Gravidez na adolescência: um desafio intersetorial

Autores/as

  • Alessandra Lima Vicentim FAMERP
  • Natália Sperli Geraldes Marin dos Santos Sasaki FAMERP
  • Maria de Lourdes Sperli Geraldes Santos FAMERP

DOI:

https://doi.org/10.33233/eb.v18i5.3362

Resumen

A adolescência é uma fase de transição entre a infância e a vida adulta, permeada por transformações fí­sicas, biológicas, sociais e emocionais, representando um marco para a maioria dos indiví­duos. Cronologicamente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define adolescência como o perí­odo compreendido entre os 10 e 19 anos de idade, tal definição também é adotada pelo Ministério da Saúde no Brasil [1-2] e programas e ações de saúde voltados í  adolescência devem levar em consideração esta faixa etária.

Nesta fase ocorre a puberdade e o iní­cio dos relacionamentos amorosos e, consequentemente, a primeira relação sexual. Atualmente a coitarca das adolescentes tem ocorrido em média aos 14 anos, porém percebe-se tendência de que a mesma ocorra de forma cada vez mais precoce. Frente ao iní­cio das relações sexuais e com a adolescente fisiologicamente pronta para a reprodução, a gravidez torna-se um fato, caso não sejam tomadas medidas para sua prevenção. Há de se considerar que mesmo pronta fisicamente, geralmente não acontece nos âmbitos social e emocional para exercer a parentalidade. Assim, a gestação na adolescência traz complicações consideráveis para esta população tanto no presente quanto no futuro.

Tem-se observado a ocorrência da gravidez na adolescência em um perfil especí­fico, adolescentes casadas ou em união estável, que não exercem atividade remunerada e que interromperam os estudos. Estas adolescentes podem ver no papel de mãe um meio para aquisição de "status" social e uma forma de reconhecimento. Tal fato pode ser compreendido quando esta não possui outros projetos ou expectativas ligadas ao crescimento pessoal e/ou profissional ou incentivo para os mesmos, sendo influenciada pela situação socioeconômica.

Um fato considerável atualmente é que estas meninas possuem conhecimento em relação aos métodos contraceptivos, principalmente do preservativo masculino e anticoncepcional hormonal oral, porém somente o conhecimento não se traduz em uso, e para que ele ocorra faz-se necessário assegurar o acesso aos métodos e o combate às barreiras que prejudicam a sua utilização.

Frente a este painel, há três pilares essenciais para a prevenção da gravidez na adolescência: a escola, a famí­lia e a atenção básica. Para o sucesso das ações é necessário que o trabalho ocorra de forma intersetorial. A escola é um local privilegiado para a execução de ações de educação em saúde, pois é um espaço para aquisição de conhecimento, socialização e debates, porém vê-se a necessidade de discutir a saúde sexual e reprodutiva de forma cada vez mais precoce, pois, se abordado somente no ensino médio, oitavo ou nono ano, talvez as ações preventivas não atinjam o esperado, visto o iní­cio cada vez mais cedo das relações sexuais. Quanto í  famí­lia, sabe-se que a supervisão dos pais ou responsáveis retarda o iní­cio da relação sexual e aumenta as taxas de uso de métodos contraceptivos. Por fim, a atenção básica, e dentro dela o enfermeiro, tem trabalhado a saúde sexual e reprodutiva e a prevenção da gravidez na adolescência através da educação em saúde e ações em conjunto com escolas e comunidade, consultas de enfermagem, grupos de adolescentes e planejamento familiar.

Vale a pena ressaltar que o acesso do adolescente í  unidade de saúde deve ser facilitado e o mesmo deve ser visto como indiví­duo que necessita de atenção integral, privacidade e confidencialidade pelos profissionais de saúde, além de acolhido de forma adequada. A Estratégia de Saúde da Famí­lia e o Programa Saúde na Escola são instrumentos essenciais para aproximação desta população, criação de ví­nculo e queda de barreiras, trazendo o adolescente para dentro da unidade de saúde. Entretanto, apesar dos esforços, muitas vezes as ações realizadas parecem insuficientes para a prevenção da gravidez na adolescência. Talvez realmente sejam, pois, além de discutir saúde sexual e reprodutiva, um tema essencial deve ser trabalhado, o empoderamento das adolescentes, capacitando-as para a tomada de decisões, para a realização de projetos e planos, para a continuidade dos estudos, profissionalização e entrada no mercado de trabalho, para que estas sejam capazes de atingir o crescimento pessoal e/ou profissional e superar as vulnerabilidades a que está sujeita em seu meio através do incentivo e de oportunidades. Portanto, trabalhar o empoderamento também é prevenir a gravidez na adolescência.

Biografía del autor/a

Alessandra Lima Vicentim, FAMERP

*Enfermeira obstetra, Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), servidora pública da Secretaria de Saúde de São José do Rio Preto/SP, docente do curso de Enfermagem da União das Faculdades dos Grandes Lagos (Unilago)

Natália Sperli Geraldes Marin dos Santos Sasaki, FAMERP

Enfermeira obstetra docente e coordenadora do curso de enfermagem da União das Faculdades dos Grandes Lagos – Unilago, docente do programa de mestrado em enfermagem da FAMERP

Maria de Lourdes Sperli Geraldes Santos, FAMERP

Enfermeira, doutora pelo Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (USP), professora adjunta IV da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – SP (FAMERP) e docente da graduação e pós-graduação em Enfermagem da FAMERP

Citas

World Health Organization [homepage na Intenet]. Geneva: WHO; 2018 [citado 2018 Nov 14. Adolescent health; [aproximadamente 3 telas]. Disponível em: http://www.who.int/maternal_child_adolescent/adolescence/en/

Brasil. Ministério da Saúde. Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na atenção básica. Brasília: Ministério da Saúde; 2017.

Publicado

2019-11-08