Enferm Bras 2022;21(6):765-86
REVISÃO
Dimensões dos cuidados
paliativos entre familiares/cuidadores de pacientes oncológicos no contexto
domiciliar
Naelly Gonçalves do Nascimento*, Fernando
Conceição de Lima**, Letícia Gomes de Oliveira***, Elizabeth Teixeira****, Darlisom Sousa Ferreira, D.Sc.*****,
Juliana Conceição Dias Garcez******, Thalyta Mariany Rêgo Lopes Ueno, M.Sc.*******
*Acadêmica de enfermagem,
Universidade do Estado do Amazonas, Manaus/AM, **Enfermeiro, Residente em
enfermagem em Centro de Terapia Intensiva, Universidade do Estado do Pará,
Belém/PA, ***Enfermeira, Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em
Epidemiologia e Vigilância em Saúde, Instituto Evandro Chagas/ Secretaria de
Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde, Belém/PA, ****Enfermeira,
Pós-Doutorado Senior em Enfermagem, Professora
visitante da Universidade do Estado do Amazonas, Manaus/AM, *****Enfermeiro,
Professor na Universidade do Estado do Amazonas, Manaus/AM, ******Enfermeira,
doutoranda, Professora no Centro Universitário Metropolitano da Amazônia,
Belém/PA, *******Enfermeira, doutoranda, Professora na Universidade do Estado
do Amazonas, Manaus/AM
Recebido em 4 de fevereiro
de 2022; Aceito em 15 de novembro de 2022.
Correspondência: Leticia Gomes de Oliveira, Av.
Almirante Barroso, 492, Marco, 66090000 Belém PA, E-mail:
gomes_15_letici@hotmail.com
Naelly Gonçalves do Nascimento:
naelly.nascimento@bol.com.br
Fernando
Conceição de Lima: fernandoldl58@gmail.com
Letícia
Gomes de Oliveira: gomes_15_letici@hotmail.com
Elizabeth
Teixeira: etfelipe@hotmail.com
Darlisom Sousa Ferreira: darlisom@uea.edu.br
Juliana
Conceição Dias Garcez: juliana.garcez@famaz.edu.br
Thalyta Mariany
Rêgo Lopes Ueno: thalyta_mlopes@hotmail.com
Resumo
Introdução: Promover a qualidade de vida ao
usuário com diagnóstico de doença em estágio terminal e que necessita de
cuidados paliativos é uma forma de cuidar que ultrapassa a patologia de base,
com intervenção precoce dos cuidados paliativos, manejo adequado da dor,
condução do caso em concomitância com realidade biopsicossocial, cultural,
econômica e espiritual subjetiva. Objetivo: Analisar a produção
científica sobre as dimensões dos cuidados paliativos oncológicos em domicílio
para familiares/cuidadores. Métodos: Trata-se de uma revisão
integrativa, realizada nas bases de dados BDEnf, Lilacs, Medline e Scielo.
Utilizaram-se os Descritores em Ciências da Saúde: “cuidadores” AND “cuidados
paliativos” AND “domicílio”; cuidadores AND “cuidados paliativos” AND
“qualidade de vida”. Os critérios de inclusão foram artigos publicados no
período de 2015 a 2020, no idioma português, inglês e espanhol, disponíveis na
íntegra e que fossem pertinentes ao tema. Resultados: Dos 16 artigos
selecionados, foi possível identificar três categorias temáticas: I) Vivências
de familiares/cuidadores, II) Dificuldades enfrentadas pelos cuidadores nos
cuidados especializados e III) Qualidade de vida dos familiares/cuidadores. Conclusão:
As dimensões dos cuidados paliativos apontam necessidades dos familiares/cuidadores
no que tange ao apoio para que possam manter a qualidade de vida, refletindo
diretamente no bem-estar dos pacientes.
Palavras-chave: cuidados paliativos; cuidadores;
oncologia; serviços de assistência domiciliar; Enfermagem.
Abstract
Dimensions of palliative care among family members/caregivers of cancer
patients in the home context
Introduction: Promoting quality of life to users diagnosed with
terminal disease and requiring palliative care is a form of care that goes
beyond the underlying pathology, with early intervention of palliative care,
adequate pain management, conducting the case in concomitance with
biopsychosocial, cultural, economic and subjective spiritual reality. Objective:
To analyze the scientific production on the dimensions of palliative cancer
care at home for family members/caregivers. Methods: This is an
integrative review, carried out in the databases BDEnf,
Lilacs, Medline and Scielo. The Descriptors in Health
Sciences used: "caregivers" AND "palliative care" AND
"domicile"; caregivers AND "palliative care" AND
"quality of life". The inclusion criteria were articles published in
the period 2015 to 2020, in Portuguese, English and Spanish, available in full
and pertinent to the theme. Results: Betweeen
the 16 articles selected, we identify three thematic categories: I) Experiences
of family members/caregivers, II) Difficulties faced by caregivers in
specialized care, and III) Quality of life of family members/caregivers. Conclusion:
The dimensions of palliative care indicate the needs of family
members/caregivers regarding support so that they can maintain quality of life,
directly reflecting on the well-being of patients.
Keywords: palliative care; caregivers; medical oncology; home
care services; Nursing.
Resumen
Dimensiones de los cuidados paliativos entre los
miembros de la familia/cuidadores de pacientes con
cáncer en contexto eldel hogar
Introducción: Promover la calidad de vida de los usuarios diagnosticados con enfermedad terminal y que requieren
cuidados paliativos es una forma de atención que va más allá de la patología subyacente,
con intervención temprana de cuidados paliativos, manejo adecuado
del dolor, realización del caso en concomitancia con la realidad
espiritual biopsicosocial, cultural, económica y
subjetiva. Objetivo: Analizar la producción científica sobre las dimensiones de los cuidados
paliativos del cáncer en el hogar
para familiares/cuidadores. Métodos: Se trata de una revisión
integradora, realizada en las
bases de datos BDEnf, Lilacs, Medline y Scielo. Se utilizaron los Descriptores en Ciencias de la Salud: "cuidadores" Y "cuidados
paliativos" Y "domicilio"; cuidadores Y "cuidados
paliativos" Y "calidad de vida". Los criterios de inclusión fueron artículos publicados en el período 2015 a 2020, en portugués, inglés y español, disponibles en su totalidad
y que eran pertinentes al tema. Resultados: De los 16 artículos seleccionados, fue posible identificar tres categorías temáticas: I)
Experiencias de familiares/cuidadores, II) Dificultades
que enfrentan los
cuidadores en la atención especializada y III) Calidad
de vida de los familiares/cuidadores. Conclusión: Las
dimensiones de los cuidados paliativos indican las necesidades
de los familiares/cuidadores en
cuanto al apoyo para que puedan mantener la calidad de vida, reflexionando
directamente sobre el bienestar de los pacientes.
Palabras-clave: cuidados paliativos; cuidadores; oncología
médica; servicios de atención
de salud a domicilio; Enfermaría.
O câncer
é uma doença crônica não transmissível, caracterizado por um agrupamento de
alterações gênicas e epigênicas [1,2] e que, nas
últimas décadas, se tornou um problema de saúde pública mundial, e de encontro
a essa problemática ocorre o aumento das demandas hospitalares de atenção e
reabilitação, sendo necessário novas estratégias de cuidado em saúde [3].
Diante
desse cenário emerge o Cuidado Paliativo (CP), uma inovação no modo de cuidar
de pessoas em processo de finalização da vida, que se destaca por desenvolver
uma assistência diferenciada, que pode ser desempenhada tanto em nível
hospitalar, quanto na atenção básica de saúde em concomitância com o ambiente
domiciliar [4].
Promover
a qualidade de vida ao usuário com diagnóstico de doença em estágio terminal e
que necessita de cuidados paliativos é uma forma de cuidar que ultrapassa a
patologia de base, pois sua atenção está voltada para as contingências que
surgem em decorrência da doença e que ameaçam a continuidade da vida, como a
intervenção precoce dos cuidados paliativos, manejo adequado da dor, condução
do caso em concomitância com realidade biopsicossocial, cultural, econômica e
espiritual subjetiva de cada indivíduo [5].
Para que os CP sejam desenvolvidos com
eficácia e que atenda às necessidades da pessoa, família e comunidade que
anseiam por este serviço, este tipo de atendimento deve estar integrado com o
sistema de saúde do país – o Sistema Único de Saúde (SUS), em todos os níveis
de atenção, inclusive o domiciliar, como é observado na Política de Atenção
Oncológica [6].
Na
dimensão do cuidado paliativo domiciliar em oncologia, além do usuário que
experimenta o câncer, há também o familiar/cuidador (FC) que vivencia este
processo assumindo a responsabilidade maior do cuidado, desempenhando atividades
que demandam esforço físico, emocional e espiritual, mesmo sem receber nenhum
tipo de capacitação ou treinamento para desempenhar bem estas funções [7].
O CP é um
processo que além de ser desenvolvido pelos profissionais da saúde, recebem intensa
contribuição de familiares e/ou cuidadores que na maioria das vezes se
caracterizam como informais, ou seja, que cuidam mesmo sem preparo prévio e
que, por isso, muitas vezes, se deparam com conflitos mediante a doença, o
diagnóstico e o tratamento [8].
Outrossim,
os cuidadores apresentam dificuldades em desenvolver cuidados especializados
para com os pacientes em CP oncológicos [9], pois a tarefa do cuidar envolve
muitas atividades e conhecimentos necessários para a preservação do bem-estar
do doente [10], além disso, as necessidades desses cuidadores são
descredenciadas pelos profissionais de saúde e pelo próprio sistema de saúde,
ignorando o fato de que estes indivíduos encontram dificuldades físicas,
emocionais, econômicas e espirituais para lidar com essa nova realidade [11].
Nessa
perspectiva, é necessário abordar sobre essa temática, visto que as dimensões
que o CP oncológico causa no familiar/cuidador são fatores que contribuem ou
fragilizam a experiência do CP em domicílio, pois permite conhecer e avaliar o
desempenho dos papéis e funções que contribuem para uma assistência adequada,
tendo em vista melhorar e integrar o cuidado e o familiar cuidador [12]. Assim,
o presente estudo teve como objetivo analisar a produção científica sobre as
dimensões dos cuidados paliativos entre familiares/cuidadores de pacientes
oncológicos no contexto domiciliar.
Trata-se
de um estudo do tipo Revisão Integrativa da Literatura (RIL), escolhido para
este estudo por ser a mais abrangente abordagem metodológica referente às
revisões e por poder alcançar estudos experimentais e não-experimentais para
conferir o melhor entendimento dos fatos analisados, uma vez que é coordenada
de modo a identificar, analisar e sintetizar resultados de estudos individuais
sobre o mesmo assunto [13,14].
Para a
execução do estudo foram percorridas seis etapas distintas: 1) Elaboração do
tema e da questão de pesquisa; 2) Elaboração dos critérios de elegibilidade e
busca dos estudos na literatura; 3) Categorização dos estudos e extração dos
dados; 4) Avaliação dos estudos selecionados; 5) Análise e interpretação dos
resultados; 6) Descrição dos resultados e discussão [15].
A
pergunta norteadora deste estudo foi estruturada a partir da estratégia PICo, por permitir organizar e auxiliar na utilização de
palavra-chave de total interesse para a abordagem temática em questão,
facilitando a busca de estudos que conversem com a pesquisa levantada e
diminuindo o risco de viés a ser divulgado [16]; a representação do acrônimo
(P) se refere a população, (I) – fenômeno de interesse e (Co) – contexto [17],
ficando assim definida: quais as dimensões dos cuidados paliativos (fenômeno de
interesse) entre familiares/cuidadores de pacientes oncológicos (população) no
contexto domiciliar (Contexto)?
Deu-se
início a busca na literatura por estudos que compreendessem o resultado e
discussão desta revisão no Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS), abrangendo as seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
(Medline), Bases de Dados em Enfermagem (BDENF) e Scientific
Eletronic Library Online (Scielo) e que ocorreu no
período de agosto a dezembro de 2020.
Foram
utilizados, para busca dos artigos, os descritores indexados nos idiomas
português, inglês e espanhol, obtidos a partir dos Descritores em Ciências da
Saúde (DeCS),
utilizou-se o operador booleano “AND”
com as seguintes combinações de descritores:
“cuidadores” AND “cuidados
paliativos” AND “domicílio”; cuidadores AND
“cuidados paliativos” AND
“qualidade de vida” e “cuidadores” AND
“qualidade de vida” AND “domicílio”.
Foram
definidos como critérios de inclusão para seleção dos artigos: publicações no
período de 2015 a 2020, disponíveis na íntegra, que abordavam especificamente
orientações, cuidados e dificuldades enfrentadas pelos familiares e/ou
cuidadores de pacientes oncológicos sob cuidados paliativos em domicílio, no
idioma português, inglês e espanhol. O recorte temporal foi eleito devido ao
aumento das discussões sobre os cuidados paliativos em domicílio e o surgimento
de importantes publicações relativas ao tema nos últimos cinco anos [18]. Foram
excluídos teses, dissertações, artigos de revisão, capítulos de livros, livro,
pesquisas com acesso restrito, trabalhos apresentados em eventos, monografias,
relatos técnicos, artigos não disponibilizados na íntegra e estudos que não
tenham relação com o tema proposto.
Destaca-se
que os artigos repetidos nas bases de dados foram considerados apenas uma vez.
Além disso, visando a qualidade da revisão, a seleção dos artigos a serem
incluídos e analisados neste estudo, bem como a extração das informações
pertinentes foram feitas por dois revisores, de forma crítica e independente,
além de solicitado um terceiro revisor para emitir parecer sobre a inclusão ou
não dos estudos em caso de dúvida ou discordância.
Ao
utilizar a estratégia de busca proposta foram localizados inicialmente 1.134
artigos, aos quais foram aplicados os critérios de inclusão, restando 417
estudos, cujos títulos e resumos foram lidos para averiguar a adequação à
pergunta norteadora e ao objetivo do estudo, e destes, resultaram 72 artigos
para serem submetidos à leitura completa e exaustiva. Após essa etapa,
resultaram 16 artigos elegíveis para compor o conjunto de estudos definidos
nesta revisão, que apresentaram adesão ao tema de pesquisa. Conforme demonstra
o fluxograma na Figura 1.
Fonte:
Adaptado do modelo Prisma, 2009.
Figura 1 - Fluxograma com os resultados da
seleção dos artigos, Manaus/AM, 2021
Os
estudos foram avaliados quanto ao nível de evidência pela abordagem
metodológica que considera sete níveis segundo sua classificação: Nível I –
Revisão Sistemática com ou sem Metanálise de todos os
ensaios clínicos randomizados; Nível II – Ensaio Clínico Randomizado, bem
delineado; Nível III – Ensaio Clínico bem delineado, mas sem randomização;
Nível IV – Estudos de Coorte e Caso-Controle; Nível V – Estudos originários de
revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos; Nível VI – Evidências
derivadas de um único estudo descritivo e qualitativo; Nível VII – Evidências
oriundas de opiniões de autoridades e/ou relatório de comitês de especialistas
[14-19]. Contudo, na RIL foi considerado apenas os níveis de evidência de I a
V, visando melhor qualidade dos estudos.
Para
melhor exemplificar as informações encontradas nos estudos desta revisão,
utilizou-se o instrumento validado por Ursi [19], e
foram registrados os seguintes dados de interesse: autor, ano de publicação,
país de origem, título do artigo, base de dados, objetivo do estudo, método,
nível de evidência e principais resultados, disposto no quadro 1. Optou-se por
utilizar neste estudo, as etapas propostas pela Análise de Conteúdo [20],
considerando: a pré-análise com a sistematização das
ideias iniciais após a leitura dos artigos selecionados; a exploração do
material com o respectivo recorte das informações relevantes e nível de
agregação dos dados e o tratamento dos resultados, inferência e interpretação
com a criação de categorias norteadoras [21].
O quadro
01 demonstra a listagem dos estudos de forma esquemática para exemplificar a
leitura e o fichamento dos artigos, conforme os critérios adotados e descritos
na metodologia desta revisão.
Quadro 1 - Descrição dos estudos inclusos na
revisão integrativa, 2015-2020
Observa-se
que dos 16 artigos que compõem a revisão integrativa, o maior número das
publicações ocorreu nos anos de 2016 e 2019 com 4 amostras cada (50%), em menor
número ocorreu nos anos de 2015 e 2017, com 1 artigo cada (12,6%). 6 estudos
foram publicados em periódicos nacionais (37,5%) e 10 internacionais (62,5%).
Quanto ao método adotado, 13 estudos têm abordagem qualitativa (81%) e 03
estudos de abordagem quantitativa (19%); 09 pesquisas (56%) foram publicadas em
idioma português; 06 (38%) em inglês e 01 (6%) em espanhol. 02 estão indexados
na base de dados Lilacs (12%); 03 (19%) na base de
dados Bdenf, 04 na base de dados Scielo
(25%) e 7 na base Medline (44%). Quanto ao nível de evidência, 4 artigos contam
com o nível de evidência I (25%), 3 artigos nível de evidência II (19%), 4
artigos nível de evidência IV (25%) e 5 artigos nível de evidência V (31%).
Ao
analisar os artigos meticulosamente acerca das principias informações e elementos
pertinentes a esta revisão, a discussão se refere à íntima relação dos textos
conforme o referencial teórico que permitiram melhor exemplificar estes
resultados em categorias temáticas a serem discutidas, sendo os títulos: I)
Vivências de familiares/cuidadores de pacientes em cuidados paliativos
oncológicos, II) Dificuldades enfrentadas pelos cuidadores nos cuidados
especializados com pacientes em cuidados paliativos oncológicos e III)
Qualidade de vida dos cuidadores de pacientes em cuidados paliativos
oncológicos.
A
primeira categoria temática relaciona-se às vivências dos cuidadores de
pacientes oncológicos, destacando-se ansiedade, depressão, déficit no
autocuidado e manutenção da saúde, sobrecarga do cuidado, falta de tempo para a
multiplicidade de atividades, afastamento do trabalho remunerado em prol do
cuidado, desequilíbrios alimentares, além da redução ou ausência da prática de
atividades físicas.
No que
tange a segunda categoria temática, evidenciaram-se as dificuldades que os FC
tem para desempenhar os cuidados especializados para com os pacientes em CP
domiciliares, e desvelou-se um baixo nível de instrução dos cuidadores para
desenvolver bem as atividades de cuidado, dificuldades na administração de
medicamentos e manejo adequado da dor nos pacientes; a falta de conhecimento
sobre manuseio e ação das medicações e dificuldade em estabelecer e manter
interrelação com os profissionais de saúde.
Por fim,
a terceira e última categoria temática aponta para a qualidade de vida dos
familiares/cuidadores responsáveis pelo cuidado dos pacientes em processo de
finalização da vida por acometimento neoplásico, com ênfase na qualidade de
vida e a saúde física e psicológica dos cuidadores; os aspectos sociais que
atuam como contingências no processo de cuidado, necessidade de rede de apoio
ao cuidador e as estratégias de manutenção da qualidade de vida.
Vivências de
familiares/cuidadores de pacientes em cuidados paliativos oncológicos
A
sobrecarga de trabalho exigida para desenvolver os cuidados paliativos
oncológicos foi a problemática enfrentada pelos cuidadores mais citada dentre
os estudos analisados [10,30,33]. Diversos fatores negativos derivados do
cuidado paliativo contribuem para a sentimento de sobrecarga do cuidador em CP
oncológico, por exemplo, ansiedade e depressão, porém a ansiedade aparece em
estudos com taxas mais altas do que a depressão, além de fatores como o
isolamento social, a falta de apoio prático para os cuidados adequados com o
usuário adoecido, o tempo massivo voltado para o desenvolvimento da atenção ao
paciente e a fragilidade da situação econômica [35].
Torna-se
evidente que a sobrecarga oriunda desses cuidados específicos está associada a
percepção de sinais e sintomas negativos em todo o aspecto biopsicosocial
e espiritual das pessoas que assumem a atenção ao câncer de usuários em
cuidados paliativos [33,36].
Um dos
estudos analisados menciona o sentimento dos FC em ser responsável por todo o
processo de cuidar, referindo ser uma atividade que demanda um intenso cansaço
físico e mental [25]. Identifica-se também como problemáticas vivenciadas por
estes FC, a dificuldade na gestão do tempo, acrescendo o fato de que as tarefas
designadas ao cuidar demandam uma longa jornada de trabalho que precisa ser
desenvolvida continuamente de forma a manter a qualidade do cuidado,
tornando-se um desafio para os cuidadores conciliar a multiplicidade de papéis
exigidos no cotidiano [37].
Salienta-se
como uma problemática identifica nas pesquisas analisadas que o desenvolvimento
do cuidado, muitas vezes, fica a cargo apenas de uma pessoa, recebendo auxílio
de forma esporádica e fragmentada de terceiros, por não se sentirem
responsáveis pela divisão do cuidado. Por conta disso, o cuidador principal tem
que assumir sozinho as responsabilidades da assistência domiciliar ao usuário
dependente, o que caracteriza muitas vezes um quadro de exaustão física e
psicológica, comprometendo a qualidade dos serviços prestados e se tornando
mais um problema que o FC precisa lidar [38].
Outro
problema identificado nos estudos desta revisão está relacionado à interrupção
e/ou diminuição das atividades laborais em decorrência da necessidade do
usuário em CP oncológico de acompanhamento contínuo e presencial, além de se
observar que são pacientes com um grau de dependência de alto nível e que
muitas vezes são incapazes de desenvolver atividade básicas de vida diária sem
auxílio [39]. Essa situação é delicada e um desafio aos FC, pois se veem,
muitas vezes, obrigados a se desvincularem de suas atividades empregatícias,
alterando a renda e sustento da família, sentimento de autonomia, de função e
de cidadania [40].
Observa-se
também que as mulheres são as personagens mais abordadas na literatura que desenpenham o papel de cuidadora nas circunstâncias de
cuidados paliativos oncológicos, destinando grande parte de seu tempo para o
exercício do cuidado [41]. O cuidado torna-se prioridade na vida das pessoas
que assumem o papel de FC, o que acarreta em déficit no autocuidado,
alimentação irregular, surgimento de enfermidades ou piora no estado de saúde
[35,42].
Dificuldades enfrentadas
pelos cuidadores nos cuidados especializados com pacientes em cuidados
paliativos oncológicos
Desvela-se
em alguns estudos que o papel de FC é muitas vezes percebida de forma
destorcida por quem realiza tal atividade, já que, não raro, ocorrem sem a
devida preparação para tal. Assumir a responsabilidade de ser FC muitas vezes é
recebida inesperadamente juntamente com uma notícia ruim a respeito do avanço
do câncer; no entanto, o preparo deste indivíduo não ocorre tão oportunamente
quanto o recebimento desta função, que na maioria das situações não estão
preparados o suficiente para desempenhar bem essa ação [35,43].
O manejo
da dor nos cuidados do final de vida também é encarado com dificuldade por
alguns FC, o que causa pouca gestão da dor no usuário e frustração nos
cuidadores por não desempenharem bem essas funções [28]. Outros estudos
contribuem com este achado trazendo questões como a falta de conhecimento dos
FC sobre os medicamentos opióides e dificuldades na
sua administração, mencionam ainda as preocupações com os efeitos colaterais
dos medicamentos, tudo isso ocasiona angústias, impactos na saúde física e
psicológica dos cuidadores e, consequentemente, na relação destes com os
pacientes oncológicos [39].
Estudos
que compõe esta revisão investigaram e sintetizaram as evidências sobre
intervenções psicossociais e educacionais para gerenciar medicamentos de
controle de dor no câncer, com o intuito de apoiar o FC de pacientes que
recebem cuidados no final da vida; os resultados desta pesquisa mostram que o
preparo dessas pessoas manuseio e controle da dor são efetivos e atuam como
estratégias viáveis e eficazes capazes de melhorar a qualidade de vida FC
[22,26,43].
Corrobora-se
os resultados deste estudo ao avaliar o efeito de programas de intervenções
paliativas (treinamento clínico, educação para gerenciamento de sintomas,
aconselhamento e apoio social) sobre a qualidade de vida entre cuidadores de
pacientes com câncer, demostrando que intervenções em múltiplos componentes,
com enfoque nas necessidades dos FC e a ação de promover educação em saúde
contribui para a melhora do gerenciamento do cuidado paliativo [44,45,46].
O
processo de comunicação interpessoal é identificado pelos FC como uma demanda
que carece de um processo mais eficaz para ser estabelecido com a equipe de
saúde, sobretudo com a equipe da atenção básica, por estar mais perto do
usuário em cuidado paliativo domiciliar, essa equipe é essencial no processo de
gestão compartilhada do cuidado, despendendo suporte técnico-científico aos FC
para lidar com as novas demandas advindas do paciente e promover segurança ao
realizar essa assistência [47].
Qualidade de vida dos
cuidadores de pacientes em cuidados paliativos oncológicos
Observou-se
nos estudos analisados que os sofrimentos psíquicos mais encontrados em FC de
pacientes em cuidados paliativos oncológicos e que desenvolvem suas ações,
sobretudo, em domicílio são estresse, ansiedade e depressão, essas alterações
interferem na qualidade de vida desses indivíduos [35,48].
O cenário
dos cuidados paliativos oncológicos é permeado por sofrimento e sentimento de
eminencia de morte, contrastando com a sensação de sobrecarga de serviço que o
cuidado com o usuário fora de possibilidades terapêuticas demanda, conferindo
ao FC a experimentação de um misto de emoções e sentimentos que acabam por
fugir de seu controle [49].
A
problemática em manter uma boa qualidade de vida é ainda mais percebida em
mulheres, haja vista que o cuidado de pessoas em processo de finalização da
vida, muitas vezes requer esforço físico e com isso surgem as dores em
decorrência de esforços repetitivos e sobrecarga de peso e funções, há ainda o
despreparo em lidar com os cuidados desses pacientes, além disso a uma
percepção significativa na piora da saúde mental e dificuldade de tratamento e
reabilitação [29].
Estes
resultados são consistentes com outros estudos que detectaram que as mulheres
se percebem mais sobrecarregadas do que os homens, potencializando o surgimento
de doenças psicossomático, fadiga física, deterioração da saúde fíca e mental, fatores que levam os cuidadores a uma baixa
qualidade de vida [3].
A
importância da relação de aproximação da rede apoio dos FC demonstra uma
relação mais positiva, significativamente associada com melhores experiências
de cuidados e especialmente em melhor preparar o cuidador para o processo de
morte e morrer [23].
A
presente revisão apresentou como limitação: o fato de ter utilizado na
estratégia de busca, o operador booleano AND, em todas as combinações, o que
impede a ampliação de localização de evidências. Além disso, foram utilizadas
apenas quatro bases de dados, tendo em vista que algum trabalho pode não ter
sido considerado.
Conclui-se
que as dimensões dos cuidados paliativos oncológicos em domicílio para
cuidadores/familiares encontrados neste estudo estão relacionadas às
contingências que influenciam na vida dos FC durante a assistência, dentre elas
as problemáticas vivenciadas pelos familiares/cuidadores de pacientes em
cuidados paliativos oncológicos, as dificuldades enfrentadas pelos cuidadores
nos cuidados especializados e a qualidade de vida dos cuidadores.
O FC é o
indivíduo que passa mais tempo com o usuário que vivencia o processo de
finalização da vida, logo estão suscetíveis as várias dimensões que o ato de
cuidar pode provocar, além disso, é importante salientar que a adoção de
estratégias que permitam seguir uma linha de cuidado integral e resolutiva é um
forte aliado no desenvolvimento da assistência, como a cogestão do cuidado, uma
rede de apoio ao cuidador, a intervenção da educação em saúde e a manutenção da
qualidade de vida em todo o aspecto biopsicossocial e espiritual.
Percebe-se,
desse modo, a importância de se ter estudos voltados para entender e intervir
oportunamente sobre as demandas das pessoas que se identificam como
responsáveis pelo cuidar no processo de finalização da vida, pois ficou
evidente que se bem trabalhado, os pontos negativos abordados neste estudo
podem, como a orientação e educação para familiares/cuidadores, ter sido
identificados como uma lacuna que precisa ser preenchida. É necessário não
somente identificar as necessidades dos cuidadores, mas também fornecer apoios
e produzir meios para que possam estar melhorando a qualidade de vida deste
público, refletindo diretamente no bem-estar dos pacientes, sem esquecer que
quem está cuidando também carece de cuidados e atenção, e não há como oferecer
uma assistência de qualidade sem a devida orientação e apoio para ofertar um
cuidado adequado.
Conflitos
de interesse
Não há
Fontes
de financiamento
Não há
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa: Nascimento
NG; Lima FC; Teixeira E; Ueno TMRL; Coleta de
dados: Nascimento NG; Lima FC; Ueno TMRL; Análise
e interpretação dos dados: Nascimento NG; Lima FC; Oliveira LG; Garcez
JCD; Análise estatística: Nascimento NG; Lima FC; Oliveira LG; Redação
do manuscrito: Nascimento NG; Lima FC; Oliveira LG; Revisão crítica do
manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Ferreira DS; Ueno TMRL.