Fisioter Bras 2022;23(6):881-98
REVISÃO
Exercício aeróbico e o
efeito sobre a pressão arterial de pacientes em hemodiálise: revisão
integrativa
Aerobic exercise and the effect on blood pressure in patients in
hemodialysis: integrative review
Laura Reche Barcelos, Ft., M.Sc.*, Barbara Caroliny Pereira
Costa**, Cynthia Kallás Bachur,
Ft. D.Sc.***, Eugenia Velludo
Veiga****
*Universidade de São
Paulo (EERP/USP), Membro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Hipertensão
Arterial (GIPHA-EERP/USP), Ribeirão Preto, SP, **Enfermeira, Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Fundamental, Universidade de São Paulo
EERP/USP), Membro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Hipertensão Arterial
(GIPHA-EERP/USP), Ribeirão Preto, SP, ***Universidade de São Paulo (EERP/USP),
Membro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Hipertensão Arterial
(GIPHA-EERP/USP), Ribeirão Preto, SP, ****Enfermeira, Professora Titular,
Universidade de São Paulo (EERP/USP), Líder do Grupo Interdisciplinar de
Pesquisa em Hipertensão Arterial (GIPHA-EERP/USP), Ribeirão Preto, SP
Recebido em 28 de fevereiro
de 2022; Aceito 5 de dezembro de 2022.
Correspondência: Laura Reche Barcelos, Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Avenida Bandeirantes
3900 Vila Monte Alegre 14040-902 Ribeirão Preto SP
Laura
Reche Barcelos: laurar.barcelos@hotmail.com
Barbara Caroliny Pereira Costa: barbaracarolinypereira@gmail.com
Cynthia Kallás Bachur: kabachur@gmail.com
Eugenia Velludo Veiga: evveiga@eerp.usp.br
Resumo
Objetivo: Identificar evidências na literatura
sobre o efeito do exercício físico aeróbico na redução dos níveis de pressão
arterial entre os pacientes com diagnóstico de hipertensão arterial e
insuficiência renal crônica em tratamento de hemodiálise. Métodos:
Revisão integrativa realizada no mês de maio de 2020 nas bases US National Library of Medicine, Sci Verse, Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciência da Saúde, Physioterapy Evidence Database e Portal de
busca integrada. Para a busca foram usados descritores e estratégias de buscas
combinadas. Foi usado o recorte de 15 anos (janeiro/2005 a maio/2020). A partir
dos critérios de exclusão e leitura dos artigos com potencial para inclusão
foram encontrados um total de 876 documentos. Foram considerados os idiomas português, inglês, chinês, japonês e coreano devido
a quantidade de trabalhos encontrados nos tais idiomas. Resultados:
Foram incluídos 13 artigos nesta pesquisa, os conteúdos relacionados deveriam
corresponder a insuficiência renal crônica, hipertensão arterial sistêmica,
hemodiálise e exercício físico aeróbico durante a hemodiálise. Conclusão:
Os resultados sintetizados neste estudo permitem reforçar que os exercícios
físicos aeróbicos realizados durante a hemodiálise são essenciais para o
tratamento e redução da pressão arterial e para a saúde em geral do paciente
renal crônico.
Palavras-chave: insuficiência renal crônica,
hipertensão, diálise renal, exercício físico.
Abstract
Objective: To identify evidence in the literature on the effect
of aerobic exercise in reducing blood pressure levels among patients diagnosed
with arterial hypertension and chronic renal failure undergoing hemodialysis. Methods:
Integrative review carried out in May 2020 in the US National Library of
Medicine, Sci Verse, Latin American and Caribbean Health Science Literature,
Physiotherapy Evidence Database and Integrated Search Portal. For the search,
descriptors and combined search strategies were used. The time frame of 15
years was used (January/2005 to May/2020). From the exclusion criteria and
reading of articles with potential for inclusion, a total of 876 documents were
found. Portuguese, English, Chinese, Japanese, Korean were considered due to the
amount of works found in such languages. Results: 13 articles were
included in this research, the related contents should correspond to chronic
renal failure, systemic arterial hypertension, hemodialysis and aerobic
exercise during hemodialysis. Conclusion: The results summarized in this
study allow us to reinforce that aerobic physical exercises
performed during hemodialysis are essential for the treatment and reduction of
blood pressure and for the general health of the chronic renal patient.
Keywords: chronic
renal insufficiency; hypertension;
renal dialysis; exercise.
A Doença
Renal Crônica (DRC) é reconhecida como um problema global de saúde pública e
consiste na perda permanente da função dos rins. No Brasil, 5 em cada 10.000 indivíduos
chegam a necessitar de alguma terapia renal substitutiva, pois 3 em cada 100
indivíduos seriam portadores da doença. Os dados demonstram que pelo menos 2,4
milhões de pessoas, anualmente, vão a óbito por causa da DRC. Acredita-se que
as causas da DRC estejam associadas a fatores de risco decorrentes das
condições sociodemográficas, comportamentais e/ ou das doenças crônicas já
instaladas [1,2].
A anemia,
acidose metabólica, alterações do metabolismo mineral ósseo, desnutrição,
controle inadequado da pressão arterial (PA) e óbito, principalmente por
eventos cardiovasculares fazem parte das complicações encontradas nos
pacientes. Os indivíduos acometidos apresentam risco aumentado de mortalidade e
cardiopatias quando comparados a população em geral. Cerca de 45% dos pacientes
renais que vão a óbito são por causas cardiovasculares, e, considera-se que a
PA deve ser um alvo terapêutico nos pacientes, principalmente naqueles que
estão submetidos ao tratamento de hemodiálise (HD) [3,4].
A
DRC e a
hipertensão arterial sistêmica (HAS) são
doenças que andam lado-a-lado. Como os
rins são responsáveis pela regulação da PA,
qualquer alteração nestes órgãos
provoca também alterações nos níveis de PA,
no entanto, é importante ressaltar
que a PA pode ser tanto a causa como uma consequência da DRC [5].
A HAS é
uma doença silenciosa definida pelo aumento da pressão arterial sistólica (PAS)
e da pressão arterial diastólica (PAD), em níveis sustentados acima de 140 mmHg
e 90 mmHg, respectivamente. Além disso, é uma condição clínica multifatorial
associada a alterações funcionais e estruturais nos órgãos-alvos (coração,
cérebro, rins), aumentando o risco de eventos cardiovasculares,
cerebrovasculares e renais. Pessoas com HAS pertencem ao grupo com maior
probabilidade em desenvolver IRC [2,5,6,7].
Não há
cura para a DRC, no entanto, existem tratamentos no ambiente clínico que tem
como objetivo desempenhar parcialmente a função de filtração renal, aliviando
sintomas da doença e preservando a vida do paciente. Estes tratamentos são
conhecidos por terapia renal substitutiva (TRS), e são eles: a hemodiálise
(HD), a diálise peritoneal (DP) e o transplante renal [2,8,9]
No
tratamento dialítico, as funções renais não são restabelecidas totalmente, porém,
representam uma possibilidade para manter a vida do paciente, evitando uma
morte precoce [8,9,10].
Apesar da
terapia dialítica ter como objetivo a melhora dos sintomas da IRC, é comum que
os valores de PA continuem elevados. Mesmo com o início da HD e de todo o
tratamento para reduzir os efeitos da doença, cerca de 80% dos pacientes
permanecem com a PA alterada e apenas uma minoria tem o controle adequado dos
valores da PA [11].
O
exercício físico torna-se um aliado significativo para a melhora da capacidade
física funcional do paciente em HD. O programa de exercício físico aeróbico bem
planejado para os pacientes de forma individualizada, durante a HD é um método
de tratamento seguro e de fácil aplicação, contribuindo para o controle dos valores
de PA, melhora do sistema cardiovascular e da força muscular e consequentemente
uma melhora na QV. A prática de exercício físico aeróbico é essencial como
parte da prevenção e do tratamento não medicamentoso da hipertensão. As
diretrizes preconizam que o exercício aeróbico deve ser encorajado a todos os
pacientes hipertensos [12,13].
O
exercício físico aeróbico é aquele que envolve os grandes grupos musculares,
que serão contraídos de forma cíclica, como caminhada, corrida e ciclismo, que
sejam realizados com intensidade leve a moderada (40% a 60% de VO2 pico) e que
tenham longa duração da sessão e da frequência semanal [12,13].
Durante a
HD, é possível realizar o exercício físico com o paciente sentado na cadeira de
diálise, em uma posição confortável, utilizando um aparelho simples e de fácil
manuseio para a realização do exercício aeróbico conhecido como ciclo ergômetro
[14,15].
Torna-se
imperioso considerar a capacitação do profissional responsável pela gestão do
exercício físico durante a HD, tendo conhecimento aprofundado sobre fisiologia
do exercício para interpretação das modificações fisiológicas decorrentes,
assim como as contraindicações para admissão do paciente ao tratamento, e
também possíveis riscos e sinais de alerta. Esses riscos correspondem a
interrupção do exercício e análise do ocorrido. As situações correspondentes
são: hipo ou hiperglicemia, queda da saturação do O2,
isquemia miocárdica, arritmias cardíacas e severa elevação da PA, entre outras
[16].
Com base
nos diversos benefícios que o exercício físico aeróbico intradialítico
proporciona ao paciente hipertenso e renal crônico submetido a HD, este estudo
apresentou como objetivo identificar evidencias na literatura sobre o efeito do
exercício físico aeróbico na redução dos níveis de pressão arterial entre os
pacientes com diagnóstico de hipertensão arterial e insuficiência renal crônica
em tratamento de hemodiálise.
Trata-se
de uma revisão integrativa da literatura, a fim de alcançar o objetivo proposto
do estudo. A partir do problema da pesquisa, foi definida uma pergunta
norteadora bem delineada para permitir guiar a seleção dos descritores e
distinguir as informações relevantes. Para construção dessa pergunta
norteadora, foi utilizada a estratégia PICO. Nessa estratégia, P corresponde à
população (population), I corresponde à intervenção (intenvention), C é comparação ou controle (comparation/control) e O
corresponde ao desfecho (outcome) [17,18].
A
pergunta desta pesquisa, a partir desta estratégia, foi: “O exercício físico
aeróbico pode ser uma estratégia clínica eficaz para redução dos valores da
pressão arterial em hipertensos com insuficiência renal crônica submetidos à
hemodiálise?”
A busca
dos estudos primários foi realizada nas seguintes bases de dados: US National Library of Medicine
(PUBMED), Sci Verse (SCOPUS), Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciência da Saúde (LILACS), Physioterapy
Evidence Database (PEDro) e Portal de busca integrada (PBi).
A escolha de cinco bases de dados contribuiu para uma qualidade de busca mais
ampla neste tipo de estudo.
A
estratégia de busca foi baseada nas combinações dos descritores controlados e
não controlados de acordo com as especificidades das bases de dados. Os descritores
foram combinados de diversas formas, garantindo uma busca ampla dos estudos.
Foi utilizada, para delimitar, sensibilizar e especificar as buscas, a
combinação a partir dos operadores boleanos AND, OR,
NOT na língua inglesa, que traduzidos para o português significam E, OU, NÃO. O
quadro 1 se refere aos descritores e palavras-chave utilizadas e o quadro 2 se
refere à estratégia de busca.
Quadro 1 – Descritores e palavras-chave
correspondem a cada base de dados. Ribeirão Preto, SP, Brasil. 2021
Fonte:
Elaborado pelos autores
Quadro 2 – Estratégia de busca nas
respectivas bases de dados. Ribeirão Preto, SP, Brasil. 2021
Fonte:
Elaborado pelos autores
Foram
considerados tais critérios de inclusão: pesquisas desenvolvidas em seres humanos,
ano de publicação entre 2005 a junho de 2020, artigos nos idiomas português,
inglês, chinês, japonês e coreano. Optou-se pelo corte temporal de
aproximadamente 15 anos devido a quantidade de estudos relevantes publicados
entre esse período, assim pode-se coletar informações relevantes para a
construção desta revisão integrativa considerando uma busca mais ampla. A
escolha dos idiomas se deu devido a uma busca primária para se contextualizar o
que havia sido publicado durante aproximadamente os últimos 15 anos, notando
uma quantidade significativa de publicações em alguns países orientais, além do
inglês que é considerado um dos principais idiomas no mundo, e o português por
ser o idioma nacional.
Foram
excluídos estudos com foco em diálise peritoneal, insuficiência renal aguda,
exercícios anaeróbicos/resistidos, outras doenças crônicas que não fossem
hipertensão arterial e insuficiência renal crônica, estudos sobre outras
variáveis, estudos que utilizaram estratégias nutricionais e dietéticas,
estudos em crianças e adolescentes, estudos em grávidas, pré-diálise
ou transplantes, cartas ao editor e documentos sem acesso livre.
O
processo de seleção se deu, inicialmente, por meio da leitura dos títulos e
resumos e posteriormente a uma análise minuciosa dos artigos selecionados,
partindo para inclusão daqueles potencialmente relevantes. A sintetização dos
artigos foi por meio do software Rayyan, que tem o
objetivo de facilitar a identificação de estudos primários de revisões
sistemáticas de forma semiautomática. Os estudos também foram inseridos no
software End Note basic,
versão online e gratuito. Este software é um gerenciador de referências
bibliográficas, que integra diversas bases de dados e apresenta facilidade em
organizar os artigos a serem selecionados em local seguro e acessível para
construção textual. Para avaliação do nível de evidência dos estudos,
utilizou-se a classificação de Fineout-Overholt e Melnyk [19], que define o nível de evidências em diferentes
questões clínicas, determinando a hierarquia de evidências dependendo da
questão clínica.
A busca
resultou na identificação de 876 artigos. Após as estratégias de seleção,
delimitação, avaliação, sistematização e leitura na íntegra, a amostra final
desta pesquisa foi de 13 artigos que contemplavam os critérios estabelecidos
para esta revisão. A estratégia de elegibilidade e inclusão dos estudos foi
descrito no fluxograma abaixo, conforme o modelo de PRISMA (Principais Itens
para Relatar Revisões Sistemáticas e Meta-Análises).
Fonte:
Fluxograma do processo de seleção dos estudos, adaptado do Preferred
Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses (PRISMA). Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2022
Figura 1 – Fluxograma da revisão integrativa
Foram
eliminados 34 artigos duplicados, encontrados de forma automática pelo software
Rayyan. Foi realizada a leitura de 842 artigos pelo
título e resumo e excluídos 711, posteriormente, por não corresponderem de
alguma forma com os critérios de inclusão estabelecidos nesta revisão
integrativa. A amostra de artigos selecionados pelo título e resumo resultou em
131 estudos, que após leitura minuciosa do texto completo, foram selecionados
13 artigos potencialmente relevantes que se encaixavam nos critérios de
elegibilidade da pesquisa.
Os
principais motivos encontrados para exclusão dos estudos
através da leitura dos
títulos e resumos foram estudos em: crianças,
transplantados,
diálise-peritoneal, animais, estudos que não citavam a
avaliação da hipertensão/pressão
arterial e estudos avaliando apenas o exercício
anaeróbico. A exclusão dos
estudos, na fase de leitura do texto completo, foi devido ao fato de
não se
enquadrarem dentro do tema proposto por esta revisão, pré-diálise
e transplante.
Observou-se
um incremento no número de publicações a partir do ano de 2012. Houve maior
número de artigos publicados, segundo a amostra final em 2019, com três
artigos. Houve dois artigos incluídos dos anos de 2007 e 2012. Nos anos de
2005, 2008, 2013, 2016, 2017, 2018 houve apenas um artigo de cada incluído. O
que justifica, portanto, a escolha do corte temporal de estudos publicados nos
últimos 15 anos, a fim de ampliar a amostra final desta revisão.
Enquanto
ao delineamento dos estudos, verificaram-se quatro diferentes tipos de
abordagem metodológica, revisão de literatura, revisão sistemática/metanálise, ensaio clinico randomizado, estudo piloto. A
amostra desta revisão integrativa foi composta por 38% (n = 5) de revisão de
literatura, 38% (n = 5) de revisão sistemática/metanálise,
os ensaios clínicos foram um total de 15% (n = 2) e o restante 9% (n = 1)
estudo piloto. O que demostra baixo nível de evidência na maioria dos estudos.
Quanto ao
país de origem dos estudos, o maior número de estudos identificados foi no
Brasil com sete publicações (53,8%), seguido da China com duas publicações
(15,4%) e o restante com uma publicação em cada: Austrália (7,7%), Estados
Unidos da América (7,7%), Canadá (7,7%) e Coreia do Sul (7,7%). No quadro 3 a
seguir foi demonstrada a síntese de cada estudo incluído.
Quadro 3 – Síntese dos estudos incluídos.
Ribeirão Preto, SP, Brasil. 2021
Os
resultados desta revisão integrativa demostram que o exercício físico aeróbico
pode ser uma estratégia clínica eficaz para a redução dos valores de pressão
arterial em hipertensos com insuficiência renal crônica submetidos à
hemodiálise. Pode ser prescrito durante sessões de HD e deve ser uma conduta do
fisioterapêutica encorajada pela equipe multidisciplinar dentro dos centros de
diálise do país; pode reduzir os valores de pressão arterial em até -6mmHG;
contribui na diminuição dos riscos cardiovasculares e traz benefícios à saúde
em geral do paciente; seu tratamento medicamentoso anti-hipertensivo pode sofrer
redução entre os diferentes tipos de drogas e doses prescritas. Recomendar a
prescrição do exercício físico, durante a hemodiálise, apresenta benefícios na
adesão desta atividade, além de promover dinâmica à terapia renal. A avaliação
fisioterapêutica completa do paciente, com enfoque na insuficiência renal
crônica, hipertensão arterial e fisiologia do exercício, a fim de ajustar um
protocolo adequado ao paciente, colabora com a evolução do tratamento
[8,9,11,20,21,22,23,24,25,26,27,28,29]
A
tolerância às atividades rotineiras e básicas do ser humano, na população renal
crônica, é significativamente reduzida, um fator perceptível até aos
familiares. Iniciar o protocolo de exercício aeróbico intradialítico
o quanto antes possível junto a admissão do paciente ao tratamento de HD,
torna-se imprescindível [21].
Todos
os
estudos incluídos nesta pesquisa apresentaram que o
exercício físico aeróbico é
um aliado não somente do controle dos valores de PA, mas
também da melhora da
saúde em geral e qualidade de vida dos pacientes submetidos a
HD. Autores
descrevem que além da pressão arterial, o
exercício físico aeróbico melhora a
capacidade funcional, perfil lipídico e a variabilidade da FC. E
ainda
acrescentam que o exercício físico aeróbico
é uma intervenção não farmacológica
que pode contribuir para a melhora da saúde cardiovascular das
pessoas adultas
com a insuficiência renal crônica instalada e
diagnóstico de hipertensão
arterial [29].
Estudo
relaciona a realização da avaliação do efeito do exercício físico aeróbico, em
pacientes submetidos à hemodiálise, sob a rigidez arterial. A intervenção do
estudo com o exercício físico aeróbico ocorreu durante um período de 3 meses e
o total de 11 pacientes concluíram esta intervenção. A rigidez arterial foi
avaliada pelo índice de onda de pulso, e o resultado obtido foi significativo,
ou seja, houve diminuição da rigidez arterial [20].
A rigidez
arterial se caracteriza pela menor complacência da artéria, ou seja, sua
capacidade de distensibilidade. Sendo assim, a rigidez arterial está ligada com
o enrijecimento da artéria aorta que subsequentemente causa aumento da PAS e
diminuição da PAD. Alvim et al. [6] avaliaram diretamente, em sua
pesquisa, a pressão arterial em pacientes hipertensos submetidos ao tratamento
dialítico. Usando o ciclismo estacionário (ciclo ergômetro) durante 6 meses no
período de HD, sendo uma amostra total de 40 participantes nesta atividade. Os
resultados da intervenção foi que não houve alterações dos valores de PA dos
pacientes participantes que concluíram os 6 meses de intervenção, entretanto
houve resultados significativos na redução da dosagem de medicamentos
anti-hipertensivos desses pacientes, porém os autores não descreveram em quais
medicamentos anti-hipertensivos houve redução.
Os
resultados da pesquisa de Bucharles et al. [7]
demonstraram resposta positiva sobre a redução dos valores de PA à intervenção,
porém a avaliação que seria de 3 meses só obteve resultado a partir do quarto
mês, e ainda acrescentam que o período de intervenção para alcançar resultados
mais relevantes deve ser de no mínimo 6 meses. Houve comparação dos valores de
PA em grupo intervenção e grupo controle. Uma combinação de aproximadamente 287
pacientes concluiu que o exercício físico aeróbico intradialítico
pode reduzir a PAS em uma média de - 4,87 mmHg e uma média da PAD de - 4,11
mmHg. Ainda consideraram que o exercício intradialítico
é benéfico e seguro, pois além dos resultados positivos para a redução da PAS e
PAD não identificaram riscos ou eventos adversos, como por exemplo, hipotensão.
Os
achados de uma análise da intervenção feita por Böhm et
al. [23] entre diferentes faixas-etárias e sobre a PA foram significativos
para idades entre 40 e 50 anos e principalmente para os pacientes acima de 50
anos, no entanto, os autores não explicaram o motivo que possa ter levado o
melhor resultado nas pessoas que se encontravam dentre essa faixa de idade.
Estudo de Pu J et al. [29] considerou insignificantes os
resultados do exercício aeróbico. Houve uma média de redução dos valores de PA
de -3 mmHg e considerou melhores os resultados de exercícios de modalidades
combinadas. Porém, conclui-se que a partir da média de redução de -3 mmHg em
uma PAS de aproximadamente 150 mmHg, entretanto, pode se considerar
significativo, uma vez que reduzirá para cerca de 120 mmHg, o que já apresenta
melhora considerável.
Foi
realizada uma avaliação sobre uma amostra de 13 pacientes, utilizando o exame
MAPA antes e após 3 e 6 meses de exercício físico aeróbico. Os resultados foram
significativos, segundo os autores, a PAS foi de 138 mmHg para 125 mmHg e a PAD
foi de 83 mmHg para 74 mmHg. Essa redução foi perceptível após os 3 meses de
intervenção e na segunda avaliação 6 meses depois do início do exercício físico
aeróbico os valores de PA estavam estáveis semelhantes a avaliação após 3 meses
[13].
Um estudo
realizado por Martins et al. [30], durante 40 semanas, demonstrou
redução equivalente a 6% da PA repouso após o início da intervenção, além de
uma melhora de aproximadamente 24% na duração do exercício físico aeróbico, o
que sustenta que é uma estratégia, além de benéfica, consideravelmente segura
para ser usada coadjuvante ao tratamento convencional dos pacientes dialíticos.
Foi
documentado que além dos resultados sobre a PA dos pacientes, a medicação
anti-hipertensiva também foi reduzida, porém os autores não citaram no estudo
quais os nomes dos medicamentos. No entanto, foi constado que exercício físico
aeróbico durante a HD resultou em redução dos medicamentos anti-hipertensivos
em 54% dos pacientes do grupo intervenção [31].
A média
de redução da PA encontrada em um outro estudo foi de 18,4 mmHg para 14,7 mmHg
de PAS, e de 10,5 mmHg para 9,6 mmHg de PAD. Essa intervenção foi realizada em
um período de 12 semanas em uma amostra total de 14 pacientes [32].
O peso da
resposta cardiovascular depende diretamente do exercício em que está sendo
executado pelo indivíduo, quanto a intensidade e duração e o tipo. O exercício
físico aeróbico é caracterizado por contrações musculares seguidas, sem
obstrução do fluxo sanguíneo, com isso há um aumento da atividade simpática,
que ocasionará elevação da frequência cardíaca (FC), do débito cardíaco (DC),
do volume sistólico e redução da resistência vascular periférica (RVP). A
produção de metabólitos na musculatura ativa durante o exercício promove
vasodilatação, o que resulta na diminuição da RVP, um dos principais mecanismos
de redução da PA. No exercício físico aeróbico nota-se um aumento da PAS e
manutenção da PAD [22,33].
O
exercício físico aeróbico contribui para redução da PA em repouso, e observa-se
duas maneiras distintas em que isso ocorre. Após o término do exercício ocorre
uma resposta aguda de diminuição da PA, denomina-se efeito hipotensivo
pós-exercício. Essa resposta se perdura por algumas horas após o término do
exercício, mantendo de 24 a 48 horas, e em alguns casos até 72 horas pode ser
observada redução dos níveis tensionais arterial [22,24].
Denomina-se
hipotensão pós-exercício por apresentar redução significativa da PA durante o
período de repouso após o término do exercício físico aeróbico. Nesse momento,
os valores pressóricos são inferiores aos valores iniciais, medidos antes do
início do exercício. Isso ocorre tanto em indivíduos hipertensos quanto em
normotensos. Do ponto de vista hemodinâmico, isso é explicado pela diminuição
da RVP total e do DC, portanto uma única sessão de exercício físico aeróbico
contribui para uma redução dos níveis de PA, devido a atenuação do DC associado
a redução do volume sistólico. Outra maneira eficiente é adquirir o efeito
hipotensivo como resposta crônica. As adaptações crônicas são as que expõe o
organismo às respostas fisiológicas a longo prazo, e são resultados de um
período maior de treinamento e regularidade. Alguns autores defendem que alguns
mecanismos fisiológicos, como diminuição dos níveis de catecolaminas
plasmáticas, noreprinefrina circulante e epinefrina,
só são observados após um período de no mínimo três semanas de treinamento
[22].
Os
autores incluídos na amostra de estudos desta pesquisa defendem que, para
manter a segurança do indivíduo hipertenso na realização do exercício físico
aeróbico, é imprescindível seguir os critérios de prescrição, no que diz
respeito as fases do exercício. São elas: aquecimento (de 5 a 10 minutos), esta
fase o indivíduo inicia pedalando em movimentos mais lentos para chamar com
cautela a adrenalina e os demais mecanismos, preparando os músculos, tendões e
tecidos conectivos que atuaram durante a atividade; condicionamento (no mínimo
30 minutos), nesta fase o indivíduo atinge o condicionamento cardiovascular, ou
seja, é a execução do exercício propriamente dito; desaquecimento (de 5 a 10
minutos); fase em que o indivíduo retorna a pedalar com movimentos lentos para
acalmar o organismo, permitindo que o corpo se reajuste, mantendo gradualmente
o retorno venoso ao coração, facilitando a dissipação de calor e removendo o
ácido lático, sabe-se que uma interrupção abrupta pode apresentar riscos ao
paciente [24].
Esta
revisão integrativa contou com algumas limitações,
quanto ao nível de evidência
dos estudos encontrados, ao período de publicação
dos artigos que não estão
atualizados e a escassez de documentos que abordassem diretamente o
tema
diagnóstico de hipertensão arterial e insuficiência
renal crônica e a
realização do exercício físico
aeróbico durante a hemodiálise para redução
ou
controle dos valores de pressão arterial dos pacientes.
Diante
desta revisão integrativa, identificaram-se benefícios importantes no controle
dos valores de pressão arterial, consequentes a realização do exercício físico
aeróbico durante a hemodiálise. Desta forma, recomenda-se a implementação desta
estratégia nos centros de diálise pelo sistema de saúde para que o exercício
físico aeróbico faça parte do tratamento de pacientes hipertensos que tenham
insuficiência renal crônica e estejam submetidos à hemodiálise.
Ainda se
aconselha que outros estudos clínicos experimentais, envolvendo o exercício
físico aeróbico em pacientes hipertensos e com diagnóstico de insuficiência
renal crônica, que estejam em tratamento de hemodiálise, sejam desenvolvidos e
acrescentem a avaliação por meio da monitorização residencial da pressão
arterial (MRPA) a fim de contemplar o comportamento dos níveis de pressão
arterial fora do ambiente ambulatorial após realização do exercício físico
aeróbico.
Conflitos
de interesse
Não há
conflitos de interesses entre os autores que fazem parte desta pesquisa.
Fontes
de financiamento
Esta
pesquisa foi desenvolvida com os recursos dos próprios autores, não recebeu
fomento de instituições de pesquisa.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Barcelos LR; Análise e interpretação dos dados: Barcelos LR, Veiga EV; Redação
do manuscrito: Barcelos LR, Veiga EV; Revisão crítica do manuscrito
quanto ao conteúdo intelectual importante: Barcelos LR, Bachur
CK, Pereira BC, Veiga EV