Meu pseudônimo e eu
DOI:
https://doi.org/10.33233/fb.v12i2.803Resumo
Como pesquisadores e professores de curso de pós-graduação Stricto Sensu (mestrado e doutorado), somos obrigados a fazer o nosso dever de casa, dentre os quais se destacam o de escrever e publicar artigos científicos.
Para a grande maioria dos pesquisadores o ato de escrever artigos científicos representa a primeira experiência como artífices das palavras, mas possui, entretanto, uma característica muito peculiar: somos, enquanto escritores, pesquisadores narradores que utilizamos um material linguístico que fala para um leitor invisível, um leitor impessoalizado. Não precisamos, nesse caso, fundamentar os personagens, simplesmente porque eles não existem. O que escrevemos, como autores científicos, quando chega aos nossos leitores não se transformam em imagens que os remeterão a um ou mais universos, universos estes que mexerão com as suas emoções, os seus sentimentos, os seu medos e com tudo aquilo que a sua mente seja capaz de elaborar. Talvez um artigo que revelasse a descoberta de um meteoro em rota de colisão a terra ou uma pesquisa que identificasse a mutação de um vírus cuja letalidade nos mandaria para o além, fugisse ao que acabei de dizer.
Como bom geminiano que sou, achei que era hora de mudar, de fazer incursões mais ousadas e aventurar-me no campo da ficcionalização. A mudança não foi repentina, porque a maior parte dos editorais que escrevi, nesses últimos doze anos, para Fisioterapia Brasil foram pautadas por criticas í sociedade, fugindo da estrutura de artigos científicos e serviram como uma ponte que me levou ao mudo ficcional. O meu primeiro romance De escritores, fantasmas e mortos (Ed. Livre Expressão), escrito sob o pseudônimo de Paul Lodd, trata da flânerie e da violência das urbes atuais, onde a multidão já não é mais um refúgio para o flâneur dos chamados tempos pós-modernos e aonde, nessa atmosfera, os impasses se multiplicam. Surge, assim, uma nova figura do baladeur que perambula por múltiplos espaços, geográficos e virtuais, como um observador anônimo em constante deslocamento. O livro pretendeu fazer com que a literatura, com seus escritores, personagens e projetos, se transformassem em um grande espaço, onde sonho e realidade duelavam entre si. Espero ainda que pelas ruas do texto do livro, os leitores possam ser conduzidos a reconstruir o olhar hesitante do flâneur, dividido entre o horror e o encantamento, entre o pesadelo e o sonho.
Se você me perguntar, mas porque o pseudônimo? Eu daria a mesma reposta que dei para um crítico literário norte americano especialista em literatura portuguesa, o professor Russel Hamilton da Vanderbilt University e emérito da Yale (os comentários dele e de outros críticos podem ser vistos em "Bloco de Notas" do site: www.paul-lodd.fr): não sei, mas conselhos para que eu abandonasse a ideia do pseudônimo não me faltaram.
Os meus amigos praticamente me suplicaram: assine o livro com o teu próprio nome. Não foi pelo meu nome, enfim ele não é tão comum e ordinário. Eu mesmo já me perguntei se estaria com vergonha dele. Mas depois pensei: afinal não fui batizado como Dezêncio Feverêncio de Oitenta e Cinco ou Fridundino Eulâmpio. E sei que esses nomes existem, e os seus donos, tenho a certeza, se um dia escrevessem um livro, não usariam um pseudônimo.
Não envergonhariam os seus pais, ou seja lá quem quer que lhes tenha dado essas barbaridades alcunhativas. Portanto, a vergonha do nome em si não se aplicava ao meu caso. Seja lá como for, Inês é morta. Talvez no segundo livro, já a caminho ("Meu pseudônimo e eu") eu assine o livro com o meu próprio nome.
Ass. Paul Lodd, Marco Antonio ou.....? Fica a seu critério.
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