Dentista na equipe multiprofissional de monitoramento de atletas: essencial para atenuar a gravidade das concussões da cabeça?

Resumo

Durante a 4ª Conferência Internacional sobre Concussão no Esporte realizada em 2012, na cidade de Zurique na Suiça, foi construída uma declaração de consenso sobre concussão no esporte, que se baseou em princípios descritos em documentos anteriores. Esse texto traz uma compreensão adicional sobre os riscos, o diagnóstico e a prevenção desse tipo de ocorrência no atleta amador ou profissional. Devido à importância do tema para a saúde dos praticantes de esportes, o documento é direcionado não apenas para os médicos, mas para todos os profissionais de saúde que estão envolvidos no atendimento preventivo e de reabilitação dessa população.

Sabemos que a ocorrência de concussão pode se dar em qualquer modalidade esportiva, com maior prevalência nos esportes de contato. Devido ao potencial risco de efeitos neurodegenerativos, ocasionado pela exposição recorrente a concussão de cabeça, é de grande importância que esta seja abordada de forma multiprofissional. Dentro da odontologia, os protetores bucais personalizados (PBP) podem ser uma ferramenta interessante para a redução dos efeitos neurodegenerativos decorrentes das concussões. Isso porque os PBP possuem propriedades biomecânicas de dissipação de forças decorrentes do impacto.

As concussões acontecem pelo processo de aceleração-desaceleração que ocorre após a ação das forças biomecânicas que são transmitidas ao tecido cerebral. O uso do PBP pode ajudar no controle da atividade muscular cervical, que fica aumentada com o trauma, auxiliando na redução da gravidade das concussões após o impacto. Além disso, o PBP pode distanciar o côndilo da mandíbula do contato direto com a fossa mandibular do osso temporal, evitando que esta região absorva toda a força do choque traumático.

Embora seja impossível eliminar todas as chances de haver um incidente que resulte em uma concussão durante a prática esportiva, é muito importante que sejam criadas estratégias para redução do número e da severidade dessa situação. Tanto a avaliação pré-participação como o acompanhamento pós-trauma deveriam seguir critérios mais rígidos, contando com a participação de odontólogos na equipe multiprofissional que acompanha os atletas. Essa interação multiprofissional possibilita benefícios adicionais tanto no âmbito preventivo quanto reabilitativo, como sugerido por Sacramento et al.

Outra estratégia que poderia ajudar a prevenir as concussões de cabeça é a realização de estudos observacionais transversais e longitudinais mais robustos que avaliem o perfil etiológico e epidemiológico dos traumas. Especialmente, no esporte juvenil, ainda existem poucas pesquisas que exploram esse tema, uma vez que a pesquisa nessa área foi mais direcionada a atletas adultos profissionais, onde a vigilância destas lesões é melhor realizada.

Finalmente, acreditamos que medidas educativas e de esclarecimento a atletas e treinadores, sobre a importância da inclusão do odontólogo na equipe multiprofissional, pode ajudar a evitar que as concussões de cabeça sejam mais prejudiciais, bem como que os atletas tenham uma recuperação pós-trauma de maior eficácia.