Comparação da avaliação neurológica e movimentos gerais de bebês de risco em diferentes momentos
DOI:
https://doi.org/10.33233/fb.v24i6.5434Palavras-chave:
recém-nascido prematuro, desenvolvimento infantil, avaliação da deficiência, fatores de riscoResumo
Introdução: O desenvolvimento do cérebro acontece por uma constante interação entre fatores genéticos, biológicos e ambientais. Seu processo de maturação é extremamente sensível, e caso não ocorra em sintonia, podem ocorrer lesões cerebrais no encéfalo imaturo que desencadeiam um conjunto de desordens permanentes do movimento e da postura. Assim, percebe-se que o diagnóstico precoce de alterações do desenvolvimento é imprescindível para que a intervenção possa iniciar o quanto antes, otimizando os resultados, melhorando as competências funcionais, diminuindo os prejuízos na vida futura destes bebês, e serve para basear ações das equipes profissionais dedicadas à estimulação e ao acompanhamento do desenvolvimento infantil. Objetivos: Comparar a avaliação neurológica e os movimentos gerais de bebês de risco com 40, 52 e 64 semanas de idade gestacional (IG). Métodos: Bebês de risco nascidos em hospital materno infantil de referência foram avaliados quanto ao seu comportamento neuromotor através das escalas: “Hammersmith Neonatal Neurological Examination (HNNE)”, “Hammersmith Infant Neurological Examination (HINE)”, “General Movements Assessment (GMA)” ao completarem 40, 52 e 64 semanas de IG. Os dados serão correlacionados e analisados de forma descritiva. Resultados: 33 bebês de risco foram avaliados nas 40, 52 e nas 64 semanas, ou seja, até os seis meses de idade corrigida. Predominou sexo masculino (75,8%), parto cesáreo (51,5%) e raça branca (60,6%). Apgar com mediana nove, média de cinco consultas pré-natal e média de IG de 35,8 semanas. Prematuridade e sífilis congênita foram os principais diagnósticos encontrados. 30,3% realizaram exame de neuroimagem, destacou-se a ecografia cerebral com resultados normais. Predominou “avaliação alterada” na HNNE e HINE nos três momentos avaliativos para bebês a termo, principalmente para bebês com sífilis congênita, e “adequada” para os prematuros. Na avaliação GMA e quanto à presença de fidgety, houve maior frequência da classificação “subótima” e a maioria apresentou fidgety. Na comparação longitudinal entre os três momentos avaliados utilizando as escalas HNNE/HINE, verificou-se que houve diferença significativa entre o primeiro e o terceiro momento avaliativo (p = 0,029), onde os bebês melhoraram a classificação. Houve associações positivas de resultados entre as escalas HNNE/HINE com pontuações em diferentes variáveis. Conclusão: Os bebês de risco apresentaram pontuações alteradas nas avaliações neurológicas, o que indica atraso no desenvolvimento. Crianças em risco ou atraso no desenvolvimento neurológico podem apresentar restrições em atividades e participação com comprometimento de sua qualidade de vida e até mesmo das aprendizagens escolares. Portanto, é de extrema importância a inclusão de escalas padronizadas durante a triagem neonatal na rotina da Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal (UCIN), por serem altamente fidedignas e de baixo custo, de forma que possa oportunizar a identificação precoce de alterações neurológicas e assim intervir precocemente, potencializando o desenvolvimento.
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