Enferm Bras.
2023;22(6):1060-88
REVISÃO
Contribuição
da residência em enfermagem obstétrica para a assistência no Brasil: uma
revisão de literatura
Danielle
Castro Janzen, Débora Sangiogio
Zuliane, Luíza Csordas Peixinho Silva, Luana Vitro
Barreto, Eduarda Ferreira Silva
Universidade
Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
Recebido
em: 29 de agosto de 2022; Aceito em: 10 de outubro de 2023.
Correspondência: Danielle Castro Janzen,
danielle.janzen@unifesp.br
Como citar
Janzen DC, Zuliane DS, Silva LCP, Barreto LV, Silva EF. Contribuição
da residência em enfermagem obstétrica para a assistência no Brasil: uma
revisão de literatura. Enferm Bras. 2023;22(6):1060-88. doi: 10.33233/eb.v22i6.5265
Resumo
Introdução: Os enfermeiros obstetras, formados a
partir da modalidade residência, tendem a contribuir de forma ímpar sobre o
cenário obstétrico, possuindo competência para atuar sobre os campos da saúde
sexual, reprodutivo, materno e neonatal, possuindo ênfase em parto e
nascimento, contribuindo para uma assistência obstétrica de qualidade e
satisfatória a sua clientela, reduzindo danos, complicações e intervenções
desnecessárias. Objetivo: Identificar na literatura quais as mudanças
que ocorreram no panorama nacional obstétrico desde a implantação do Programa
Nacional de Residência em Enfermagem Obstétrica no Brasil. Métodos:
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, na qual foram consultadas as
bases de dados Lilacs, Scielo
e BDENF, acessados via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Os descritores
controlados, utilizados na estratégia de busca, foram selecionados no DeCs
(Descritores em Ciências da Saúde), sendo “Internato
não médico”, “Enfermagem
obstétrica”, “Educação em
enfermagem” e “Trabalho de
parto”. O espaço de tempo escolhido foi de 2013, quando a
residência em
enfermagem obstétrica foi criada, até o ano de 2018. Resultados: As
enfermeiras obstétricas vêm utilizando os métodos não farmacológicos para
alívio da dor no trabalho de parto. Foi encontrado na maioria dos resultados a
inserção do acompanhante (60%), assim como foi evidenciado na maioria dos
resultados, traumas perineais de baixa gravidade e episiotomia seletivas (80%).
Foi identificada boa vitalidade ao nascer (Índice de Apgar
superior a 7 no primeiro minuto de vida) na maior parte dos estudos (60%).
Relata-se a respeito da posição verticalizada da parturiente no momento do
parto em 60% dos estudos. O clampeamento oportuno do
cordão umbilical e o contato pele a pele foram citados em apenas 40% dos
estudos, enquanto que o aleitamento materno na primeira hora de vida em apenas
20% dos estudos. Conclusão: A maioria das práticas assistenciais
realizadas pelas residentes de enfermagem obstétrica ou pelos enfermeiros
egressos formados na modalidade residência está de acordo com as recomendações
técnicas da OMS para o parto normal, no entanto, ainda são necessários avanços
na assistência, visto que foram encontradas práticas inadequadas na assistência
obstétrica.
Palavras-chave: internato não médico; enfermagem
obstétrica; educação em enfermagem; trabalho de parto.
Abstract
Contribution of residence in obstetric nursing to care
in Brazil: a literature review
Introduction: Obstetric
nurses, trained from the residency modality, tend to contribute in a unique way
on the obstetric scenario, having competence to act in the fields of sexual,
reproductive, maternal and neonatal health, with an emphasis on childbirth and
birth, contributing to quality and satisfactory obstetric care to its
clientele, reducing damage, complications and unnecessary interventions. Objective:
To identify in the literature what changes have occurred in the national
obstetric panorama since the implementation of the National Residency Program
in Obstetric Nursing in Brazil. Methods: This is an integrative
literature review, where the Lilacs, Scielo and BDENF
databases were consulted, accessed via the Virtual Health Library (VHL). The
controlled descriptors, used in the search strategy, were selected in the DeCs (Health Sciences Descriptors), being "Non-medical
internship", "Obstetric nursing", "Nursing education"
and "Labor". The chosen time period was from 2013, when the obstetric
nursing residency was created, until 2018. Results: Obstetric nurses
have been using non-pharmacological methods for pain relief during labor. In
most of the results, the insertion of the companion (60%) was found, as was
evidenced in most of the results, low-severity perineal trauma and selective
episiotomy (80%). Good vitality at birth (Apgar score greater than 7 in the
first minute of life) was identified in most studies (60%). It is reported
about the upright position of the parturient at the time of delivery in 60% of
the studies. Timely clamping of the umbilical cord and skin-to-skin contact
were mentioned in only 40% of the studies, while breastfeeding in the first
hour of life in only 20% of the studies. Conclusion: The majority of
care practices performed by obstetric nursing residents or by nurses graduating
from the residency modality are in accordance with the WHO technical
recommendations for normal childbirth, however, advances in care are still
needed, as practices have been found inadequate obstetric care.
Keywords: non-medical internship; obstetric
nursing; nursing education; obstetric labor.
Resumen
Contribución de la residencia en la
enfermaría obstétrica para cuidar en
Brasil: una revisión de la
literatura
Introducción: Las enfermeras obstétricas, capacitadas en
la modalidad de residencia, tienden a contribuir
de manera única en el escenario obstétrico, teniendo competencia para actuar en los
campos de la salud sexual, reproductiva, materna y neonatal, con
énfasis en el parto y el nacimiento,
contribuyendo a atención
obstétrica de calidad y satisfactoria
para su clientela, reduciendo
daños, complicaciones e
intervenciones innecesarias. Objetivo:
Identificar en la
literatura qué cambios se han producido en
el panorama obstétrico nacional desde la implementación del Programa de residencia
nacional en enfermería
obstétrica en Brasil. Métodos: Esta es una revisión de literatura integradora, donde se consultaron las bases de datos Lilacs, Scielo
y BDENF, a las que se accedió
a través de la Biblioteca Virtual en
Salud (BVS). Los descriptores
controlados, utilizados en la
estrategia de búsqueda, se seleccionaron en los DeCs (Descriptores
de Ciencias de la Salud), siendo "Pasantía no médica", "Enfermería obstétrica", "Educación
en enfermería" y
"Trabajo". El período de tiempo elegido fue desde 2013, cuando se creó la residencia de enfermería obstétrica, hasta 2018. Resultados: Las enfermeras obstétricas han estado utilizando métodos no farmacológicos para
aliviar el dolor durante el parto. En la
mayoría de los resultados,
se encontró la inserción del acompañante
(60%), como se evidencia en la
mayoría de los resultados,
traumatismo perineal de baja gravedad y episiotomía selectiva (80%). En la mayoría
de los estudios (60%) se identificó una buena vitalidad al nacer (puntuación de Apgar superior a 7 en el primer minuto de vida). Se
informa sobre la posición
erguida del parto en el momento del parto en el 60% de los
estudios. La sujeción
oportuna del cordón
umbilical y el contacto piel
con piel se mencionaron en solo el 40% de los estudios,
mientras que la lactancia materna en la primera hora de vida en solo el 20% de los estudios. Conclusión:
La mayoría de las prácticas de atención realizadas
por residentes de enfermería obstétrica o por enfermeras que se gradúan de la modalidad
de residencia están de acuerdo con las
recomendaciones técnicas de la
OMS para el parto normal, sin
embargo, aún se necesitan
avances en la atención, ya que se han encontrado prácticas atención obstétrica inadecuada
Palabras-clave: pasantía no
médica; enfermería obstétrica; educación en enfermería;
trabajo de parto.
A
mortalidade materna é um importante indicador da assistência à saúde das
mulheres, das condições socioeconômicas do país e políticas públicas que
promovem as ações de saúde coletiva e da qualidade de vida de sua população
[1].
Acredita-se
que a persistência desse elevado indicador possa ser consequência de um modelo
intervencionista, pouco humanizado, no qual ainda prevalece o denominado modelo
biomédico de atenção. O modelo de assistência obstétrica e neonatal atualmente
legitimado na maioria dos países ocidentais entende o nascimento como uma
questão médica, considerando todas as gestações como potencialmente
patológicas, e o corpo da mulher como uma máquina imperfeita, que necessita de
tecnologias para funcionar [1].
Infere-se,
a partir desta premissa, que nascer no Brasil não tem sido uma experiência tão
natural quanto deveria ser em tese. O parto vaginal, mais frequente nos
estabelecimentos públicos, quase sempre ocorre com muita dor e excesso de
intervenções desnecessárias e danosas. Nos estabelecimentos privados, a
cesariana, quase sempre eletiva, vem se constituindo como uma opção para
minimizar esse sofrimento [2].
Infelizmente,
o Brasil se encontra em um cenário de intensa medicalização do processo de
parto e nascimento, com 98% dos partos realizados em hospitais, com boa
cobertura do pré-natal, mas ao mesmo tempo persistindo taxas elevadas de
morbimortalidade materna, perinatal e infantil [3].
A
pesquisa Nascer no Brasil (2014) revela que os partos normais tristemente vem
permeados a excessos: episiotomias rotineiras, posições litotômicas,
a infusão de ocitocina no trabalho de parto usada indiscriminadamente, manobra
de Kristeller, aspiração de vias aéreas e gástrica
dos recém-nascidos de rotina, não viabilização do contato pele a pele imediato
entre mãe e bebê, clampeamento precoce do cordão
umbilical sem que as condições exigissem, amamentação somente após a primeira
hora de vida.
A
Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatiza que as práticas de atenção ao parto
e ao nascimento devem estar baseadas em evidências científicas e na garantia de
direitos, afirmando que o parto é um evento fisiológico que não necessita de
controle, mas sim de cuidados [4].
Na
tentativa de buscar melhorias na atenção à saúde da mulher e da criança
relacionada ao período gestacional e pós-parto, foi criada em 2011, a Rede
Cegonha, sendo definida como “uma rede de cuidados que visa assegurar à mulher
o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao
parto e ao puerpério, bem como à criança o direito ao nascimento seguro e ao
crescimento e ao desenvolvimento saudáveis [2].
Em
2013, as autoridades do setor saúde, preocupados com a necessidade de alteração
do modelo assistencial biomédico, e buscando promover mudanças no modelo de
assistência obstétrica vigente no país, passa a estimular a inserção da
enfermeira obstetra nas maternidades públicas [5].
Assim,
instituem o Programa Nacional de Residência em Enfermagem Obstétrica (PRONAENF)
criado em 27 de março de 2013, como uma ação estratégica que visa a
qualificação da assistência às mulheres nos seus processos de saúde
reprodutiva, assim como o aumento do contingente de profissionais norteados
pelas evidências científicas, pelas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS),
pelas recomendações da Rede Cegonha, Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde da Mulher e Pacto pela redução da Mortalidade [6].
A
residência é uma modalidade de ensino em serviço baseada no princípio educativo
do ensino na prática, e tem as instituições de saúde como espaços de formação
privilegiados, sendo considerada a formação profissional que confere melhor
capacitação técnica para prestar cuidados especializados, sobretudo às mulheres
no trabalho de parto e parto [7].
Assim,
os enfermeiros obstetras, formados a partir da modalidade residência, tendem a
contribuir de forma ímpar sobre o cenário obstétrico, possuindo competência
para atuar sobre os campos da saúde sexual, reprodutivo, materno e neonatal,
possuindo ênfase em parto e nascimento, contribuindo para uma assistência
obstétrica de qualidade e satisfatória a sua clientela, reduzindo danos,
complicações e intervenções desnecessárias [7].
Partindo
desse pressuposto, em que a enfermagem obstétrica busca repercutir
positivamente sobre a saúde materno-infantil, faz-se a seguinte interrogação:
Quais as contribuições que a residência em enfermagem obstétrica tem trazido para
o cenário obstétrico, desde a sua implantação?
Objetivo
Identificar
na literatura quais as mudanças que ocorreram no panorama nacional obstétrico
desde a implantação do Programa Nacional de Residência em Enfermagem Obstétrica
no Brasil.
Trata-se
de uma revisão integrativa da literatura, método que proporciona a síntese de
conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos
significativos na prática. A revisão integrativa tem sido apontada como uma
excelente ferramenta no campo da saúde, pois sintetiza as pesquisas disponíveis
sobre determinada temática e direciona a prática fundamentando-se em
conhecimento científico [8]
Foi
realizada a partir das seguintes etapas: 1 – definição de pergunta norteadora,
2 – definição dos critérios de elegibilidade; 3 – estratégia de busca nas bases
de dados; 4 – análise crítica dos estudos incluídos; 5 – discussão dos
resultados; e 6 – apresentação da revisão integrativa [8].
A
pergunta norteadora que serviu como base para a revisão integrativa foi: Quais
as contribuições que a residência em enfermagem obstétrica tem trazido para o
cenário obstétrico, desde a sua implantação? Ela foi elaborada por meio da
estratégia P.I.Co [12], em
que o P corresponde aos participantes, I de fenômeno de interesse e Co ao
contexto do estudo. Neste estudo, P corresponde a residentes de enfermagem
obstétrica ou enfermeiros obstetras formados na modalidade de residência, I as
contribuições da residência em enfermagem obstétrica, e Co ao cenário
obstétrico de atuação.
Para
eleição ao estudo, os artigos deveriam ser publicados na íntegra, disponíveis
online nas bases de dados, publicados nas línguas portuguesa, inglesa e
espanhola, porém de produção nacional. O espaço de tempo escolhido foi de 2013,
quando a residência em enfermagem obstétrica foi criada, até o ano de 2018.
Excluíram-se os manuais, guidelines, revisões de
literatura e artigos duplicados, além daqueles que não mantinham relação com o
objetivo da pesquisa, por meio da leitura do título e do resumo.
No
processo de busca e seleção dos artigos, foram consultadas as bases de dados:
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific Electronic Library Online (Scielo)
e na Base de Dados em Enfermagem (BBENF), acessados pela Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS).
Os
descritores controlados, utilizados na estratégia de busca, foram selecionados
no DeCs (Descritores em Ciências da Saúde), sendo
“Internato não médico”, “ Enfermagem obstétrica”,
“Educação em enfermagem” e “Trabalho de parto”. Utilizou-se o operador booleano
“AND” para combinar os termos.
Em
cada base de dados, foi realizado o cruzamento dos descritores controlados,
para seleção das publicações e posterior revisão integrativa. Foi aplicada a
seguinte estratégia de busca, aplicada a pergunta norteadora:
Quadro
1 - Estratégia P.I.Co e mecanismo de busca de
dados
Após
os cruzamentos, foram identificados 97 artigos na base de dados Lilacs, 94 artigos na base de dados Scielo
e 105 artigos na base de dados BDENF, totalizando 296 publicações.
Considerando
o período estipulado para a pesquisa (2013-2018), foi feito um recorte
temporal, e foram excluídos do estudo 197 artigos, além de 7 artigos duplicados
e 1 artigo de revisão de literatura, os quais atenderam aos critérios de
exclusão do trabalho.
Após
a triagem, foram selecionados 91 artigos para leitura de título e resumo,
destes, 25 foram lidos na íntegra, e os demais não respondiam à pergunta de
pesquisa. Assim, após identificação, triagem e elegibilidade, a amostra ficou
composta por 5 artigos, conforme fluxograma a seguir.
Figura
1 - Fluxograma de
seleção das publicações identificadas nas bases de dados
Os
dados encontrados nos artigos selecionados foram organizados em quadro
sinóptico no processador de texto Microsoft office Word 2010, contendo título
do trabalho, referência, objetivo do estudo, desenho de estudo e resultados
encontrados.
Os
resultados foram dispostos em quadros e agrupados em categorias, conforme
semelhança do dado encontrado. A análise dos artigos foi feita de forma
descritiva, com a síntese das evidencias de cada publicação.
O
período de busca nas bases de dados foi de 15 de fevereiro a 5 de março de
2019.
A
partir dos artigos encontrados, foram selecionados cinco estudos que atenderam
aos critérios de elegibilidade e que responderam à pergunta que norteia esta
revisão. Após a leitura e análise dos dados, os artigos foram sistematizados no
quadro 2.
As
publicações selecionadas correspondem ao período de 2015 a 2018, sendo que a
maioria são estudos quantitativos (80%), de abordagem descritiva na maior parte
das vezes (80%), de abordagem retrospectiva e análise documental também na
maioria das vezes (60%).
Quadro 2 - Descrição dos artigos
selecionados
Relembrando
a pergunta norteadora do presente estudo que é “Quais as contribuições que a
residência em enfermagem obstétrica tem trazido para o cenário obstétrico,
desde a sua implantação?”, encontraram-se na totalidade dos resultados, que as
enfermeiras obstétricas vêm utilizando os métodos não farmacológicos para
alívio da dor no trabalho de parto.
Foi
encontrado na maioria dos resultados a inserção do acompanhante (60%), assim
como foi evidenciado na maioria dos resultados, traumas perineais de baixa
gravidade e episiotomia seletivas (80%). Foi identificada boa vitalidade ao
nascer (Índice de Apgar superior a 7 no primeiro
minuto de vida) na maior parte dos estudos (60%). Relata-se a respeito da
posição verticalizada da parturiente no momento do parto em 60% dos estudos.
O
clampeamento oportuno do cordão umbilical e o contato
pele a pele foram citados em apenas 40% dos estudos, enquanto que o aleitamento
materno na primeira hora de vida em apenas 20% dos estudos.
As
publicações selecionadas também trouxeram que em 20% dos estudos, a manobra de Kristeller esteve presente. A hidratação venosa ainda é
amplamente utilizada para aceleração de parto eutócico
(60% das vezes), assim como a ruptura artificial das membranas (60%). A dieta
zero ainda foi vista nos resultados desta pesquisa (20% das vezes).
Diante
dos resultados encontrados, foram categorizadas sete contribuições dos
enfermeiros residentes e egressos em enfermagem obstétrica/ enfermeiro
obstetras (quadro 3).
Quadro
3 - Categorias com
as contribuições da enfermagem obstétrica no cenário brasileiro
Segundo
a pesquisa Nascer no Brasil (2014), observou-se a predominância de um modelo de
atenção extremamente medicalizado entre as gestantes
que tiveram parto vaginal, o que ignora as melhores evidências disponíveis,
sendo submetidas a intervenções desnecessárias, sem indicações clínicas,
restrições ao leito, sem direito a escolha da posição do parto, restrições
alimentares, uso de medicamentos para acelerar o trabalho de trabalho, sofrendo
violações do seu corpo.
O
modelo de assistência obstétrica e neonatal vigente no país visualiza mulheres
que não sabem parir, com defeito de fabricação, sendo o nascimento uma questão
médica, considerando todas as gestações como potencialmente patológicas e o
corpo da mulher como uma máquina imperfeita, que necessita de tecnologias para
funcionar [3].
Infelizmente,
esqueceram-se que a mulher foi feita especialmente para isso, e que quanto mais
se interfere nesse processo, que é algo natural e fisiológico, mais se gera uma
cascata, por sua vez, susceptível a novas intervenções.
Na
busca por uma assistência pautada nas melhores evidências disponíveis, e
visando sempre o bem-estar materno-fetal, a pesquisa Nascer no Brasil traz como
enfoque a inserção das enfermeiras obstétricas no cenário obstétrico para a
assistência aos partos vaginais, com maiores chances de partos espontâneos, sem
intervenções desnecessárias, e sem comprometimentos do binômio mãe-bebê [2],
reafirmando as propostas já trazidas anteriormente pela Rede Cegonha e pelo
PRONAENF.
O
Ministério da Saúde incentiva a atuação da enfermeira obstétrica e obstetrizes na assistência ao parto e nascimento,
regulamentada pelo Conselho Federal de Enfermagem, incluindo o cuidado ao parto
normal sem distócia. Tais profissionais são
reconhecidos como capazes de desenvolver uma relação de escuta e confiança com
a gestante, possibilitando orientações claras e precisas, favorecendo o
empoderamento e autonomia da mulher no seu trabalho de parto e parto, levando-a
à adoção de uma postura ativa, como protagonista de sua própria experiência de
vida [13].
No
exterior, por exemplo, os enfermeiros obstetras (midwifes)
já se destacam por práticas exitosas que refletem diretamente na redução da
mortalidade materna e perinatal, constituindo um quadro social e profissional
respeitado e atraente, capacitado, regulamentado e com ingresso garantido no
sistema de saúde [14].
Com
vistas a isso, esse trabalho identificou na literatura encontrada e selecionada
para revisão, quais as contribuições que os residentes de enfermagem
obstétrica/ enfermeiros obstetras egressos tem trazido para o cenário
obstétrico, uma vez que a residência e seus egressos parecem constituir componente
com maior potencialidade para atender aos objetivos propostos pela rede cegonha
do que os cursos tradicionais de especialização.
Assim,
após seleção de cinco artigos, foram selecionadas sete categorias gerais para
discussão: 1 - métodos não farmacológicos para alívio da dor no trabalho de
parto, 2 - posições verticalizadas para o parto, 3 - acompanhante no trabalho
de parto, 4 - traumas perineais de baixa gravidade e episiotomia seletiva, 5 - clampeamento oportuno do cordão umbilical e contato pele a
pele imediato, 6 - aleitamento materno na primeira hora de vida e 7 -
recém-nascidos com boa vitalidade ao nascimento.
Métodos
não farmacológicos para alívio da dor no trabalho de parto
Os
métodos não farmacológicos de alívio da dor no trabalho de parto, estiveram
presentes nos resultados de todos os estudos selecionados, ou seja, as
enfermeiras obstétricas estão utilizando destes meios para auxiliar no processo
de assistência ao parto e nascimento.
Tal
resultado está em conformidade com o esperado, conforme Categoria A (práticas demonstradamente úteis e que devem ser estimuladas) do
documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) de Boas práticas de Atenção ao
Parto e Nascimento [4].
Os
métodos não farmacológicos, incentivados pela OMS, são estratégias
utilizadas no trabalho de parto para aumentar a tolerância à dor, reduzindo a
tensão e o estresse, propiciando a autonomia da parturiente e favorecendo um
processo o mais fisiológico possível, uma vez que se substitui anestésicos e
analgésicos.
O
uso desses recursos provoca menos efeitos colaterais para a mãe e o bebê, pois
são técnicas que não utilizam medicações e propiciam a mulher maior sensação de
controle do parto, uma vez que a parturiente não necessitará de monitorização
contínua, assim como não perderá a sensibilidade dos membros inferiores [4].
São
inúmeros os métodos, porém os mais conhecidos são:
* Deambulação:
reduz a dor durante o trabalho de parto, não sendo explicada e nem havendo
comprovações científicas como pode ocorrer. O que ocorre é a aceleração da fase
ativa, fase onde geralmente a mulher sente mais dor.
* Massagens:
é um dos meios mais naturais e instintivos utilizados no alivio da dor e do
desconforto, já que reduz a ansiedade e o estresse, promove o relaxamento
muscular, diminui a fadiga muscular, tem ação sedativa e analgésica, traz
aumento da consciência corporal e produz benefícios emocionais.
* Banho:
a utilização do chuveiro proporciona o alívio da dor lombar, queixa presente em
um terço das gestantes no primeiro estágio do parto. O banho revitaliza,
estimula a circulação, diminui o desconforto das contrações, promove
relaxamento, diminui as dores lombossacras e, por
conseguinte, favorece a dilatação cervical.
* Bola:
é utilizada muitas vezes como um objeto lúdico, com intuito de distrair a
gestante durante o trabalho de parto, diminuindo a tensão física e emocional,
tornando o mesmo mais tranquilo, e confortável.
* Respiração:
utilizada durante as contrações nas diferentes fases do trabalho de parto e no
período expulsivo.
* Relaxamento:
Os exercícios de relaxamento permitem que as parturientes reconheçam as partes
do seu corpo, evidenciando as diferenças entre relaxamento e contração,
melhorando o tônus muscular e, desta forma, favorecendo a evolução do trabalho
de parto.
* Musicoterapia:
Alguns investigadores defendem que a utilização da música potencializa os
resultados, por ser considerado um meio muito eficaz como foco de atenção,
sendo assim um meio de distração, causando um estímulo agradável ao cérebro,
desviando a atenção da mãe na hora da dor.
Vale
ressaltar que, em estudo realizado, as puérperas reconheceram os métodos não
farmacológicos como eficazes quanto a sua finalidade e associaram a eles
sentimentos de satisfação, relaxamento e tranquilidade. Dessa forma, ficou
evidenciada a importância da utilização dos métodos não farmacológicos nos
períodos pré e intraparto [11].
São
evidentes os benefícios dos métodos não farmacológicos utilizados durante o
trabalho e parto e sua eficácia. Além de atuarem sobre o alívio da dor, estes
métodos promovem o relaxamento das gestantes, reduz a ansiedade, aumenta o
vínculo entre a gestante e seu acompanhante, reduz o risco de exposição
desnecessária aos fármacos e seus efeitos colaterais [4].
Posições
verticalizadas para o parto
Nesta
revisão, encontrou-se que 60% dos partos assistidos foram realizados em posição
não supina, o que coincide com as práticas demonstradamente
úteis e que devem ser estimuladas (categoria A) da OMS de Boas práticas de
atenção ao Parto e ao Nascimento [4].
Ao
observar a evolução do atendimento às mulheres em trabalho de parto, podem-se
identificar mudanças em relação à posição adotada ao longo do tempo.
Encontram-se relatos históricos do uso extensivo da posição vertical antes do
século XVIII, em que a posição horizontal era raramente utilizada. No século XX
deu-se início à utilização de drogas anestésicas, que aliviavam as dores e o
medo do processo do trabalho de parto. O parto, então, passou a ser realizado
em hospitais e a posição horizontal foi consagrada com a ajuda de intervenções
obstétricas ainda utilizadas atualmente, como a monitorizarão eletrônica do
feto e o uso de anestesia peridural, que obriga a mulher a ficar deitada [16].
Com
a medicalização do parto, a posição litotômica passou
a ser considerada mais adequada e passou a ser utilizada indiscriminadamente, e
somente no final do século 20 houve um movimento em busca de uma medicina
baseada em evidências, de modo que, se assim for, a posição vertical possui
vantagem sobre partos realizados em posições supinas, uma vez que reduz a
duração do período expulsivo e a queixa de dor severa durante o mesmo, o número
de partos operatórios, a necessidade de episiotomia e o número de alterações no
batimento cardíaco fetal [17].
Em
estudo realizado com a maioria das puérperas não tinha conhecimento sobre
diferentes posições de parto, o que demonstra a existência de uma falha no
processo de educação em saúde sobre parto e nascimento que ocorre desde a
assistência ao pré-natal, o que impede a mulher de desenvolver o máximo de sua
autonomia e ser sujeito de seu parto. Desse modo, a posição vertical foi-lhes
apresentada pela primeira vez apenas no momento do parto [18].
As
mulheres perceberam a posição vertical como boa para ser adotada no momento do
parto e ficaram com uma impressão positiva da experiência. A enfermeira
obstetra foi citada como alguém que orientou e ajudou as participantes do
estudo a sentirem-se protagonistas do parto. Nas percepções delas, as posições
verticais foram confortáveis e diferentes, proporcionaram partos mais rápidos,
menos dolorosos com maior autonomia da mulher e menos intervenções
profissionais [18].
Acompanhante
no trabalho de parto
Nesta
revisão de literatura, foi encontrado que em 60% dos partos assistidos, haviam
acompanhantes presentes juntos à parturiente, respeitando as práticas demonstradamente úteis e que devem ser estimuladas
(categoria A) do documento da OMS de Boas práticas de atenção ao Parto e ao
Nascimento.
Os
serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), na rede própria ou na
conveniada, são obrigados a permitir a presença de um acompanhante da
parturiente durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto
imediato. O acompanhante é de escolha da parturiente [1].
Essa
obrigação decorre da Lei Federal n.
11.108/2005 (a chamada Lei do Acompanhante), que promoveu a
significativa
alteração na Lei Orgânica da Saúde - Lei n.
8.080/1990, que, por sua vez, se
propõe a oferecer condições para a
promoção, a proteção e a
recuperação da
saúde, assim como a organização e o funcionamento
dos serviços correspondentes
prestados pelo SUS [1].
A
presença do acompanhante no trabalho de parto é justificada conforme resultado
de um estudo, no qual as parturientes que receberam apoio por acompanhante de
sua escolha tiveram maior satisfação global com a experiência do trabalho de parto
e parto do que as do grupo-controle (sem apoio). Ter o acompanhante no trabalho
de parto e parto foi forte preditor de satisfação [19].
A
presença do acompanhante no processo do nascimento é uma prática que favorece a
humanização da assistência, provocando mudanças positivas: na parturiente, como
segurança, conforto e vínculo com o seu meio familiar; na equipe, por estimular
a reflexão da sua prática obstétrica e na instituição por favorecer a revisão
de seu modo de gestão da assistência de saúde [20].
Apesar
da Lei do Acompanhante, alguns profissionais de saúde e as próprias regras
institucionais estabelecem restrições ao parto acompanhado. Essas restrições
foram verificadas em diversos momentos do estudo, fruto de preconceitos quanto
à possibilidade de um acompanhante ativo no processo do parto, o que pode ser
considerado como um tipo de violência institucional. É comum a gestante e o
acompanhante ficarem à mercê de critérios internos da instituição sobre a
presença dos acompanhantes, nos momentos de passagem de plantão e quando as
mulheres são examinadas pelo obstetra/residente [19].
Traumas
perineais de baixa gravidade e episiotomia seletiva
Nos
resultados desta revisão, encontram-se que 80% dos partos assistidos
apresentaram traumas perineais de baixa gravidade e foram realizadas
episiotomia seletivas.
Em
2006 foi realizado um estudo, no qual a assistência obstétrica foi realizada
por enfermeiros obstetras, foram observadas menores taxas de episiotomia, sem
aumento do número de traumas perineais graves, demonstrando a competência deste
profissional para a assistência ao parto eutócico
[21].
O
mesmo se encontra no estudo realizado por Schettini, Griboskie
Faustino (2017), no qual as enfermeiras obstétricas não
realizavam
episiotomia de rotina, uma vez que pautavam sua assistência nas
evidências
científicas, e em se tratando do grau de
lacerações espontâneas, a maior parte
das mulheres atendidas apresentaram lacerações de 1º
grau, seguida de mulheres
com períneo íntegro e de laceração de
2º grau, sem a ocorrência de lacerações
graves (terceiro e quarto graus) [22].
Em
pesquisa realizada por Rocha e Zamberlan (2018), ao
comparar as taxas de episiotomia entre partos assistidos por enfermeiras
obstétricas e por profissionais médicos, percebeu-se uma redução dos índices de
episiotomia quando enfermeiras obstetras assumem a cena do parto, embora a
prática ainda seja predominante [23].
Essa
informação configura a necessidade de inserção da enfermeira obstetra no
cenário de parto normal como possibilidade de estratégia para reduzir esse
procedimento e aumentar as taxas de lacerações perineais não graves. Esse fato
se deve principalmente porque a Enfermagem Obstétrica utiliza mais as boas
práticas de atenção ao parto, as tecnologias de alívio da dor e outros métodos
do que a classe médica [23].
Clampeamento oportuno do cordão umbilical e contato
pele a pele imediato
Nos
resultados desta revisão de literatura, encontrou-se que o clampeamento
oportuno do cordão umbilical e o contato pele a pele foram citados em apenas
40% das publicações.
O
dado referente ao clampeamento oportuno do cordão
umbilical preocupa e alarma, uma vez que se trata de uma porcentagem
relativamente baixa, considerando todas as evidencias já disponíveis acerca dos
benefícios do atraso do pinçamento do cordão.
A
OMS recomenda aguardar a pulsação parar para clampear
e cortar o cordão umbilical logo em seguida ao nascimento do bebê, sendo que o clampeamento precoce (menor que 60 segundos) está
recomendado apenas para recém-nascidos com necessidade de manobras de
reanimação. A recomendação é baseada na compreensão de que o atraso do clampeamento do cordão umbilical permite a passagem
continuada do sangue da placenta para o bebê durante mais 1 a 3 minutos após o
nascimento [23].
O
mesmo é sugerido por Venancio et al. [25], em
que seus resultados sugerem que o clampeamento tardio
é uma intervenção segura e capaz de aumentar os estoques de ferro nos primeiros
seis meses de vida, podendo integrar programas que visem à redução da
deficiência de ferro e anemia em lactentes.
Outro
dado preocupante encontrado no estudo foi a porcentagem de contatos pele a pele
realizados, haja vista a importância desse momento para o binômio mãe e bebê.
Essa prática fortalece o vínculo entre a mãe e recém-nascido e proporciona a
estabilidade da temperatura do RN, evitando hipotermia, facilitando o
estabelecimento precoce do início do aleitamento materno além de ajudar na
dequitação placentária [16].
O
resultado do presente estudo demonstra que, ainda, a rotina hospitalar
rege a
atenção ao parto, sem a incorporação dos
preceitos de humanização da assistência,
e que as mães estão suscetíveis às
práticas do serviço, não tendo poder de
interferir na decisão de realizar contato pele a pele precoce
com seus bebês e/
ou de amamentá-los na primeira hora de vida [25,26].
Aleitamento
materno na primeira hora de vida
Nos
resultados desta revisão, foram encontrados a citação do aleitamento materno na
primeira hora de vida em apenas 20% dos estudos, o que denota necessidade de
reflexão, uma vez que se trata de uma porcentagem muita baixa, tendo em vista a
importância da promoção do aleitamento materno para o binômio mãe e bebê na
primeira hora de vida.
Essa
prática tem sua relevância pautada nos inúmeros benefícios já conhecidos, tais
como estabelecimento do vínculo mãe-bebê, assim como o aumento da duração do
aleitamento materno e da prevalência de aleitamento materno nos hospitais, além
da redução da mortalidade neonatal, sobretudo em contextos em que as infecções
se constituem importantes fatores de morte em recém-nascidos, uma vez que
sabidamente há um efeito protetor do aleitamento materno fornecido no colostro
[27].
Em
estudo foram encontradas grandes diferenças no que tange ao início do
aleitamento materno: RN nascidos em maternidades municipais e federais foram
amamentados na primeira hora, contra menos de 2% dos nascidos em maternidades
particulares. Essa proporção variou também entre os nascidos por parto
cesariano (5,8%) e vaginal (26,4%), estando ausentes fatores maternos ou
neonatais que justificassem o desfecho, o que pode ser indicativo de que as
mães têm pouco ou nenhum poder de decisão para amamentar seus filhos na
primeira hora de vida, ficando reféns das práticas institucionais e dos
profissionais envolvidos no parto [25,28].
Outro
dado importante do seu estudo: cerca de um quarto das mulheres pesquisadas não
receberam qualquer tipo de informação sobre aleitamento materno durante o
pré-natal, o que infere uma falha na assistência gestacional, o que as torna
menos instruídas e informadas sobre o processo de amamentação, a importância do
início precoce [6], ficando refém dos profissionais envolvidos na assistência
hospitalar.
Dada
a importância do início precoce do aleitamento materno, torna-se imprescindível
a conscientização dos profissionais de saúde envolvidos em assumir papel de
orientador, normatizador e regulador do aleitamento materno, pautado em um
saber científico construído, tendo em vista que o mesmo possui, na maioria das
vezes, o conhecimento sobre o assunto, mas não empreende na prática, sendo
necessário treinamentos, atualizações e atividades de educação permanente para
que se melhore a assistência e, consequentemente, traga benefícios ao binômio
mãe e recém-nascido [24].
Recém-nascidos
com boa vitalidade ao nascimento
Foi
identificada boa vitalidade ao nascer (índice de Apgar
superior a 7 no primeiro minuto de vida) na maior parte dos estudos (80%), não
sendo citado nos demais, o que infere uma prática assistencial das enfermeiras
obstétricas com bom desfecho neonatal, pois embora a maioria das crianças nasçam
com boa vitalidade, são indispensáveis conhecimento e habilidade da equipe de
saúde no processo de avaliação inicial deste ser no momento de transição da
vida intrauterina para a extrauterina [29].
A
enfermagem obstétrica, enquanto área do saber que presta cuidados, e não
intervenções em um processo que é natural e fisiológico, proporciona dignidade,
segurança e autonomia no processo de parturição, garantindo os direitos de
cidadania da mulher e sua família [29].
A
revisão integrativa da literatura evidenciou que a maioria das
práticas
assistenciais realizadas pelas residentes de enfermagem
obstétrica ou pelos
enfermeiros egressos formados na modalidade residência
está de acordo com as
recomendações técnicas da
Organização Mundial da Saúde para o parto normal
–
documento de Boas práticas de atenção ao parto e
ao nascimento, sobretudo em
relação às proporções verificadas do
uso de métodos não farmacológicos para
alívio da dor, o uso de posições verticalizadas no
parto, a presença do
acompanhante junto a parturiente, os traumas perineais de baixa
gravidade e
episiotomia seletiva, e quanto a boa vitalidade ao nascimento.
Apesar
de não ser possível uma associação direta entre os resultados encontrados e a
modalidade da formação das enfermeiras obstétricas, estes achados estão em
consonância com boa parte das ações propostas pela Rede Cegonha e pelo
PRONAENF. No entanto, ainda são necessários avanços na assistência, visto que
foram encontradas práticas inadequadas na assistência obstétrica, tais como
prescrição indiscriminada de dieta zero e percentuais elevados de ocitocina e amniotomia para acelerar o trabalho de parto, o que denotam
a necessidade de reflexão e revisão das condutas para reduzir as intervenções
desnecessárias e não coerentes com o escopo profissional.
Muitos
estudos apontam ser a enfermeira obstétrica um dos profissionais mais
apropriados para o acompanhamento da gestação e dos partos normais de risco
habitual. Na prática, os resultados obtidos demonstraram que os partos
assistidos por elas apresentam menores índices de morbimortalidade materna e
perinatal, de cesáreas e de outras práticas intervencionistas, além de redução
de gastos hospitalares e melhoria na assistência à mulher. Além disso é
importante ressaltar que o enfermeiro obstetra têm sido um dos principais
responsáveis por produzir trabalhos de inegável contribuição para a mudança da
prática obstétrica, haja vista as inúmeras publicações dessas profissionais.
A
relevância da formação dos enfermeiros obstetras se inscreve, portanto, no
contexto da atual realidade brasileira: Desmedicalizar o parto quanto as
intervenções desnecessárias e torná-lo novamente um processo normal e
fisiológico. Empreender cuidados, e não necessariamente intervenções. Estar ao
lado, oferecer apoio e empatia. Obstare. A residência
em enfermagem obstétrica, propicia, por sua vez, que as residentes acreditem,
através de práticas baseadas em evidencias, em um parto normal, humanizado,
estando ao lado da mulher durante todo o processo de parturição, dando a mesma
o poder de escolha e autonomia. Mesmo em instituições com suas rotinas
assistenciais já definidas e muitas vezes cerceadas a práticas prejudiciais e
ineficazes, é possível fazer diferente, uma vez que esse modelo de formação
preconiza as melhores evidências científicas para assistir a parturiente.
Aumentar
o quantitativo de profissionais capacitados, incrementar sua qualificação e
pressionar pela transformação do modelo de atenção, são as principais
justificativas que sustentam essa formação no Brasil, proposta defendida por
diversas entidades e por pesquisadores envolvidos com a temática da saúde da
mulher.
Conflito
de interesse
Não
há conflito de interesse
Fontes
de financiamento
Nenhuma
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Janzen DC; Coleta de dados: Zuliane DS; Análise e interpretação dos dados: Janzen DC; Zuliane DS; Redação
do manuscrito: Janzen DC, Zuliane
DS; Silva EF; Barreto LV; Silva LCP; Revisão crítica do manuscrito quanto ao
conteúdo intelectual importante: Janzen DC, Zuliane DS, Silva EF, Barreto LV, Silva LCP