamentos de maneira confortável, compare esse
número com o da categoria apropriada, para avaliar o nível atual de
condicionamento de força. Por exemplo: um homem de sessenta e dois anos que
realiza dezesseis agachamentos apresenta um nível médio de condicionamento de
força em seus músculos da coxa e isquiotibiais; e uma mulher de cinquenta e
oito anos que realiza dezenove agachamentos possui um alto nível de
condicionamento de força no mesmo grupo muscular [4].
Tabela
I – Categorias de pontuação do teste do
agachamento (em repetições).
Fonte: Westcott [4].
Diretrizes
para determinar as cargas iniciais de pesos
Embora os níveis de
força possam variar entre os grupos musculares, o teste de avaliação de membro
inferior deve, em geral, fornecer um bom indicador a respeito do
condicionamento total. Quanto mais alto o nível de força, mais carga se usa
para iniciar os exercícios. Se a pontuação atingir uma média superior no teste,
o treinamento se iniciará com cargas maiores que no caso de pontuação média
inferior. Como diretriz geral cada categoria de condicionamento de força
envolve uma carga de treinamento com um quilo a mais que a da categoria
imediatamente inferior. Para níveis baixos de força deve-se reduzir a carga
inicial recomendada em quatro quilos ou mais [10].
Naturalmente as
cargas iniciais recomendadas se baseiam também na idade e no sexo, se todos
esses fatores forem considerados, as cargas sugeridas deverão ser adequadas,
embora, devido às diferenças individuais, algumas das cargas recomendadas
possam ser pesadas demais e outras possam ser muito leves. Se não for possível
completar pelo menos oito repetições no exercício, deve-se reduzir a carga. Se
for possível realizar mais do que doze repetições do exercício, sempre de forma
correta deve-se aumentar a carga. A carga deve ser suficientemente pesada para
que se sinta o esforço, mas não tão pesada que cause desconforto muscular. Se a
idade for muito avançada ou o estado físico estiver muito debilitado,
recomenda-se começar os exercícios de treinamento de força no nível mais baixo
e evoluir gradualmente. Mas caso o praticante tenha realizado treinamento de
força recentemente, podem ser as cargas sugeridas para o exercício que esteja abaixo
de sua capacidade. O praticante deverá sentir-se à vontade para usar mais carga
somente se realizar o exercício de maneira perfeita. Nunca se deve sacrificar a
técnica de treinamento em função de peso excessivo [4.10,19].
Conceitos
básicos pra um bom treinamento de força na terceira idade
Para a elaboração de
um programa de treinamento de força que realmente traga benefícios e seja
seguro e compatível com o idoso, os seguintes fatores devem ser lembrados.
O programa deve ser
individualizado e específico: Sempre há inúmeras variáveis que devem ser
consideradas na montagem do programa e cada uma delas varia entre os
indivíduos. Por exemplo, se o idoso tiver problemas de equilíbrio, deve
realizar o exercício sentado e em aparelhos de resistência, e/ou se o idoso
tiver dificuldade de ficar em pé, teremos que enfatizar no programa exercícios
de força nos músculos da coxa e paravertebrais [2].
A progressão no
volume e intensidade dos exercícios deve ser feita de maneira linear. A
progressão pode acontecer pelo aumento do número de séries ou de repetições,
pela diminuição dos intervalos entre as séries, pela execução de dois ou mais
exercícios para o mesmo grupo muscular, entre outros.
O uso de várias
posições para o mesmo exercício também desafia o corpo de maneira diferente e
também pode fazer parte da progressão do exercício. Por exemplo: na execução de
qualquer exercício na posição em pé há um aumento do trabalho muscular total,
quando comparado ao mesmo exercício executado na posição sentada. Na posição em
pé há um maior trabalho dos músculos dos membros inferiores, coluna do que na
posição sentada, além de uma maior compressão dos discos intervertebrais,
principalmente da coluna lombar. Isto mostra a importância de enfatizar a coluna
lombar com exercícios de fortalecimento e consciência postural antes de
prescrever exercícios na posição em pé, pois ela é um elo fraco de ligação
entre os membros superiores e inferiores no iniciante [2,8].
Quando a progressão é
feita bruscamente, o tecido muscular geralmente se adapta mais rápido que os
outros tecidos. Quando o indivíduo que se adaptou desta maneira começa a usar
sobrecargas maiores, o risco de lesões aumenta porque o músculo produz uma
tensão que os tecidos de conexão não têm a adaptação compatível para suportar [2,4,8,19].
Fazer a progressão da
intensidade e volume do exercício de maneira linear é de vital importância no
processo de adaptação. Somente desta maneira a adaptação será sistêmica, ou
seja, haverá uma adaptação não só do sistema muscular, mas de todo o sistema
musculoesquelético-articular, incluindo os tecidos de conexão. Esta adaptação
sistêmica é imprescindível para prevenir problemas como tendinites, bursites,
periostites e lesões como as avulsões, quando o treinamento já estiver em um
nível mais avançado. A sobrecarga dos aparelhos de fortalecimento muscular
aumenta de maneira muito brusca. Por exemplo, na mesa romana a primeira placa
pesa 4 kg e a segunda pesa 7 kg. Isto representa um aumento de 75% na intensidade,
que promove uma progressão muito brusca quando o indivíduo quer aumentar a
intensidade do exercício [2,4,8,19].
A ação de radicais
livres e o envelhecimento celular: A intensidade correta dos exercícios de
musculação e alongamentos, bem como uma dieta que suplemente corretamente as
principais vitaminas antioxidantes (vitaminas A, C e Beta Caroteno) ajudam a diminuir a ação dos radicais livres que afetam no
envelhecimento celular e aumenta o risco de doenças [21].
Os fatores de risco
como a obesidade, hipertensão, tabagismo, relação cintura-quadril, entre outros
devem ser levados em consideração para a segurança do exercício. Além disso,
vestimenta adequada é importante p/ um treino seguro e confortável e isso
envolve tênis antiderrapante, roupas folgadas conferindo liberdade de movimento
e boa transferência de calor evitando elevação de temperatura. Hidratação
adequada, pois o centro da sede no idoso perde a sensibilidade e para um bom
funcionamento muscular é preciso água, o músculo é formado por 80% de água, a
recomendação é de 8 copos diários. Área de exercícios
espaçosa, ventilada e bem iluminada confere segurança e conforto para se
treinar sem risco de lesão, o local não pode ser um amontoado de aparelhos e
gente, pois o idoso pode tropeçar em aparelhos e se desconcentrar com um
ambiente com muita bagunça [4,19-21].
Requerer a liberação
médica para este tipo de atividade para verificar se o idoso está apto ou não
para se engajar em um programa de treinamento de força. Após a liberação
médica, o segundo passo para a segurança do exercitante é a avaliação física
realizada pelo fisioterapeuta [14,18,20].
Não utilizar a
manobra de Valsalva ou respiração bloqueada: a expiração forçada contra a glote
fechada, como na manobra de Valsalva, aumenta a pressão intratorácica e impede
o retorno venoso ao coração. A respiração bloqueada durante o esforço aumenta a
pressão arterial [2,15].
Os exercícios
escolhidos devem trabalhar os grandes grupos musculares com uma média de 4 a 6
exercícios, mais 3 a 5 exercícios para grupos musculares menores e pelo menos
um exercício para cada principal grupo muscular. Os exercícios podem ser feitos
com pesos livres e ou com aparelhos. Na fase de adaptação, os aparelhos e
determinadas posições devem ser preferidos por diminuírem a exigência de
estabilização e consciência postural. Na escolha dos exercícios é importante
selecionar aqueles que têm menor risco de quedas com possíveis fraturas [2,10].
As ordens dos
exercícios devem seguir as seguintes fases: o aquecimento (bicicleta
estacionária ou caminhada na esteira), que pode durar de 5 a 10 minutos,
dependendo da temperatura ambiente, com a inclusão de alongamentos; a sessão de
fortalecimento propriamente dita, com ênfase nos grandes grupos e depois nos
pequenos grupos musculares; a volta à calma, que pode ser feita com recuperação
ativa e exercício de alongamento (músculos aquecidos se alongam mais fácil),
ligamentos, tendões e músculos são menos elásticos nos idosos devido à
diminuição de água no organismo, calcificação e substituição das fibras
elásticas por colágeno, por isso a importância de alongamentos em uma
programação [2,7,11,14,17,18,20].
Exercícios aeróbios
são importantes para aumentar a resistência cardiovascular e os benefícios do
treino de força, devendo-se fazer de maneira gradual 20 minutos ou mais de
exercícios de endurance, 3 vezes por semana com
intensidade moderada, podendo falar sem dificuldade durante o exercício
[,7,11,14,17,18,20].
A sobrecarga
utilizada varia com o estágio do treinamento e com o nível de condicionamento
prévio, mas os valores devem ficar entre cinquenta e oitenta por cento de uma
repetição máxima. Isto somente em trabalhos científicos como parâmetros de
avaliação, pois na prática diária é lesivo. Hoje, usam-se cargas relacionadas
ao percentual do peso corporal do exercitante e que possa ser levantado entre 8 e 12 repetições sem sentir desconforto e sem esquecer o
princípio da progressão [2,4].
O número de séries
depende de algumas variáveis, mas, de maneira geral, são realizadas duas a três
séries por exercício. Começar com uma série e avançar para três, em
concordância com o avanço das adaptações do idoso [2].
O número de
repetições deve variar entre 6
e 15 de acordo com as
variáveis. Não é indicada a
realização da série até a falha
concêntrica, pois
isto aumenta a pressão sanguínea e a frequência
cardíaca, principalmente com as
cargas entre 50 e 90% de uma repetição máxima.
Menores repetições
enfatizam mais força, enquanto o aumento das repetições enfatiza a resistência.
Para grupos especiais, como o da terceira idade, a faixa de repetições mais
segura é de oito a doze repetições [2,10].
Repetições acima de
quinze devem ser evitadas, pois gera um estresse cardiovascular e, menor de
seis, gera estresse articular [2,10].
Descanso entre as
séries e exercícios: O tempo de descanso tanto entre as séries quanto entre os
exercícios depende de muitas variáveis como nível de condicionamento, estado
nutricional, intensidade do exercício, entre outras. Em geral, quando a
intensidade do exercício já estiver próxima de 80% de uma repetição máxima, é
recomendável um descanso de 2 a 3 minutos [2,8].
Frequência dos
treinos: Esta deve variar de acordo com a intensidade do treinamento e com a
forma do programa. Por exemplo: programas nos quais é utilizada uma separação
dos grupos musculares trabalhados por dia podem ser feitos praticamente todos
os dias com uma média de 4 a 5 vezes por semana. Já os programas que trabalham
o corpo todo no mesmo dia devem ter um intervalo de pelo menos um dia entre as
sessões. Quanto maior a intensidade do treinamento maior deve ser o período de
recuperação para uma melhor recuperação tecidual (supercompensação)
proporcionando melhor hipertrofia. É importante ressaltar que a fase de
anabolismo pós-exercício do idoso é mais lenta do que a de um jovem. Se
aparecerem os sintomas de overtraining,
o período de recuperação pode estar curto demais [2,8-11].
O
princípio da
reversibilidade: As adaptações do treinamento permanecem
enquanto as demandas
fisiológicas e metabólicas continuam. A reversão
das adaptações começa dias
após a interrupção do treinamento. Uma vez que
certo nível de condicionamento é
atingido, uma mínima quantidade de exercícios regulares
é necessária para
manutenção das adaptações. Em geral, a
manutenção das adaptações do treinamento
requer menos exercício do que é necessário para
induzir as alterações iniciais.
Sendo assim, para o idoso a atividade física deve fazer parte
dos afazeres da
vida diária e deve perdurar enquanto for possível [2].
O princípio da
sobrecarga: o corpo se adapta à demanda fisiológica e metabólica do exercício,
com o tempo. As sobrecargas de treinamento devem progressivamente aumentar para
induzirem a contínua melhora das adaptações. No idoso esta sobrecarga não deve
ultrapassar de 80 a 90% de uma repetição máxima [2,4].
Periodização: a
periodização permite uma variação do treinamento, evita a desmotivação e ajuda
a prevenir o overtraining. Além
disso, permite um contínuo ajustamento do programa de treinamento em resposta
ao progresso do idoso ou a outros fatores com lesões e doenças [2,8,10].
A mudança nos
costumes alimentares para uma dieta balanceada e de qualidade, a interrupção do
hábito de fumar e/ou beber em excesso, bem como a importância que estas
alterações trazem para a saúde, devem fazer parte das orientações do
profissional ao idoso, no começo do programa de treinamento [14,18,21].
Programas
de treino em suas diferentes fases
Na fase principiante,
deve-se empregar cargas leves, exercícios fáceis de
execução (aparelho) e exercício por grupo muscular. Dar preferência aos
exercícios básicos (que abrangem muitos grupos musculares). Deve-se dar
importância nesta fase não à carga, mas sim a execução perfeita do exercício.
Treinar de duas a três vezes por semana.
Tabela
II -
Programa de treinamento da fase
principiante.
Fonte: Westcott [4].
Depois de um mês de
adaptação, aumenta-se o volume e a frequência, inserem-se exercícios livres com
halteres e eleva-se o número de séries para duas, de exercícios e a carga. Esta
é a fase intermediária. Para quatro treinos semanais, pode-se dividir o treino
em duas partes: treino A, pelas segundas e quintas: coxas, pernas e braços; e,
o treino B, pelas terças e sextas: costas, ombros, peito e abdome.
Quando o corpo já
está adaptado ao treino, aumentam-se o volume e a intensidade e passa-se a
realizar três séries de cada exercício, de três a quatro exercícios por grupo
muscular, seis a oito repetições devido ao aumento da carga pela adaptação
nervosa e hipertrofia muscular. Pode-se, também, dividir o treino em três
partes: A, segundas e quintas-feiras: peito e costas;
B, terças e sextas-feiras :ombro e braço; e C, quartas e sábados: coxa,
panturrilha e abdome. Esta é a fase avançada [4,10].
Realizou-se, em 1999,
um programa de treinamento resistido de alta intensidade (acima de 60% de uma
repetição máxima) com 100 indivíduos idosos. Os indivíduos foram divididos em
grupo controle e grupo de exercício. O programa resultou em significantes
ganhos de força e de capacidade funcional, além do aumento da atividade espontânea
(medida através de monitor de atividade), nos idosos que participaram do
programa, enquanto que, no grupo controle, não houve mudança. Concluiu-se que o
exercício pode minimizar ou reverter a síndrome da
fragilidade física que é tão prevalecente entre os idosos [17]. Este estudo
prova que não são somente os exercícios aeróbios, que aumentam o volume de
oxigênio máximo, os melhores para estimular a saúde. Center for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos e American College of Sports Medicine publicaram,
em 1995, que exercícios anaeróbios e intervalados, que não aumentam o volume de
oxigênio máximo, serviam também para promover a saúde, e que suas publicações
anteriores a esta data sobre recomendações à promoção de saúde estavam
incorretas.
Atualmente não é
possível afirmar que alguma atividade física seja mais saudável do que a outra.
Por essa razão, campanhas de saúde pública não enfatizam em particular uma
espécie de atividade física, mas sim o fim do sedentarismo [18].
Relata-se que antes
das citações do American College of
Sports Medicine, em 1995, os exercícios anaeróbios eram considerados
perigosos e muito intensos, não recomendados ao público idoso. Hoje se sabe que
ele pode ser suave, como no caso de uma sessão de musculação com peso
submáximo. Por outro lado, exercícios aeróbios (pedalar, correr) próximos ao
limiar anaeróbio podem ser considerados intensos, pois elevam a frequência
cardíaca de maneira considerável, podendo oferecer risco cardiovascular para
pessoas com doenças coronarianas às vezes subclínicas. É importante ressaltar
que se o idoso for impedido de realizar musculação devido a uma contraindicação
absoluta em relação à segurança de sua saúde, o idoso não poderá realizar mais
nenhuma outra programação de exercício [5,6,10,12,13,14,17,18].
Conclusão
Com os crescentes
estudos científicos relacionados aos exercícios resistidos, conclui-se que o
treinamento de força é de fundamental importância no que diz respeito aos
aspectos funcionais das pessoas da terceira idade, sendo a força a principal
capacidade física, que interfere na qualidade de vida. Deste modo, percebe-se a
importância de profissionais de Fisioterapia estar atualizando-se quanto aos
assuntos de treinamento de força: anatomia aplicada, cinesiologia, biomecânica,
fisiologia do exercício, reabilitação do movimento humano dentre outros.