O reino dos fins ou o reino dos meios?
DOI:
https://doi.org/10.33233/fb.v11i1.1322Abstract
No conto A Cartomante, Machado de Assis soube, como ninguém, criar uma atmosfera onde a ingenuidade, a malicia, a sinceridade e hipocrisia nos são trazidas através de uma narrativa onisciente que usa intertextualizações literárias.
Se tivesse que estruturar um conto ou uma novela amparada na assistência que a humanidade dá às vitimas de grandes catástrofes, utilizaria esses mesmos quatros ingredientes que Machado utilizou em seu conto: a ingenuidade, a malicia, a sinceridade e a hipocrisia. Os meus personagens estariam assim caracterizados.
O personagem ingênuo vestiria a camisa dos que acham que todas as pessoas prestam a solidariedade, movidas pelo desejo puro e simples de ajudar o semelhante. O personagem sincero faria homenagem í queles cujas ações são o resultado da mais pura bondade. Os personagens hipócritas e maldosos estariam destinados para os que se valem da situação para tirar proveito próprio.
A historia estaria ambientada no terremoto que vitimou milhares de haitianos e mobilizou vários países, que imediatamente providenciaram os mais diversos tipos de auxilio.
           Prestaria especial atenção na intervenção dos Estados Unidos, seja porque ainda são o país mais poderoso do universo, seja porque impuseram uma serie de medidas restritivas í mobilidade de outros países que também se propuseram a prestar solidariedade e ajuda.
Para a imprensa a rápida intervenção do Tio Sam teria sido para apagar da memória dos americanos o tardio auxilio que o governo Bush ofereceu às vitimas do Katrina, furacão que vitimou e tirou do mapa turístico a cidade de Nova Orleans. Tal fato não poderia ser desprezado.
Para dar um substrato filosófico a minha historia começaria a refletir sobre os motivos que nos levam nesses momentos a fazer o bem, desenvolvendo ações minimizadoras dos sofrimentos de povos atingidos por catástrofes.
Buscaria apoio em Fundamentação da Metafísica dos Costumes, onde Kant diz: as leis regem a natureza, mas as nossas vontades são regidas pelos nossos princípios. Para Kant, na natureza cada coisa atua seguindo certas leis. A vontade seria uma razão pratica que obedece a certos imperativos e dá ao ser racional a faculdade de operar essas leis. Esses imperativos podem ser categóricos ou hipotéticos. Se a ação é boa somente como meio para uma outra coisa, o imperativo é hipotético, mas se ação é boa em si o imperativo é categórico. O único imperativo moral é o categórico, porque é o único que atua por dever. Das quatro formulações que Kant faz para o imperativo categórico a mas famosa é : Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. No entanto, a que mais conviria para o meu conto seria a formulação que ele faz a seguir: O reino dos fins é o único que possui dignidade que vale para todos os homens. Neste reino o homem tem valor em si mesmo e não segundo as suas exclusivas e providenciais circunstâncias. O reino dos fins é instaurado pela boa vontade, por uma vontade pura, desinteressada e não corrompida por inclinações.
No conto de Machado a intertextualidade é feita com Hamlet, de Shakespeare, através da conversa entre Rita e Camilo. No meu conto haveria, dado a natureza da questão, uma remissão para Baudelaire, Flaubert e Rubens Fonseca.Â
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