A voz do povo é a voz de Deus.......será?
DOI:
https://doi.org/10.33233/fb.v8i1.1844Abstract
Antes que se faça alguma interpretação ou leitura equivocada de minha opinião sobre a afirmação de Popper (Karl Raimund Popper, 1920-1996) que, com a retirada da indagação, acaba por ser o título do presente editorial, quero confessar que, apesar de tudo, ainda sou um democrata confesso. A expressão "apesar de tudo" é aqui usada para expressar a desilusão com um sistema que acabou abrigando em seu seio lideres como um Jörg Haider, na Áustria, um Jean Marie Le Pen, na França, e a penca de populistas que parecem florescer como nunca na América Latina. Todos "de um modo ou de outro" eleitos "democraticamente" e dirigentes da sociedade contemporânea.
Mas qual poderia ser a diferença entre os regimes e a sociedade do passado e a democracia supostamente sedimentada no presente. Haveria semelhanças entre ambas? A concepção de sociedade na antiga Grécia encontrava na República (Platão) a sua melhor definição e admitia o mito do destino que condenava essas sociedades a seguir por um caminho previamente traçado pelo visionário de plantão. Platão acaba sendo o paladino desse tipo de sociedade ao defender, em seu modelo de Estado, um governo totalitário. A sociedade que defendia era utópica, esteticista e perfeccionista, identificada com um ideal social abstrato, não levando em conta a natureza do homem e a realidade material do mundo. Para Platão, somente o iluminado pelas idéias poderia dirigir a sociedade para a sua perfeição. Ao povo, não iluminado pela idéia, a República, segundo palavras de Platão, "deverá ensiná-lo a não sonhar nunca, a não atuar com independência e a tornar-se incapaz de fazê-lo."
Esse tipo de sociedade foi denominado por Popper de sociedade fechada e foi defendida na contemporaneidade por Hegel e Marx. A concepção marxista da sociedade, dirigida exclusivamente pela economia, em permanente luta de classe, era formada por uma infra-estrutura material e superestrutura política e cultural, não deixando margem a nenhuma outra interpretação e a qualquer critica externa.
Ou se estava com o Marxismo ou se estava contra ele. Para Popper a sociedade Marxista era utópica, messiânica e mal dirigida por umas profecias que prometiam uma igualdade perfeita. Tal qual a sociedade Platônica, a sociedade Marxista negava a liberdade aos que não pertenciam ao grupo de profetas iluminados. A massa deveria seguir docilmente
a seus lideres. As doutrinas defensoras deste tipo de sociedade pretendiam que a historia fosse dirigida por idéias ou metas fi nais e acabariam, segundo Popper, provocando um anquilosamento social. A solução para o problema, ainda segundo Popper, seriam a liberdade de todo mundo para opinar e contradizer os líderes políticos.
Ao que tudo indica, o Marxismo não mais é o fantasma que apavora a atual e "globalizada" (?) economia e a República parece não ser a bíblia da maioria dos dirigentes, até porque alguns deles teriam dificuldadeem lê-la. O limiar de pobreza, expresso em seus limites máximos em alguns países da África e em quase todos os países da América Latina, e a ingênua credulidade das grandes massas, presentes nessas regiões e em países da Europa e América do Norte, podem estar contribuindo para o surgimento dos populismos abertos ou velados, manejados pelos tiranetes de plantão, travestidos como democratas ou como republicanos.
O resultado para tudo isso: a violação das mais elementares normas da humanidade. Lamentavelmente essa é a realidade do século XXI. E é uma lástima ter que constatar que o real e o ideal não andam de mãos dadas. O nosso ideal submetido í fatalidade modificável da história, acabou por adaptar-se a uma ditatorial e demagógica democracia. Platão nunca esteve tão atual!!
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