O autocuidado é imprescindí­vel para lí­deres de equipe e profissionais de saúde

Autores

  • Walmir Cedotti USP

DOI:

https://doi.org/10.33233/fb.v20i4.3220

Resumo

Burnout ou Sí­ndrome por Exaustão Profissional é o resultado de largos perí­odos de contato com as contí­nuas pressões frente às ameaças vindas de fora, como por exemplo, o ambiente profissional, que pode tornar-se a fonte de circunstâncias geradoras de emoções, sentimentos e de uma gama de pensamentos que podem abater o corpo, afetar as relações de trabalho e da vida pessoal.

O organismo humano foi capacitado para viver diferentes experiências que demandam diferenciados ní­veis de respostas, todas elas ativam um sistema de retornos que integram o fí­sico, o psí­quico, o social a uma forma consciência do que acontece, provocando mais ou menos pressão interna, pois o organismo está exposto a uma gama diversificada de estí­mulos dos quais a maior parte deles relacionados às expectativas frente ao desconhecido.

Diante do que desconhecemos somos impelidos a criar estratégias para sobreviver. O auto-domí­nio, o controle emocional, o pensamento claro e a disposição para o enfrentamento frente aos múltiplos ní­veis do que podemos chamar de ameaça, real ou imaginária, vivenciamos no corpo em sua totalidade como descrevemos acima, e este por sua vez é impelido a reagir para se defender, na fuga ou no confronto com o inesperado. No entanto, no mundo de imprevisibilidades e mudanças tão velozes em que vivemos, os perí­odos de tensão frente ao novo parecem ter se estendido, provocando a sensação de serem ininterruptos e certas vezes até esmagadores, exigindo maior contato e apropriação com nossos recursos internos de enfrentamento.

As profissões que lidam com o sofrimento alheio apresentam maior necessidade de controle emocional e autoconhecimento, devido aos desgastes inerentes aos sentimentos muitas vezes paradoxais presentes no contato com a dor, seja fí­sica ou psí­quica, fator que pode desencadear e acelerar o processo de adoecimento do cuidador.

 Diferentes profissionais de saúde estão expostos í  doença, independentemente da área de atuação ou especialidade. Estudos demonstram que os riscos de desenvolvimento de burnout e estresse são eminentes dentro da área da saúde [1]. Shanafelt et al. [2], relata que um terço dos médicos oncologistas experienciam um significante grau de burnout na carreira. Morse et al. [3], constataram em uma série de pesquisas, o acometimento de burnout em 21% a 67% dos profissionais que trabalham com saúde mental. Estes dados revelam alto ní­vel de acometimento da doença nos profissionais de saúde.

Rotinas desafiadoras no contato com a transitoriedade e finitude da vida podem ser disparadoras de sinais como exaustão emocional, despersonalização, desmotivação e redução do compromisso profissional são recorrentes, com estes sintomas como angústia, depressão, humor variável, irritação, insônia e pânico podem surgir.

Diante deste cenário, os profissionais da área da saúde e lí­deres de equipe precisam estar atentos í  sua saúde. Perceber os sinais de cansaço mental, instabilidade emocional ou dificuldades nas relações sociais são determinantes para buscarem algum ní­vel de ajuda na melhoria da relação consigo mesmo e com tudo o que o cerca.

A importância de reverem os seus hábitos e a maneira como pensam e sentem o mundo, pode ajudá-los para produzir novos significados frente aos imprevistos e desafios que despontam. O autocuidado pode iniciar com a leitura dos sinais do corpo, emoção, mente e espí­rito.

Quando realizado conscientemente, ou seja, tempo de repouso, alimentação balanceada, busca do sagrado, atividade fí­sica e relacionamentos construtivos, pode fazer emergir uma realidade de maior unidade consigo mesma e percepção das necessidades do corpo, emoções e mente. Por isto, precisamos buscar o autocuidado na perspectiva de que temos outras tantas pessoas para cuidar com excelência técnica e relacional.

A atuação de forma preventiva na relação dos lí­deres e sua equipe ou profissionais de saúde com seus pacientes passa primeiramente pela experiência de autocuidado do cuidado que envolve:

 

  • Planejar as suas atividades administrando bem o tempo para respeitar os horários de atendimento a seus pacientes e clientes.
  • Atendimento humanizado por meio de uma escuta compassiva, ouvindo com atenção e de forma empática.
  • Comunicação clara, como utilizar linguagem não técnica, simples e compreensí­vel ao paciente, ler o não verbal e a checagem do que o interlocutor compreendeu.
  • Planejar o tratamento, tornando claro quais os próximos passos para a melhora dos sintomas, posicionando o paciente sobre as fases do cuidado e como ele pode participar ativamente do processo.

 

Para tornar realidade os pontos acima descritos, o profissional de saúde, neste caso o fisioterapeuta que lidera a sua prática, precisa estar bem consigo mesmo, com seus colegas, equipe e liderança, com o genuí­no desejo de se auto cuidar, crescer e aprender sempre mais.

Biografia do Autor

Walmir Cedotti, USP

Psicanalista Clí­nico e Analista Institucional no Desenvolvimento de Equipe e Liderança do Instituto Central HCFMUSP e ICESP

Referências

Lorenz VR, Benatti MCC, Sabino MO. Burnout e estresse em enfermeiros de um hospital universitário de alta complexidade. Rev Latino-Am Enferm 2010;18:1-8.

Shanafelt T, Chung H, White H, Lyckholm LJ. Shaping your carrer to maximize personal satisfaction in the practice of oncology. J Clin Oncol 2006;24(24):4020-6. https://doi.org/10.1200/jco.2006.05.8248

Morse G, Salyers MP, Rollins AL, Monroe-De Vita M, Pfahler C. Burnout in mental health services: a review of the problem and its remediation. Adm Policy Ment Health 2012;39(5):341-352. https://doi.org/10.1007/s10488-011-0352-1

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Publicado

2019-09-03

Edição

Seção

Caderno Gestão e Inovação em serviços de saúde