Envelhecimento, adesão í terapia medicamentosa e a educação em saúde
DOI:
https://doi.org/10.33233/eb.v12i1.3722Resumen
Nas últimas décadas a composição etária da população dos países ocidentais tem sofrido alterações constantes, e os idosos compreendem uma parcela cada vez maior. O principal impacto que o envelhecimento populacional traz para o sector de saúde é uma importante alteração nas causas de morbimortalidade. As doenças infecto-contagiosas cedem lugar às doenças crônico-degenerativas, que se tornam progressivamente mais prevalentes, obrigando seus portadores a procurarem os serviços de saúde com grande frequência.
O idoso apresenta invariavelmente índices maiores de morbidade quando comparados aos demais grupos etários. A polipatologia inevitável parece guiar para a polifarmácia, uma condição mais frequente no idoso do que na população jovem. A maioria dos idosos consome pelo menos um medicamento, e cerca de um terço deles consome 5 ou mais simultaneamente, sendo que a média oscila entre 2 e 5 medicamentos [1]. Além disso, apresentam uma série de características peculiares que induz a uma maior complexidade, no momento da abordagem terapêutica. Esta mais complexa terapia medicamentosa adicionada í baixa informação sobre o seu uso pode levar a maiores problemas na administração de seus medicamentos, tendo em vista que a maioria das orientações durante a consulta é verbal, o que aumenta a possibilidade de erro.
Muito embora os idosos possam talvez não fazer mais erros de medicação do que os jovens, as consequências deletérias podem ser mais sérias, menos facilmente detectadas e menos facilmente resolvidas do que em pacientes de menor idade. Desta forma, erros de medicação são um sério problema em potencial, implicando em aspectos clínicos e sociais de alta relevância, tendo em vista a saúde do paciente e o custo social que isso gera.
Pacientes que deixam de tomar as suas medicações corretamente podem não responder í terapia. Assim, na próxima consulta, o médico pode avaliar que o paciente não evoluiu, podendo questionar a validade do seu diagnóstico, como também prescrever uma dose maior do mesmo medicamento, ou ainda alterar a terapia medicamentosa a qual pode ser menos eficaz e ter um índice de efeitos adversos maior que a terapia inicial. Da mesma forma, pacientes que deixam de cumprir as instruções podem experimentar sérias deteriorações de suas condições, de maneira a pôr em risco a sua saúde. Além disso, pacientes que não aderem í terapia não apenas reduzem os benefícios e aumentam os riscos dos medicamentos mas também aumentam os custos de si mesmos e também do sistema de saúde.
A adesão í terapia pode ser avaliada pelo grau de concordância entre o comportamento de um doente em tomar os medicamentos, seguir dietas, alterar estilos de vida e as orientações dadas pelos profissionais de saúde. Quando revisamos a literatura sobre a adesão do paciente í terapia medicamentosa, encontramos estimativas que variam entre 4% e 92%, com uma média de adesão nas patologias crônicas entre 50% e 65%. Muitas são as razões apontadas para a fraca adesão í terapia medicamentosa, e perceber as razões do fracasso na adesão í terapêutica não é tarefa fácil, visto que os comportamentos de cada indivíduo, nomeadamente os comportamentos de saúde, são uma resultante de todos os fatores que influenciam a vida de cada um. Nenhum fator é determinante da adesão, mas, em diferentes graus, todos eles influenciam.
Talvez os conhecimentos do paciente facilitem um maior cumprimento do tratamento, favorecendo comportamentos específicos de conservação e promoção de saúde. Em geral, as terapias complexas não se seguem, e possivelmente exista pouco cumprimento dos tratamentos cujos propósitos e finalidades não tenham sido expostos de forma clara e inteligível por parte dos profissionais de saúde. A educação do paciente, tanto sobre a doença, como sobre seu tratamento, é um fator fundamental que se deve ter em conta. Muito embora o reconhecimento de algo por si só não seja um indicador de mudança de conduta, se tem demonstrado que certa quantidade de informação é necessária para iniciar o processo que conduzirá a uma mudança de comportamento.
Ao abordar este tema, espera-se ressaltar a importância educacional dos profissionais de saúde, em particular os médicos, enfermeiros e farmacêuticos no que diz respeito í avaliação, prescrição, educação e administração dos medicamentos ao paciente idoso, permitindo desta forma que certas estratégias cheguem a ser mais debatidas.
A mudança demográfica deveria trazer consigo uma nova maneira de pensar sobre o processo de envelhecimento. Nossa sociedade e o governo ainda não têm a noção adequada de como proporcionar um envelhecimento digno e com qualidade.
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Citas
Rosenfeld, S. Prevalência, fatores associados e mau uso de medicamentos entre os idosos: uma revisão. Cad Saúde Pública 2003;19(3):717-24.