Transgênero no esporte, há evidências robustas?
DOI:
https://doi.org/10.33233/rbfe.v18i3.3500Abstract
É uma grande honra escrever o editorial dessa renomada revista e essa honra vem acompanhada de uma grande responsabilidade. Essa responsabilidade nos traz a abordar um tema que merece atenção e investigação de cientistas e fisiologistas do esporte, que é o atual corpo de evidência sobre o Transgênero no Esporte.
O universo das Ciências do Esporte tem sido percorrido por debates que ultrapassam o "˜simples" entendimento em relação aos fatores relacionados ao desempenho. A evolução nesse campo científico, dá-se em boa parte pelos próprios avanços decorrentes da revolução tecnológica e científica, mas amplia-se também a partir do momento em que a sociedade se sente parte integrante desse "˜mundo"™ tão palpável e distante, ao mesmo tempo. Como consumidores primários desse espetáculo, essa díade acaba por alterar as duas partes relacionadas, de modo que os últimos debates (iniciados justamente a partir das mudanças na sociedade vigente) têm tendenciado uma alteração no formato de se ver e entender o esporte a partir da participação de transgêneros nessas práticas: Há ou não vantagem no esporte de alto rendimento? Há evidências robustas que embasem a participação dos transgêneros?
Inicialmente o teste cromossômico foi adotado para assumir a divisão entre as categorias feminino e masculino no esporte, contudo, algumas alterações gênicas podem modificar a distribuição dos cromossomos e assim se mostraram ineficientes para diferenciação de gênero no esporte [1]. Em 2004 foi promulgado pelo Comitê Olímpico Internacional a participação dos atletas trans a partir de um documento chamado Consenso de Estocolmo, esse consenso antecede a estudos que investigam a influência do período de transição hormonal dos atletas trans [2], o que mostra a decisão em caráter político/social e não científica/fisiológica.
Duas importantes investigações dão início a essa fundamentação científica para nortear a inclusão dos transgêneros no esporte. Inicialmente, tem-se os estudos de Gooren e Bunck [3], seguidos pelo trabalho de Harper [4]. Nesse contexto, vale a pena destacar que ambos apresentam limitações importantes, das quais podem ser citadas: amostra (tipo e quantidade), modelo de estudo, modalidade investigada e conflito de interesse dos autores. Contudo, diversas áreas científicas têm investigação em estudos limitados metodologicamente, que caracterizam apenas o início das suas investigações.
Não obstante, torna-se imprescindível a análise da temática a partir de duas óticas: 1) quais os fatores relacionados ao desempenho no esporte (aspectos genéticos, fisiológicos e ambientais, relacionados às oportunidades de práticas e demandas impostas ao esporte de alto rendimento) e como eles poderiam (ou não) estar associados a uma sobreposição do homem ou mulher trans na prática esportiva; 2) quais as implicações em relação aos aspectos sócio-político-culturais dessa (não)participação: qual o peso dessas decisões na sociedade atual?
Equalizar questões endócrinas ou mesmo aquelas relacionadas a composição corporal, não serão suficientes para extinguir vantagens antropométricas. Do campo de estudos voltados para a fisiologia emergem a necessidade da realização de pesquisas longitudinais, direcionadas para a relação na remissão da produção de testosterona, IGF-1 e hemoglobina após período de transição. Quanto a desempenho, necessita-se de investigações em modalidades que a força e suas capacidades relacionadas sejam predominantes.
Em adendo, é importante salientar que a equidade de condições é premissa básica do esporte de alto rendimento. Expandir a discussão e pesquisas (quantitativas e qualitativas) sobre o tema se faz fundamental para tomar decisões baseadas em evidências.
Posto isso, aconselho fortemente a leitura na íntegra dos artigos citados nesse editorial.
References
Elsas LJ, Ljungqvist A, Ferguson-Smith MA, Simpson JL, Genel M, Carlson AS, Ferris E, de la Chapelle A, Ehrhardt AA. Gender verification of female athletes. Genet Med 2000;2(4):249-54. doi: 10.1097/00125817-200007000-00008
Ljungqvist A, Cohen-Haguenauer O, Genel M, Simpson J, Ritzen M, Fellous M, Schamasch P. Statement of the Stockholm consensus on sex reassignment in sports. 2003. https://www.olympic.org/Documents/Reports/EN/en_report_905.pdf
Gooren LJ, Bunck MC. Transsexuals and competitive sports. Eur J Endocrinol 2004;151(4):425-9. doi: 10.1530/eje.0.1510425
Harper J. Race times for transgender athletes. Journal of Sporting Cultures and Identities 2015;6(1):1-9. doi: 10.18848/2381-6678/CGP/v06i01/54079
Published
Issue
Section
License
Copyright (c) 2019 Ezequias Pereira-Neto, Mabliny Thuany
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Authors who publish in this journal agree to the following terms: Authors retain the copyright and grant the journal the right of first publication, with the work simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution License which allows the sharing of work with acknowledgment of authorship and initial publication in this magazine; Authors are authorized to assume additional contracts separately, for non-exclusive distribution of the version of the work published in this journal (eg, publish in an institutional repository or as a book chapter), with acknowledgment of authorship and initial publication in this journal; Authors are allowed and encouraged to publish and distribute their work online (eg, in institutional repositories or on their personal page) at any point before or during the editorial process, as this can generate productive changes as well as increase impact and citation of published work (See The Effect of Open Access).