Exercí­cio resistido na doença do neurônio motor

Autores

  • Marco Orsini UFF
  • Manuel Leite Lopes
  • Victor Hugo Bastos UFPI
  • Silmar Teixeira UFPI
  • Marcos RG de Freitas UFRJ
  • Mauricio de Sant'Anna Jr IFRJ

DOI:

https://doi.org/10.33233/fb.v19i2.2292

Resumo

Apesar do grande avanço cientí­fico, tecnológico e da comunicação mais eficiente entre a equipe multiprofissional de saúde, a prescrição do exercí­cio resistido para pacientes com doença do neurônio motor, também conhecida como esclerose lateral amiotrófica (ELA) ainda está em voga e necessita de esclarecimentos. As discussões giram em torno da real compreensão entre os aspectos inerentes a prescrição e principalmente ao custo-benefí­cio da realização do exercí­cio resistido.

É consenso entre os autores que existem importantes alterações no metabolismo oxidativo em pacientes com ELA, em especial ao ní­vel do músculo esquelético. Tais efeitos afetam profundamente a capacidade de exercí­cio.

Os resultados pioneiros quanto aos efeitos do exercí­cio resistido na ELA foram descritos por Drory et al. em 2001 [1]. Um programa de intensidade moderada foi realizado pelos pacientes (em domicí­lio) por perí­odo de quinze minutos, duas vezes ao dia. Após três meses foi possí­vel verificar melhora funcional no grupo que realizou o exercí­cio resistido (utilizando a Functional Rating Scale e escala de espasticidade de Asworth). Entretanto, não foram evidenciadas diferenças na força muscular e nos relatos de fadiga, além de qualidade de vida.

Outro elegante estudo foi o conduzido por Bello Haas et al. [2] utilizando um protocolo de exercí­cio resistido recomendado pela American College of Sports Medicine. Os portadores de ELA foram alocados de forma aleatória em dois grupos: (1) programa individualizado de exercí­cio resistido (domiciliar), três vezes por semana, associado a um programa diário de alongamentos; (2) grupo controle que realizava somente o programa diário de alongamentos. Após seis meses o grupo submetido ao protocolo de exercí­cio resistido apresentou melhora na Functional Rating Scale e qualidade de vida.

Tais relatos fizeram com que Chen et al. [3] descrevessem esses dois trabalhos como os que possuí­am melhor ní­vel de evidência cientifica até então, e sugeriam que exercí­cios resistidos individualizados, cuidadosamente monitorados e com carga progressiva são recomendados para melhora funcional de pacientes com ELA, nos estágios iniciais.

Porém Bello-Haas & Florence [4] ao realizarem uma revisão sistemática objetivando investigar os efeitos do exercí­cio resistido em pacientes com ELA encontraram um pequeno número de estudos, e os existentes apresentam um número reduzido de sujeitos, não sendo possí­vel afirmar se os exercí­cios resistidos são benéficos ou prejudiciais a essa população.

Apesar de encorajarmos a realização do exercí­cio resistido nos estágios iniciais da ELA acreditamos que a recuperação da atividade proposta também deve ser observada. O consumo de oxigênio pós-exercí­cio (efeito EPOC) deve ser considerado uma vez que a "dí­vida" metabólica assumida para excussão do exercí­cio levará um maior tempo para ser "paga" em virtude dos danos no metabolismo oxidativo, o que pode acarretar em um importante desequilí­brio entre anabolismo e catabolismo, passando nesse momento o exercí­cio a ter um papel prejudicial, ao invés de colaborar na manutenção das atividades diárias e qualidade de vida como salientado recentemente por nosso grupo [5].

Biografia do Autor

Marco Orsini, UFF

Programa de Mestrado e Doutorado  em Ciências da Reabilitação - UNISUAM, Rio de Janeiro,  Programa de Mestrado em Ciências Aplicadas í  Saúde, Universidade Severino Sombra, Rio de Janeiro

Manuel Leite Lopes

Clinica Sinapse, Rio de Janeiro/RJ

Victor Hugo Bastos, UFPI

Universidade Federal do Piaui, Departamento de Fisioterapia

Silmar Teixeira, UFPI

Universidade Federal do Piaui, Departamento de Fisioterapia

Marcos RG de Freitas, UFRJ

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Disciplina de Neurologia

Mauricio de Sant'Anna Jr, IFRJ

Instituto Federal do Rio de Janeiro – IFRJ

Referências

Drory VE, Golstman E, RezinikJG et al. The value of muscle exercises in patients with amyotrophic lateral sclerosis. J Neurol Sci 2001;191(1-2);133-7.

Bello Haas VD, Florence JM, Kloss AD et al. A randomized controled trial of resistence exercise in individuals with ALS. Neurology 2007;68(23):2003-7.

Chen A, Montes J, Mitsumoto H. The role of exercice in amyotrophic lateral sclerosis. Phys Med Rehabil Clin N Am 19:545-57.

Dal Bello-Hass V, Florence JM. Therapeutic exercise for people with amyotrophic lateral sclerosis ormotor neuron disease. Cochrane Database Syst Rev 2013;(5):CD005229.

Orsini M, Sant’ Anna Jr M, Freitas MRG, Bouzada MF, Lopes ML, Oliveira AB. Exercício terapêutico na esclerose lateral amiotrófica: o que esperamos da relação anabolismo vs. catabolismo? Fisioter Bras 2018;19(1):1-2.

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Publicado

2018-05-11