O ponto de partida

Authors

  • Marco Antônio Guimarães da Silva UFRRJ

DOI:

https://doi.org/10.33233/fb.v9i6.1841

Abstract

Ha alguns dias, o editor executivo da Fisioterapia Brasil e eu conversávamos sobre alguns artigos que, ainda que amparados em excelentes idéias, não foram aceitos para publicação, por apresentarem duvidosas evidências em seus resultados

Como ex-professor de disciplina, no stricto sensu, ligada í  evidência cientifica e trabalhando com pesquisa desde 1975, tenho sido um critico fervoroso às investigações cientificas cujos achados devem ser interpretados com muita cautela, tamanha a quantidade de vieses presentes.

O tema da conversa - rejeição de artigos - me fez refletir sobre o assunto e buscar uma alternativa, para não sepultar a idéia que o autor não soube, ao executar e publicar o seu trabalho, desenvolver segundo as convenções e normas cientificas impostas pela comunidade acadêmica.

Como fazer digressão tem sido o meu forte, farei uma leitura tendenciosa e circunstanciada da seguinte colocação feita por Santo Agostinho: "O ponto de partida para a verdade não está na razão, mas sim na fé que precede essa razão". Observando-se que os fatores extrí­nsecos e intrí­nsecos, relacionados í  investigação, não constituirão impeditivos í  execução do trabalho eu diria, em substituição ao que nos disse o teólogo - filósofo: o ponto de partida não está na perfeita execução do trabalho, mas antes na originalidade e simplicidade da idéia e tema que precedem essa execução!

Sabemos, todos os que trabalhamos na orientação de alunos de doutorado, das dificuldades que esses alunos encontram para a escolha do seu tema. Não fosse a intervenção do orientador, muitos teriam desistido, ou seja: ter uma boa idéia para um trabalho cientí­fico nem sempre é muito fácil! Seria justo abortar a publicação de um trabalho que encerra uma idéia interessante, mas não atende às evidências impostas pelo mundo acadêmico? Por outro lado, é justo publicar um trabalho com uma concepção criativa medí­ocre, mas que atende às citadas normas?

A ciência quantitativa submete as suas comprovações a testes de hipóteses e se ampara fundamentalmente nas relações de causalidade. Uma causalidade que serve para estabelecer uma correlação e para registrar acontecimentos aparentemente desconexos em um enredo de prospecção e retrospecção temporal.

O conhecimento cientí­fico tem que ter relação com regras de comunidades cientí­ficas que não admitem equí­vocos, ou com um sistema que admita possibilidade da produção de erros e de sua superação? Os erros aqui descritos não se contextualizam dentro dos ní­veis de significância que estabelecemos no trabalho cientifico; são conceitualmente os erros tidos como vieses e que podem comprometer as relações de causalidade. O problema maior reside no fato de que se o trabalho enviado para a publicação não apresentar as tais evidências ele é rechaçado. O que fazer?

Talvez buscar inspiração em Popper (Conjecturas e Refutações) e deixar de lado a atitude dogmática e limitadora de só aceitar como leis aquelas que foram verificadas, e consentir, provisoriamente, o que ainda não foi comprovado. Não considerar que o erro seja um defeito, mas um momento necessário do desenvolvimento do trabalho.

Há alguns anos, participei de um encontro na UFSCar que reuniu os editores cientí­ficos das revistas de fisioterapia. Sugeri, nesse encontro, que houvesse uma avaliação critica ao final de cada artigo publicado. A análise que então propusera exporia os principais "erros" encontrados no trabalho e as sugestões, para que efetivamente as relações causais pudessem ser evidenciadas de fato.

A sugestão não prosperou, mas talvez seja a hora de ressuscitá-la e dar oportunidade para í queles que, longe do seio acadêmico, possam, ainda que com erros e imperfeições, trazer as suas contribuições.

Published

2017-12-30