Espelho, espelho meu

Authors

  • Marco Antônio Guimarães da Silva UFRRJ

DOI:

https://doi.org/10.33233/fb.v9i2.1835

Abstract

A Revista Fisioterapia Brasil já está consagrada no meio acadêmico-profissional, e destaca-se como um dos melhores vetores de divulgação da produção cientifica do Brasil e da America Latina. Apesar de ter a consciência de tal acontecimento, sempre me inquietou desconhecer como os nossos leitores enxergam o nosso periódico.

Dando continuidade a meu habitual estilo de digressão, adotado em quase todos os editoriais que escrevo, me amparo na relação que há entre o sujeito olhado, representado aqui pela revista e o sujeito que olha, cuja representação cai no nosso leitor. Essa percepção é construí­da por uma dualidade em que às vezes se pode conceber uma idéia mas não, necessariamente, percebê-la. Na condição de sujeito olhado, talvez pudesse acrescentar algo e referendar o meu pequeno discurso através da analise fenomenológica do ato fotográfico. O cenário para tal referendo poderia ser uma bela manhã ensolarada, representada por uma conjunção de fatores que congrega árvores, flores e uma luz, cujo belo e harmonioso conjunto posariam para minha pupila e retina, como se estivessem posando para a minha Rolleiflex. A imagem que captaria naquele momento seria uma emanação do referente tal e qual momentaneamente a foto registra. Como em um retrato familiar, em que todos se preparam para o click, pareceria que ali, naquele momento, a natureza havia acabado de sair, mais bela do que nunca, de um salão de beleza. Percebeu-se olhada e preparou-se para tal. A nossa revista vem, analogamente, se preparando para as vinte mil humanas lentes fotográficas de nossos assinantes, seja pela qualidade de seus artigos, seja pela excelente composição gráfica que apresenta.

Sabemos que a fotografia não representa o que não é mais, mas tão somente aquilo que foi. Os artigos que publicamos, resultados de experiências cientificas de seus autores, representam aquilo que foi, na ótica de pesquisa realizada; mas também, e principalmente, representam aquilo que poderá ser, através dos benefí­cios da inserção de seus resultados na sociedade.

Na condição de sujeito que olha, me amparo em uma pequena parte de um texto de um antigo editorial. Nesse texto recorri ao primeiro capí­tulo do livro As palavras e as coisas (Foucault,1966). O filósofo faz um estudo do quadro Las Meninas, de Velásquez, no qual o pintor apresenta os personagens desde várias perspectivas e como protagonistas de um jogo de esconder e revelar, que oferece vários ângulos: o quadro pode ser visto a partir do espectador, a partir do rei ou a partir do pintor, mas com a particularidade de que cada personagem vê o quadro desde uma perspectiva distinta e, ao mesmo tempo, vê o que o outro não pode ver, sem ser visto pelos outros. O que destaca Foucault e o que nos interessa destacar no presente editorial são os múltiplos planos existentes nesse quadro: o ní­vel de percepção que Velásquez simboliza com a luz que penetra pela janela retratada no quadro e o ní­vel de linguagem, ambos distintos e seguindo suas próprias leis.

O que nos interessa saber é o que você, enquanto sujeito que olha, consegue ver e que ainda não foi percebido por nós.

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Published

2018-01-24