Importância da multidisciplinaridade na prescrição do exercício

Autores

  • Marvyn de Santana do Sacramento UNISBA
  • Victor Barbosa dos Santos FACOP
  • Jefferson Petto Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública

DOI:

https://doi.org/10.33233/rbfe.v19i2.4063

Resumo

O exercí­cio fí­sico (EF) é um instrumento para a promoção de saúde que apresenta como desfechos: melhora da capacidade funcional, prevenção e correção de agravos patológicos, melhora da percepção corporal, qualidade de vida e outros. Porém, o alcance desses benefí­cios envolve o conhecimento sobre múltiplos aspectos, muitas vezes não abordados na formação do profissional que trabalha com o movimento corporal [1].

Deter conhecimento sobre as nuances do EF é um item capital para a prescrição correta, mas, a contribuição de outras áreas define o ní­vel de assertividade da terapêutica. Se pensarmos no processo de reabilitação metabólica, por exemplo, o paciente que apresenta quadro de obesidade central, Diabete Mellitus tipo 2 e Dislipidemia possui grandes chances de ser beneficiado com o EF. Mas, a realização de um acompanhamento multidisciplinar permitiria a cobertura mais ampla dos aspectos clí­nicos deste paciente, agregando informações sobre a condição nutricional, endócrina e psicológica [1].

Pensando no aspecto nutricional, um dos elementos que poderiam influenciar o desfecho do EF é a orientação para uma dieta baseada em nutrientes capazes de combater agravos instalados ou repor substâncias ausentes. Seguindo esta linha, uma das orientações possí­veis seria o consumo de fitosterol, cuja suplementação em 2 g/dia vem sendo apontada como capaz de diminuir até 15% das lipoproteí­nas de baixa densidade (LDL). Além de reduzir um fator de risco independente para a doença aterosclerótica, outros cuidados podem ser tomados sobre o controle do estresse oxidativo e redução de massa gorda [2].

Ao considerar o DM como a doença de base neste caso e a sua extensa ligação com a função endócrina pancreática e metabólica, precisamos atentar para o acompanhamento com o médico especialista. As decisões tomadas por este profissional permitem manter as variáveis bioquí­micas em ní­vel ótimo, com acréscimo ou redução de fármacos para controle glicêmico e perfil lipí­dico. Porém, a janela terapêutica farmacológica deve ser compreendida pelo profissional do movimento, a fim de evitar intercorrências como a hipoglicemia durante ou após o exercí­cio fí­sico. Em segundo lugar, ressaltamos que a tomada de decisão em uma equipe não está isenta de ajustes para qualquer profissional, podendo ser modificada constantemente em função do desenvolvimento do paciente. Ainda sobre o exercí­cio e a glicemia, o mesmo é capaz de aumentar a captação de glicose, mediada pela translocação dos transportadores de glicose (GLUT-4) para o citoplasma [3].Desta forma, a aplicação de novas doses de medicação hipoglicemiante amplifica esse efeito, então, por que não discutir os horários de aplicação, dosagens, troca de fármacos ou quiçá sua remoção completa?

Não distante desta realidade, o paciente do caso hipotético ainda pode evadir o programa de reabilitação pela falta de acompanhamento famí­lia ou traumas anteriores ligados í  prática motora. Neste cenário, a permanência deste paciente depende quase exclusivamente do acompanhamento do psicólogo. O estudo de Turner et al. [4] a respeito da opinião de pacientes e enfermeiros sobre a participação destes profissionais no âmbito da reabilitação cardí­aca, demonstra um posicionamento favorável í  sua permanência. Porém, esta não é a realidade nos sistemas de atendimento, e são "justificadas" pelo custo e tempo reduzido em hospitais.

Esta ligação entre as diferentes profissões permite discutir as reais necessidades de medicações, dosagens do exercí­cio, carências nutricionais e psicológicas, o que diminui respectivamente o tempo de tratamento, riscos de intercorrências e abandono às intervenções [5]. Logo, esta deveria ser í  base dos sistemas de atendimento especializados. Compreendemos que fatores administrativos possam implicar no funcionamento harmonioso desse sistema e até torna-los mais onerosos, mas, considerando todas as implicações de um programa mal estruturado, um esforço nesta direção não seria a melhor opção? Seja ela por implementação ou indicação profissional.

Ademais, o segredo para boa atuação profissional não reside em ter pleno conhecimento e habilitação para atuar em diversas áreas da saúde, mas, na capacidade de identificar situações onde a terapêutica conjunta beneficie de forma expressiva a vida de cada paciente.

Biografia do Autor

Marvyn de Santana do Sacramento, UNISBA

ACTUS CORDIOS Reabilitação Cardiovascular, Respiratória e Metabólica, Salvador/BAl, Centro Universitário Social da Bahia, Salvador/BA, Fauldade do Centro Oeste Paulista, Bauru/SP

Victor Barbosa dos Santos, FACOP

ACTUS CORDIOS Reabilitação Cardiovascular, Respiratória e Metabólica, Salvador/BA,  Faculdade do Centro Oeste Paulista, Bauru/SP

Jefferson Petto, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública

ACTUS CORDIOS Reabilitação Cardiovascular, Respiratória e Metabólica, Salvador, BA, Brazil, Centro Universitário Social da Bahia, Salvador, BA, Brazil, Faculdade do Centro Oeste Paulista, Bauru, SP, Brazil, Faculdade Adventista da Bahia, Capoeiruçu, BA, Brazil, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil

Referências

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Vancea DMD, Vancea JN, Pires MIF, Reis MA, Moura RB, Dib AS. Efeito da frequência do exercí­cio fí­sico no controle glicêmico e composição corporal de diabéticos tipo 2. Arq Bras Cardiol 2009;92(1):23:30. doi: 10.1590/S0066-782X2009000100005

Turner KM, Winder R, Campbell JL, Richards DA, Gandhi M, Dickens CM et al. BMJ Open 2017;7:e017510. doi: 10.1136/bmjopen-2017-017510

Rosell L, Alexandersson N, Hagberg O, Nilbert M. Benefits, barriers and opinions on multidisciplinary team meetings: a survey in Swedish cancer care. BMC Health Serv Res 2018;18:249. doi: 10.1186/s12913-018-2990-4

Publicado

2021-10-18