Armadilhas do open-access
DOI:
https://doi.org/10.33233/fb.v15i3.332Resumo
Não se passa semana sem receber convites para publicar em uma revista científica eletrônica, especializada em um domínio hiperespecífico do saber humano. Acredito, amigo leitor, pesquisador, professor e assinante, que recebe mais propostas para publicar ou revisar, porque eu, simples editor, não participo de pesquisa nenhuma...
Inspirado por essas propostas extravagantes, John Bohannon, jornalista da renomada revista Science, tive a ideia de enviar um (falso) artigo sobre uma molécula ativa contra o câncer, assinado pelo (falso) professor de biologia Ocorrafoo Cobange do (falso) Instituto Wassee de Medicina de Asmara (Eritreia) [1]. Apesar de erros elementares, que poderiam ser detectados por um aluno de colégio, o artigo foi aceito por mais de 150 revistas, geralmente sem nenhuma avaliação ou revisão, incluído por editoras prestigiosas.
Esta experiência, que não é a primeira, é a consequência da corrida para a criação de novas revistas científicas – milhares delas apareceram nestes últimos anos no mundo tudo – e da pressão para publicar. O open-access e a divulgação generosa e gratuita do saber científico podem ser no futuro mais um problema de que uma solução.
O fator de impacto, método de classificação das revistas pelo número de citações em outras revistas, é um sistema de avaliação que deveria limitar essa proliferação e favorecer as melhores revistas, mas é também bastante criticado. Aliás, algumas revistas brasileiras, e não das piores, foram acusadas no ano passado de desenvolver um sistema de citações cruzadas para aumentar artificialmente este famoso fator e foram temporariamente excluídas da avaliação. Entretanto, esse autocontrole não resolve muita coisa se o objetivo é melhorar a qualidade da ciência brasileira: neste ano 2014, o melhor fator de impacto foi obtido por uma revista brasileira sediada em Londres, publicada por editor alemão, que edita artigos internacionais dos quais 10% são genuinamente brasileiros.
A corrida para a visibilidade internacional não pode se substituir ao dever de casa, que é de promover a qualidade dos projetos e resultados de pesquisas.
Referências
Bohannon J. Science 2013:342(6154):60-5.
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